Enquanto o mercado calibra as apostas sobre quando o Banco Central deve iniciar o ciclo de cortes da Selic — entre janeiro e março —, a Adam Capital vai na direção oposta e defende um cenário fora do consenso. Para a gestora carioca, o Banco Central não deve reduzir os juros em 2026.
O economista-chefe da Adam, Juliano Cecílio, inclusive, faz críticas à “convergência muito alta” dos “calls” das casas de mercado em relação a uma redução na Selic em janeiro ou março. “O cenário está muito incerto. É desproporcional essa unanimidade que existe de que o BC vai cortar e de que os juros vão cair rápido.”
“De um lado, o câmbio ajudou muito em 2025, assim como outros fatores, como as tarifas dos EUA, que acentuaram a deflação na China; o clima foi favorável; e houve um recuo nos preços dos combustíveis, com impacto grande direto e indireto no IPCA”, observa Cecílio. E, com tudo a favor para o recuo do IPCA, houve queda relevante da inflação em relação às expectativas mais pessimistas do início do ano.
Agora, com a inflação de serviços ligados à mão de obra ainda pressionada, Cecílio diz ver um ponto de alerta em relação a uma redução nos juros já no início do próximo ano.
Isso se soma à expectativa da Adam de que o crescimento econômico continue a ser forte. “As pessoas estão subestimando o canal do gasto na inflação. Vamos ver o consumo das famílias acelerando muito e a inflação, também. Acho totalmente descabido cortar os juros”, enfatiza Cecílio, ao apontar, ainda, que, embora a economia tenha, de fato, desacelerado, ainda opera acima do nível potencial.
“Se o BC cortar, pode se arrepender da mesma forma como aconteceu em 2023. Depois ficou claro ali que não era para o juro ter caído. Em 2020 reduziram muito e, em 2023, cortaram errado. E, agora, seria um outro processo de queda de juros errado porque não temos um PIB crescendo abaixo do potencial. Vemos isso, também, pela conta corrente, que está ruim e, pelas nossas contas, continuará piorando”, diz o economista.
“Ao mesmo tempo, existe uma perspectiva de reaceleração da economia diante dos estímulos fiscais e parafiscais que vão atuar no início do ano que vem. Não é apropriado cortar juros neste momento.”
Fonte: Valor Econômico

