Olaf Scholz: “defensor explícito dos chamados acordos exclusivos da UE” — Foto: Eraldo Peres/AP Photo
O governo brasileiro acredita que o acordo de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul será anunciado na cúpula do bloco sul-americano, em dezembro. Isso porque não haverá tempo para o anúncio nas reuniões do G20, um cenário com o qual as duas partes chegaram a trabalhar. Os encontros do G20 acabam nesta terça-feira (19), no Rio de Janeiro. O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, também defendeu ontem que ambos os lados cheguem a um acerto em breve.
Ao Valor o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, afirmou que a expectativa é que o acordo entre os dois blocos seja anunciado na reunião de cúpula do Mercosul, que será realizada nos dias 5 e 6 de dezembro, no Uruguai. A França continua como o principal foco de resistência, principalmente por causa de possíveis impactos negativos sobre os seus produtores rurais.
Nesta segunda-feira, 18, agricultores franceses voltaram a protestar contra as propostas que estão sendo negociadas. Mas, em entrevista coletiva concedida durante as reuniões do G20, Fávaro afirmou que, “mesmo com a resistência, eles [França] vão acabar recebendo pressão”.
De acordo com o ministro, essa pressão virá “inclusive do bloco [europeu], que tem interesse nessa formalização”. Já discussões internas do Mercosul, como “questionamentos do Paraguai”, foram tratadas e superadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por isso, Fávaro defendeu que “os avanços são bastante animadores para que se chegue a um bom termo” e ressaltou que “nunca estivemos tão perto desse acordo”.
Outra fonte do governo brasileiro envolvida nas negociações aposta em uma última rodada de conversas na semana que vem, nas quais o acordo seria selado para ser anunciado em dezembro, durante o encontro do bloco sul-americano no Uruguai.
Já o chanceler da Alemanha afirmou em entrevista coletiva concedida no G20 que “temos que finalizar o acordo”. Scholz criticou a maneira como estão sendo conduzidas as discussões. Para o alemão, é preciso “abandonar os princípios e a forma como os acordos têm sido negociados [na UE] até agora”.
“Os acordos comerciais foram delegados à União Europeia pelos Estados europeus. Não com a intenção de que isso resultasse em menos acordos, mas sim em mais [acordos]”, disse, pedindo mudanças que possam favorecer mais negócios “exclusivos” ao bloco europeu. “Eu sou um defensor explícito dos chamados acordos exclusivos da UE”, afirmou o chanceler alemão.
No domingo, Lula e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, debateram o tema em reunião bilateral no Rio de Janeiro. Em sua conta na rede social X, von der Leyen afirmou após o encontro que o acordo tem “grande importância econômica e estratégica” para ambas as partes. Em entrevista exclusiva concedida ao Valor em outubro, o comissário europeu para o Comércio, Valdis Dombrovskis, disse que União Europeia e Mercosul têm “uma janela de oportunidade para encerrar as negociações até o fim do ano”.
Dombrovskis é a autoridade europeia à frente do processo. Lula também vem adotando discurso semelhante, tendo afirmado em setembro, por exemplo, que ambas as partes vão “fechar o acordo ainda neste ano, se Deus quiser”.
“Demos continuidade às conversas sobre os esforços para o acordo entre Mercosul e União Europeia”, afirmou o presidente brasileiro em sua conta no X no domingo (17), depois da reunião com a presidente da Comissão Europeia.
Ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que também é entusiasta do pacto, participou no Rio de Janeiro de jantar com o presidente da França, Emmanuel Macron, e de reunião bilateral com o ministro das Finanças francês, Antoine Armand. Haddad afirmou em entrevista ao canal CNBC no domingo que, “se não fosse pela França, talvez esse acordo já estivesse assinado”. Lula e Macron também têm reunião bilateral prevista para acontecer ainda nesta terça-feira (19).
Caso seja concluído, o acordo entre os dois blocos ainda precisará passar por outras etapas, como a análise das novas regras pelo Conselho Europeu – as negociações tiveram início em 1999.
Segundo os números mais recentes da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), a corrente de comércio (soma de exportações e importações) do Brasil com a União Europeia somou US$ 80,5 bilhões de janeiro a outubro deste ano. O número representa alta de 4,7% em relação a igual período de 2023. O petróleo é o produto mais exportado pelo Brasil para o bloco europeu, responsável por 8,8% dos embarques, enquanto medicamentos e produtos farmacêuticos representam 8,5% dos produtos embarcados da União Europeia para o território brasileiro.
Fonte: Valor Econômico