Em novembro do ano passado, a Gartner — consultoria norte-americana especializada em tecnologia — publicou um relatório indicando que os avanços em Inteligência Artificial estão causando um aumento tão significativo no consumo de energia elétrica que cerca de 40% dos data centers poderão sofrer com a falta de seu principal insumo. De fato, conforme discutimos na coluna passada, a Agência Internacional de Energia (International Energy Agency, IEA) estima que já em 2026 a demanda energética dos data centers pode sair dos 460 terawatts-hora registrados em 2022 até 1.000 terawatts-hora — equivalente ao consumo anual de eletricidade do Japão.
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Mais do que isso, em função da necessidade de apresentarem altíssima disponibilidade, fontes de energia renováveis mas intermitentes — como eólica ou solar — não constituem, isoladamente, soluções para data centers. Isso deve levar a um aumento nas suas emissões, com a utilização de fontes não-renováveis pelo menos em um primeiro momento, enquanto novas soluções são exploradas para evitar que a tecnologia contribua para piorar um dos maiores problemas do nosso tempo: a grave crise climática que atinge o planeta.
Uma das alternativas que está ganhando tração entre as Big Techs é a energia nuclear, que possui elevada disponibilidade sem criar emissões prejudiciais ao meio ambiente. Em março de 2024, a Amazon comprou um data center na Pensilvânia movido à energia nuclear da Talen Energy (uma geradora independente baseada em Houston, no Texas) por US$650 milhões. Seis meses depois, a Microsoft assinou um acordo com a Constellation Energy Corporation (uma geradora de energia baseada em Baltimore, Maryland) para religar a unidade 1 da usina nuclear de Three Mile Island (também na Pensilvânia), desligada em 2019. No mês seguinte, em outubro de 2024, foi a vez da Google assinar um acordo com a Kairos Power (uma startup fundada em 2016) para comprar energia gerada por diversos reatores nucleares modulares (SMRs – small modular reactors). E para encerrar o ano, no início de dezembro a Meta anunciou que está buscando parceiros para gerar entre um e quatro gigawatts de energia nuclear.
Dentre as diversas fontes de geração de energia — como hidrelétrica, solar, eólica, geotérmica ou biomassa — a energia nuclear é certamente a mais polêmica, por estar associada ao uso de armas, pelo receio das consequências causadas por eventuais acidentes e pelo seu alto custo. Mas isso parece estar sendo contrabalançado por um expressivo aumento da demanda global por energia, um histórico de segurança robusto por parte das usinas em operação e a disposição das Big Techs em financiar a expansão de uma tecnologia energética limpa e eficiente. A expectativa é que a parcela de geração de eletricidade via energia nuclear, atualmente em 20% em países desenvolvidos (ou cerca de 10% globalmente), cresça ao longo dos próximos anos.
Usina de Angra 1, no Estado do Rio de Janeiro; energia nuclear é vista como alternativa para grandes centros de dados Foto: Wilton Junior/Estadão
Investimentos em equipamentos modernos e que utilizam energia de forma mais eficiente é uma constante preocupação dos administradores dos data centers, que procuram otimizar cada metro quadrado com a instalação do maior número possível de máquinas. De acordo com a consultoria McKinsey, cerca de 40% do consumo de energia de um data center é causado pela infraestrutura de resfriamento das máquinas — e quanto mais próximas elas estiverem umas das outras, mais calor precisa ser dissipado.
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Este é um aspecto que recebe muita atenção por parte dos projetistas, engenheiros e arquitetos envolvidos. Para se ter uma ideia, no artigo Making AI Less “Thirsty”: Uncovering and Addressing the Secret Water Footprint of AI Models (algo como “Diminuindo a ‘sede’ da IA: desvendando e abordando a pegada hídrica secreta dos modelos de IA”), assinado por três pesquisadores da Universidade da Califórnia em Riverside e por um pesquisador da Universidade do Texas em Arlington foi estimado que, já em 2027, a quantidade de água demandada por sistemas baseados em inteligência artificial será equivalente a quatro vezes o consumo da Dinamarca.
Para tentar reduzir a pressão sobre a infraestrutura energética global, uma das alternativas envolve transferir o processamento das informações da nuvem para o próprio dispositivo — algo conhecido como edge computing, ou “computação na borda”. Este será nosso tema para a próxima coluna. Até lá.
Fonte: Estadão (Coluna Guy Perelmuter )

