As ações de companhias brasileiras deverão ser um dos destaques de 2024 no cenário global, dado o processo de cortes nos juros locais, alta exposição a commodities, múltiplos e “valuation” baixos e expectativa de crescimento nos lucros. A avaliação é de Ilan Furman, diretor de investimentos da casa de análise israelense Bridgewise.
Em entrevista ao Valor, Furman disse que o mercado brasileiro apresenta hoje uma combinação única de taxas de juros elevadas e ativos descontados. “Com a Selic em 11,75% e inflação controlada, o mercado brasileiro apresenta um baixo ‘valuation’, sendo negociado a apenas oito vezes na relação preço sobre lucro”, disse.
Para Furman, quedas nas taxas de juros, aliadas a um cenário fiscal e político relativamente estável, podem resultar em uma reavaliação múltipla. “Nomes importantes a considerar incluem Raízen e Equatorial, representando oportunidades de investimento com base nessa combinação de fatores favoráveis”, afirma ele, que utiliza tecnologia baseada em inteligência artificial generativa para realizar análises de fundamentos de mais de 44 mil empresas globais.
“A plataforma da Bridgewise analisa os materiais públicos produzidos pelas empresas e, por meio de seu gerador de linguagem interno, elabora um relatório detalhado que destaca os pontos fundamentais”, explica.
Na análise gerada para o cenário macroeconômico brasileiro, a perspectiva é estável. Segundo ele, os níveis de dívida bruta estão em 75% do PIB, o que é gerenciável considerando os ajustes fiscais planejados e as taxas de juros mais baixas. “O índice de ações do Brasil também está fortemente vinculado a commodities, como petróleo e ferro, setores atraentes por suas características de proteção contra a inflação, e a uma perspectiva apertada de oferta e demanda devido às contínuas interrupções no comércio.”
Furman aponta que, especificamente no Brasil, empresas nos setores de energia e matérias-primas destacam-se por sua base de ativos, baixo custo de produção e preferências de alocação de ativos, resultando em rendimento de dividendos elevados. “O setor financeiro do Brasil também é atraente, considerando empresas muito lucrativas e a alta adoção de tecnologia financeira no país.”
O estrategista também lembra que o mundo está entrando em um ciclo de afrouxamento monetário e que juros mais baixos são um importante impulsionador externo para ações de mercados emergentes, como o Brasil. “Quanto mais baixos forem os juros nos mercados desenvolvidos e nos investimentos de baixo risco, maior será o apetite por ações de mercados emergentes”, diz.
Além das ações brasileiras, Furman destaca os setores de cibersegurança e de energia como bons investimentos em 2024. “No âmbito da cibersegurança, se prevê uma expansão significativa, maior que o crescimento do PIB global. Empresas como DocuSign, Zscaler e Palo Alto Networks apresentam uma combinação atraente de crescimento e receitas, posicionando-se como líderes nesse segmento em constante evolução.”
No setor de energia, a análise da Bridgewise abrange tanto as fontes tradicionais quanto as renováveis. As tensões geopolíticas em regiões produtoras de petróleo, como Rússia e Oriente Médio, tendem a impulsionar aumentos nos preços das fontes convencionais. Por outro lado, o segmento de renováveis permanece atraente, alinhado aos objetivos de energia limpa. Empresas como Shell, BP e Delek US oferecem perspectivas interessantes, com múltiplos atraentes e rendimento de dividendos acima de 3,5%, diz.
Segundo Furman, depois do crescimento expressivo observado em 2023 nos mercados de ações, o ano de 2024 pode ser mais volátil globalmente. “Os desafios que pesaram sobre os mercados em 2023 persistem em 2024, como juros ainda elevados, inflação e tensões geopolíticas.” Além disso, há desafios adicionais a considerar para 2024, como a desaceleração do crescimento global e um ano de eleições para quase 50% da população global, observa.
A análise da Bridgewise indica que a inteligência artificial continuará a possibilitar a criação de valor em diversos setores. “O foco dos investidores até agora tem sido nos potenciais beneficiários de hardware e plataformas de IA, mas o impacto potencial pode se estender por diferentes setores. Por exemplo, algumas empresas podem se beneficiar significativamente com a melhoria das margens ao implementar ferramentas de IA.”
Para o estrategista, portanto, a chave para 2024 é ser seletivo, cauteloso em relação aos valuations e aproveitar as quedas do mercado para construir posições em empresas de qualidade.
Fonte: Valor Econômico

