Por Mônica Scaramuzzo — De São Paulo
13/09/2022 05h00 Atualizado há 3 horas
Poucos meses após deixar a gestora Farallon, Daniel Goldberg está de volta. À frente da Lumina Capital Management, gestora fundada por ele, levantou US$ 1,2 bilhão por meio de dois fundos. Um, de R$ 1,8 bilhão, para fazer investimento no Brasil e o outro, de cerca de US$ 700 milhões, para avaliar negócios na América Latina e no país.
“A lógica [da Lumina] é adotar um programa de investimento mais amplo, que vai além das operações de situações especiais e soluções estruturadas de capital”, afirma Daniel Goldberg, que fez a captação para os seus dois fundos em tempo recorde. De acordo com ele, a Lumina pretende ser uma gestora completa, investindo também em ações e crédito tradicional.
A captação do fundo offshore foi aberta em março e encerrada no mesmo mês, com forte demanda dos investidores “endowments” (fundos patrimoniais) de universidades, fundações e soberanos, diz Goldberg. O local começou o processo de busca de investidores em abril e foi concluído em maio, contando com family offices.
O gestor está prospectando negócios, com mandatos para fechar nos próximos meses. Cerca de 20% do capital já esta comprometido – metade Brasil e outra parte fora, sobretudo em projetos de infraestrutura no Chile.
A Lumina planeja olhar oportunidades no mercado de capitais entre outubro e novembro, enquanto boa parte dos investidores estiver voltada ao processo eleitoral. Há pelo menos três conversas que envolvem compra de ações de empresas na bolsa, duas delas das recentes safras de ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês). Há ainda transações em curso com “private equity” (que compram participações em empresas).
Segundo Goldberg, a composição dos sócios da gestora reflete o espírito de como Lumina pretende atuar no mercado. “Cada um de nós tem ‘background’ bastante distinto, o que reflete nosso objetivo de ser uma gestora completa.”
Henrique D’Amico, ex- Goldman Sachs, BTG Pactual e SPS, tem experiência em “special situations”, situações especiais, que muitas vezes envolvem transações com pouca liquidez e ativos sob estresse. Guilherme Loures, também ex-Goldman, é conhecido no mercado pelas operações estruturadas de companhias. Fernando Chican trabalhou no Pátria e traz para a Lumina a vocação para investimento em projetos de infraestrutura dentro e fora do país.
A gestora tem avaliado oportunidades fora do Brasil. No Chile, a Lumina negocia a compra do controle de uma empresa de energia. Outros projetos em infraestrutura no país estão sendo avaliados. “O Chile está passando por uma transição que torna esse mercado, pela primeira vez, com coisas interessantes para fazer. Antes, era tedioso para investidores por conta do custo de capital e retornos baixos, fundos de pensão faziam tudo. Tem muita coisa interessante em energia”, diz Goldberg, que já foi presidente do Morgan Stanley e secretário de Direito Econômico.
Segundo Chican, os preços de energia estão altos naquele país, que passou por uma seca importante. “O mercado elétrico é percebido como resiliente e de risco baixo. É um exemplo de situação onde a gente gosta de se debruçar.”
Na Argentina, há oportunidades de negócios, mas é um capítulo à parte, explica Goldberg. “A situação macroeconômica é de uma dramaticidade tal que não vale discutir qualquer coisa micro na Argentina. O resultado de qualquer investimento micro vai estar dominado pelo macro.”
A gestora também está olhando empresas que atuam de forma regional na América Latina.
Há três meses, o Lumina montou um consórcio com o grupo Ultra para fazer uma proposta pelos ativos da petroquímica Braskem. Pelo acordo, o consórcio faria um aporte de R$ 1,3 bilhão na companhia, entrando no bloco de controle junto com Novonor (ex-Odebrecht) e Petrobras, e chegaria a 51% de participação em cerca de três anos. Contudo, essa proposta foi recusada pelos credores da Braskem. Não há, neste momento, disposição da Lumina de elevar o preço pela petroquímica.
Outro foco de interesse é buscar oportunidades para companhias que emitem no exterior, num momento em que o mercado global de dívida está restito.
O objetivo da Lumina é ser vista no mercado como um potencial investidor em qualquer liga de estrutura de capital das empresas – do financiamento sênior ao investimento em ações. “A Lumina quer ser essa única parada para uma companhia que precise levantar capital rápido e robusto para tocar seus projetos de expansão.”
Goldberg estava na Farallon quando diversas empresas envolvidas na Lava-Jato entraram em dificuldade financeira e parte dos ativos dessas companhias teve de ser vendida. Num cenário agravado pela recessão, muitas empresas boas foram colocadas à venda. “Houve àquela época muito financiamento de empresas de qualidade incrível porque o mercado estava fechado para elas”, diz.
Agora, passado o período mais crítico da pandemia, o mercado não tem tantos ativos da mesma qualidade disponíveis. Ele vê os bancos ainda líquidos e com apetite para financiar operações estruturadas de companhias que tenham bons projetos de expansão. O cenário é um pouco diferente para empresas que passam por dificuldades financeiras, cuja qualidade de ativos não é como a das empresas saudáveis.
De acordo com Goldberg, o objetivo da gestora é encontrar oportunidades para destravar valor. “A gente continua buscando fazer parceria com sócios e contrapartes para trazer soluções para eles”, diz. “Nosso forte é financiar empresas que estão indo bem. A gente não tem problema com negócios de alta complexidade jurídica em ativos bons.”
Fonte: Valor Econômico

