A Adam Capital, gestora independente fundada por Marcio Appel em 2016, entra em uma nova fase, que inclui a reestruturação de fundos, uma estratégia de renda fixa ativa e decisões de investimento menos centralizadas. O movimento mais recente foi a chegada do sócio Juliano Cecílio, que assumiu na semana passada como economista-chefe da asset, vindo do Banco Safra, onde trabalhou com Appel.
O objetivo das mudanças, diz o gestor, é gerar resultados para os investidores – ou “alfa”, no jargão do mercado. Ele vê “bastante oportunidade de performance” nos próximos 12 a 24 meses. “Todas as mudanças que fizemos, como a recente chegada do Juliano, vão contribuir para sermos capazes de gerar um retorno diferenciado”, diz Appel, em entrevista ao Valor.
O gestor começou sua carreira no Bozano Simonsen e foi CEO da Santander Asset Management. No Safra, ficou de abril de 2008 a outubro de 2015, e tornou-se conhecido como gestor do fundo Galileo. Appel deixou o Safra para retornar ao Rio e abrir sua própria gestora.
A Adam puxou a fila de uma safra de assets independentes, que se multiplicaram no mercado brasileiro à medida que a Selic caiu dos 14,25% ao ano no fim de 2016 até os níveis de 2% ao ano durante a pandemia. A largada coincidiu com um período em que os multimercados já estabelecidos, como os da SPX, Verde e JGP, estavam fechados para captação.
O patrimônio cresceu rápido e chegou perto de R$ 30 bilhões em 2018. Até que veio a greve dos caminhoneiros naquele ano e os fundos não tiveram boa performance. A partir dali, o passivo começou a se ajustar, e o patrimônio da gestora caiu praticamente 90%. Hoje, são R$ 2,9 bilhões sob gestão.
Inicialmente, a Adam tinha dois produtos principais, o Adam Macro, menos arriscado, e o Adam Advanced, que utilizava as mesmas estratégias, mas à época com alavancagem maior. Em 2017, lançou o Adam Macro Strategy, que não operava juros no Brasil. Quando foi criado, a gestora não podia aumentar essa posição por causa dos outros dois fundos.
Algumas estratégias escolhidas para o Strategy atrapalharam o desempenho, reconhece Appel. Conforme o crescimento do patrimônio da Adam, foi montada uma carteira de ações com foco principalmente no mercado americano, como Alphabet (dona do Google), Facebook (atual Meta) e J.P. Morgan.
“Muitas vezes, o resultado de uma empresa ou outra gerava uma volatilidade no fundo que nos forçava a sair de outras posições que se mostravam vencedoras ao longo do tempo”, afirma Appel. Desde o início do ano, a alocação em renda variável passou a ser feita via índices, como Ibovespa no Brasil, S&P 500 nos Estados Unidos, ou o Euro Stoxx.
Em abril, a gestora informou que os fundos da família Adam Macro Strategy não teriam mais a restrição de investimentos no mercado de juros no Brasil. A mudança fez com que o produto ficasse igual aos fundos da família Adam Macro. Agora, o próximo passo, previsto para o fim do mês, será a fusão entre os fundos Macro e Strategy. Além dos fundos tradicionais, há também uma versão de previdência, onde está a maior parte do dinheiro dos sócios.
Em outubro, a Adam lançou uma carteira de renda fixa ativa, nas versões tradicional e de previdência. “Como acho que os juros não vão voltar para patamares tão baixos como vimos recentemente, vamos seguir com uma demanda de parte dos recursos, antes alocados em risco maior, para estratégias mais tradicionais”, diz.
Appel diz não estar tão otimista quanto alguns economistas com a inflação de médio e longo prazos. O gestor considera peculiar o Banco Central cortar os juros quando a inflação está subindo, ainda que ligeiramente, para 2024 e 2025. Cecílio, o novo economista-chefe da Adam, diz que a mais recente ata do Comitê de Política Monetária (Copom) não muda a percepção de que o BC continuará reduzindo os juros de 0,5 em 0,5 ponto. Uma aceleração da queda é improvável. “A inflação corrente, apesar de ter melhorado, não está ainda rodando em patamares compatíveis com 3%”, diz, referindo-se à meta para 2026. A próxima discussão, acredita, deve ser quando o BC vai reduzir o ritmo de queda da Selic. Uma das preocupações da autoridade monetária, endossada pelo economista, é a questão fiscal.
“A taxa real de juros deve ser menor do que hoje o mercado precifica. Gostamos, por exemplo, de papéis vinculados à inflação”, afirma Appel. Quanto à bolsa, o gestor segue pessimista e mantém uma posição vendida, com perspectivas de aumentá-la. “O melhor ativo para Brasil, na nossa opinião, é o real, por causa da situação externa”, completa, citando o impacto positivo na balança comercial puxado pelas commodities.
Quando a Adam foi criada e o mercado era mais favorável – além da enorme liquidez mundial, os juros estavam na casa de um dígito -, havia uma maior participação nas decisões de investimento das pessoas que trabalhavam na gestora. Durante o período de pior performance, houve uma retração dessa dinâmica. Uma das mudanças que vêm sendo implementadas visa retomar a participação individual e da mesa de operações como um todo na geração de ideias e na tomada de decisões. No fim do ano passado, Adriano Fontes, outro colega de Appel da época do Santander, também se juntou à Adam como sócio e gestor. “A própria mesa está em um processo de evolução e amadurecimento desse novo método”, afirma Appel. E, segundo ele, “sem dúvidas”, essa estratégia tem gerado resultados positivos ao longo do ano.
O auge da Adam coincidiu com um “boom” favorável da indústria que combinou os juros baixos com a mudança na distribuição dos investimentos capitaneada pela XP. Essa “combinação perfeita” permitiu o aumento da participação de mercado da Adam e de outros gestores que também estão sofrendo com saques, diz Appel. A gestora e a indústria como um todo vão retomar o crescimento, mas isso não deve acontecer em seis meses ou um ano. O processo, além de mais lento, tende a ser mais estável, acredita. Certo da continuidade de seu projeto, Appel diz que não há dúvidas sobre a perenidade do negócio: “Temos a capacidade de atravessar longos períodos mais complexos de mercado. Estamos tranquilos quanto a esse ponto.”
Fonte: Valor Econômico

