Por Márcio Barbero e Gabriel N. Oliveira
10/11/2022 05h01 Atualizado
A pandemia de covid-19 definitivamente mudou as características do mercado econômico brasileiro, que ainda sofre as sequelas em empresas dos mais variados setores produtivos. Os anos de 2020 e 2021, excepcionalmente, foram marcados por efeitos devastadores tanto na geração de emprego como na manutenção de empresas, que muitas vezes se viram obrigadas a fechar as portas ou optar por pedidos de recuperação judicial a fim de honrar os compromissos firmados com fornecedores, clientes e trabalhadores.
Para se ter uma ideia das dificuldades enfrentadas pelas empresas durante a pandemia, nos dois anos mais difíceis da covid-19 o Serasa Experian registrou mais de dois mil pedidos de recuperação judicial no Brasil. Embora as solicitações estejam caindo em 2022, graças à reabertura da economia (o primeiro semestre fechou com 390 pedidos), as recuperações judiciais ainda parecem ser um caminho para as empresas que não conseguiram retomar o nível de negócios do pré-pandemia.
Como em qualquer momento de tensão na conjuntura econômica, seja ela externa ou interna, a crise sanitária global da pandemia da covid-19 abriu uma janela de oportunidades nos fundos de investimento com foco em “distressed” e em empresas que buscam escalonar seus negócios com novas fusões e aquisições. Este momento ímpar na economia brasileira agitou os players desse mercado, que foram atrás de ótimos negócios, em especial nos setores que se encontravam e se encontram em mais dificuldades.
Mas quais foram e quais são essas oportunidades? Diante das adversidades econômicas enfrentadas pelo Brasil e pelos empresários, muitos investidores em distressed saíram à procura de empresas em crise, muitas delas agonizantes, mas que apresentam condições viáveis de recuperação. Lidando com o risco inerente de qualquer operação financeira, o intuito desses players é aquisição de ativos – de forma total ou parcial – dessas empresas abaixo do valor de mercado, com a garantia de ótima rentabilidade no futuro. A operação também é uma forma de evitar a completa falência da antiga detentora dos ativos.
É preciso ter em mente que a aquisição destes ativos por meio de distressed pode ser realizada em quaisquer empresas em processos de recuperação judicial ou falência, porém engana-se quem pensa que esse tipo de operação só atinja os setores mais sensíveis da nossa economia. No momento da pandemia de covid-19, até mesmo o agronegócio, o maior pilar de sustentação econômico no Brasil, sofreu inúmeras dificuldades, tendo empresas que recorrem a investidores desse tipo de fundo para manter a operação ou mesmo firmar parcerias e fusões.
Um dos setores do agronegócio que mais sofreram com a crise foi o sucroalcooleiro. Neste período, foi observado um exemplo de como os fundos de investimento com foco em distressed podem ser um caminho de ajuda mútua entre as empresas. Interessada na planta industrial reativada em Porteirão, região sul de Goiás, a Sottovento Agronegócios realizou em 2020, especula-se com investimentos de R$ 265 milhões, a aquisição e reestruturação de ativos da Goiás Bioenergia S/A para a produção de biocombustíveis.
Além de contratos de parceria, como o citado acima, as operações de distressed também são interessantes para as empresas que necessitam manter em dia os compromissos firmados no plano de recuperação judicial. Um exemplo disso foi a recente aquisição do grupo DW Distressed Assets Gestão de Ativos de quatro galpões no total de 24 mil metros quadrados do Grupo Bambozzi, na cidade de Matão, no interior de São Paulo.
Neste caso, a negociação se iniciou com a movimentação dos investidores junto aos autos de recuperação judicial do grupo Bambozzi, que há vários anos tramitavam na 1ª Vara da Comarca de Matão. Após um período entre proposta, aceitação e homologação da oferta, os ativos da empresa foram adquiridos e o valor obtido pela antiga detentora pôde ser realocado aos antigos funcionários demitidos e demais credores que, após anos de espera, começaram a receber os seus direitos.
O mercado de fundos de investimento com foco em distressed ainda é bastante tímido no Brasil, porém suas oportunidades vão muito além da simples aquisição de bens e ativos de empresas em dificuldades financeiras. A instabilidade da economia global para os próximos anos prevista pelos economistas pode gerar ainda mais negócios nessa área. E o momento do Brasil requer diversidade na hora de investir, ainda mais em operações que possam trazer ótima rentabilidade e ganhos no futuro.
A janela de oportunidades dos distressed funds deve permanecer aberta por algum tempo.
Márcio Barbero é advogado e sócio fundador da Barbero Advogados
Gabriel do Nascimento Oliveira atua na área de negócios e relacionamento com clientes da Barbero Advogados
Fonte: Valor Econômico

