Injetável, retatrutida diminui a fome e ajuda a queimar calorias; também melhora diabete ao estimular a produção de insulina
- O Estado de S. Paulo.
- 10 Jul 2023
- THAÍS MANARINI
Apresentada em congresso nos EUA, a retatrutida também atua contra diabete ao estimular ação da insulina.
Diferencial da retatrutida Em relação ao Ozempic e outras drogas, remédio dá um passo além ao atuar em três hormônios diferentes
O último dia do congresso da Associação Americana de Diabetes (ADA), em 26 de junho, reservou uma surpresa aos médicos participantes. Foram divulgados os resultados de fase 2 de um estudo que avaliou o impacto de um novo medicamento injetável, a retatrutida, da farmacêutica Eli Lilly, em 338 indivíduos com sobrepeso ou obesidade. Após um ano de tratamento, a pesquisa constatou uma perda média de peso de 24,2%. Os resultados foram publicados no The New England Journal of Medicine.
“Esses medicamentos estão mudando o paradigma em termos de porcentual de peso eliminado”, afirma o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, que acompanhou a apresentação dos dados. Ele se refere ao time formado ainda por semaglutida (ou Ozempic) e tirzepatida.
Mas a retatrutida dá um passo além. De acordo com o médico, o diferencial da nova molécula é que ela age em três hormônios diferentes: GLP-1, GIP e glucagon. Na prática, significa que aumenta a saciedade, diminui a fome e ainda turbina o gasto metabólico basal – ou seja, ajuda na queima de calorias. Por isso, os resultados na perda de peso se mostram mais expressivos em comparação com remédios que atuam contra a obesidade.
Outro desfecho importante visto nesse grupo foi uma melhora na esteatose hepática, a popular gordura no fígado, que pode originar diversas complicações na saúde, como cirrose e até câncer. Em alguns casos, a redução nesses índices chegou a 82%.
Mas o especialista ressalta que, “embora os resultados sejam extraordinários, estamos falando de estudos de fase 2”. Isto é, a quantidade de participantes é considerada pequena. “Só na fase 3 teremos dados mais confiáveis sobre a segurança. De qualquer forma, podemos dizer que a retatrutida passou pelas primeiras barreiras nesse aspecto”, diz. Até o momento, o efeito colateral mais importante foi náusea – nada muito diferente daquilo registrado com o uso da semaglutida. As pesquisas de fase 3 já estão em andamento.
DIABETE.
A retatrutida também foi avaliada entre pacientes com diabete do tipo 2 – e os dados, publicados na The Lancet, foram igualmente animadores até aqui. Nesse caso, 281 pacientes foram acompanhados por 36 semanas. Houve uma perda média de 17% no peso dos participantes. “Olhando o gráfico, percebemos que se trata de uma queda livre, que não atingiu um platô. Ou seja, se o acompanhamento continuasse, talvez a gente visse uma perda de peso mais expressiva ainda”, disse Couri. Segundo o especialista, outro efeito importante da retatrutida especialmente para esse grupo é que ela estimula o pâncreas a produzir mais insulina, o hormônio que ajuda a tirar o açúcar de circulação e a controlar a diabete. “É importante lembrar que, mesmo entre pessoas que não perdem muito peso, esses medicamentos são excepcionais contra a diabete”, afirma Couri. •
Fonte: O Estado de S. Paulo.