Por Joe McDonald, Associated Press — Pequim
22/11/2022 10h45 Atualizado
Nas últimas três semanas, mais de 253 mil casos de covid-19 foram detectados na China, segundo dados divulgados ontem pelo governo, que também mostram um aumento na média diária. Isso aumenta a pressão sobre as autoridades empenhadas em atenuar os danos econômicos afrouxando os controles que deixam milhões de pessoas confinadas em suas casas.
O Partido Comunista chinês, que governa o país, havia se comprometido no início do mês a flexibilizar os controles para reduzir o impacto de sua estratégia de tolerância zero à covid. No entanto, a nova onda de casos coloca isso em xeque, já que leva grandes cidades, como Pequim, a isolar distritos populosos, fechar lojas e escritórios e ordenar fábricas a isolarem funcionários do contato externo.
Isso alimenta temores de que uma desaceleração na atividade econômica chinesa possa prejudicar ainda mais o já enfraquecido comércio internacional.
A média da semana passada, de 22,2 mil casos diários, é o dobro da semana anterior, segundo a agência estatal China News Service (CNS), citando dados do Centro Nacional de Controle e Prevenção de Doenças.
“Algumas províncias estão enfrentando a situação mais grave e complexa dos últimos três anos”, disse o porta-voz do órgão, Hu Xiang, segundo a CNS.
Os números de casos na China são menores que os dos EUA e outros grandes países. Mas enquanto outros governos relaxam os controles, como sobre as viagens, e tentam conviver com o vírus, o PC chinês mantém uma política de “covid zero”, que prevê o isolamento de todos os casos.
Ontem, o governo chinês divulgou que foram detectados 28.127 casos em 24 horas, incluindo 25.902 sem sintomas. Cerca de 30% dos casos, ou 9.022, estavam na província de Guangdong, o coração industrial das adjacências de Hong Kong, voltado à exportação.
Na segunda-feira, os mercados de ações internacionais fecharam em queda, com a preocupação com os controles chineses contra a covid se somando à inquietação com a perspectiva de mais aperto monetário nos EUA para conter a inflação. Ontem as ações exibiam desempenhos variados.
Os investidores estão “preocupados com uma queda na demanda como resultado de uma economia chinesa com menos mobilidade, em meio a receios de que haverá mais lockdowns relacionados à covid”, disse Fawad Razaqzada, da consultoria StoneX, em relatório.
A China tem o maior país comerciante do mundo e é o principal mercado para seus vizinhos asiáticos. A fraqueza na demanda do consumidor ou das fábricas chinesas pode prejudicar os produtores globais de matérias-primas como o petróleo, de chips de computador e de outros componentes industriais, assim como de alimentos e bens de consumo. Restrições que afetem a atividade nos portos chineses também podem atrapalhar o comércio global.
Hu, do Centro Nacional de Controle e Prevenção de Doenças, disse que as autoridades estão viajando pela China para realizar videoconferências e garantir o cumprimento de uma lista de 20 mudanças nos controles contra a covid-19 anunciadas em 11 de novembro. Elas incluem a redução da quarentena para as pessoas que chegam à China de sete para cinco dias e uma definição menos ampla para o que conta como contato próximo de uma pessoa infectada.
Apesar disso, na segunda-feira, Guangzhou (Cantão), a capital de Guangdong, suspendeu o acesso ao distrito de Baiyun, de 3,7 milhões de habitantes. Moradores de algumas áreas de Shijiazhuang, cidade de 11 milhões de pessoas a sudoeste de Pequim, foram instruídos a ficar em casa enquanto são realizados testes em massa.
Na comparação anual, o crescimento econômico nos três meses encerrados em setembro acelerou-se para 3,9%, acima dos 2,2% do primeiro semestre. Mas a atividade já começa a recuar.
Em outubro, os gastos no varejo caíram 0,5% em comparação a igual mês de 2021, abaixo dos 2,5% de setembro, depois que algumas cidades voltaram a impor controles contra a covid-19. As importações caíram 0,3%, sinal da fraca demanda do consumidor. Em setembro, haviam aumentado 6,7%.
As exportações chinesas encolheram 0,7% em outubro, depois de a demanda dos consumidores americanos e europeus ter sido afetada pelas decisões de banco centrais dos EUA e de outros países de promover fortes aumentos nos juros para reduzir as taxas de inflação mais altas em décadas.
Empresários e economistas veem o abrandamento nas medidas contra a covid-19 como um passo para suspender os controles que isolam a China do resto do mundo. Mas também dizem que a política de “covid zero” pode permanecer até o segundo semestre de 2023.
Na província de Sichuan, o governo da capital Chengdu anunciou ontem que conduzirá testes em massa de hoje até domingo. A medida visa detectar rapidamente os infectados, interromper a cadeia de transmissão e conter o rápido aumento da epidemia.
Fábricas em Shijiazhuang, capital da província de Hebei, foram instruídas a operar sob “regime de circuito fechado”, um termo para funcionários que passam a morar em seus locais de trabalho. Isso aumenta os custos com alimentação e espaço para alojamento.
Os empresários mostram pessimismo quanto ao trimestre atual, de acordo com uma pesquisa realizada por pesquisadores da Universidade de Pequim e uma firma financeira, o Ant Group. Um “índice de confiança” baseado nas respostas de 20.180 empresários caiu para o nível mais baixo desde o início de 2021, segundo a firma.
O PC chinês precisa vacinar milhões de idosos antes de suspender os controles que impedem a entrada da maioria dos visitantes estrangeiros, de acordo com economistas e especialistas em saúde.
“Achamos que o país ainda não está pronto para se abrir”, disse Louis Loo, da Oxford Economics, em relatório. “Prevemos que as autoridades chinesas continuarão ajustando os controles contra a covid nos próximos meses, rumando posteriormente a uma reabertura mais ampla e abrangente”. (Com agências internacionais)
Fonte: Valor Econômico