08/08/2022 – Jornalista: ISAAC DE OLIVEIRA
Responsável pela área de investimentos do Itaú, Nicholas McCarthy afirma que o mercado acionário está no melhor momento para o investidor apimentar o portfólio. “A Bolsa está muito barata. Não só para níveis brasileiros, mas também mundiais”, diz. O executivo avalia que os setores mais sensíveis aos juros altos, como os de tecnologia, construção e consumo, estão com preços mais descontados em relação a seu potencial.
Na outra ponta, bancos e commodities se sobressaem. Com a inflação no radar, McCarthy destaca também as opções em títulos de renda fixa, ?queridinhas? dos investidores neste momento de maior desconfiança.
?Se estivermos errados e a inflação, de fato, não cair, o investidor estará protegido?, afirma ele. Leia,a seguir, os principais trechos da entrevista: A escalada dos juros vai ditar o tom do segundo semestre? O Brasil foi relativamente bem no primeiro semestre se compararmos com o mercado internacional.
O BC brasileiro ficou na frente do resto dos outros países no processo de alta dos juros. Parece que o mundo acordou e viu que a inflação seria um tema que deixaria os investidores mais nervosos, dada a magnitude do avanço dela.
Com o resto do mundo também entrando nesse movimento de juros altos, a economia mundial deve desacelerar, e o Brasil também não escapará.
Quais oportunidades de investimento vocês identificam no momento? Neste primeiro semestre, muitas pessoas aproveitaram a oportunidade para realizar um pouco de lucros e aplicar na renda fixa. No mercado brasileiro, onde já estamos perto de um juro real de 6%, toda a parcela de papéis isentos de impostos, como CRAs, CRIs, LCIs, LIGs, consiste numa oportunidade importante para os clientes.
Qual é o seu diagnóstico sobre a Bolsa? A Bolsa está muito barata. Não só para níveis brasileiros, mas também mundiais. No caso de quem não tem nada em Bolsa, parece ser um momento interessante para colocar um pouco de dinheiro em risco. Nós acreditamos que o Ibovespa só vai realmente começar a andar quando as pessoas vislumbrarem que, em algum momento, haverá uma possibilidade de queda de juros. Enquanto isso não estiver claro, dificilmente a Bolsa vai andar muito.
A renda fixa é uma saída até isso acontecer? No curto prazo, as oportunidades de renda fixa estão em papéis isentos (de impostos), e gostamos muito de ativos indexados à inflação. Se estivermos errados e a inflação, de fato, não cair, o investidor estará protegido. O interessante é que seja por um período mais longo, porque, em algum momento, a inflação vai ceder e o juro vai ter uma oportunidade importante de cair.
Considerando que a Bolsa brasileira está descontada, quais setores estão interessantes? Nós preferimos recomendar a Bolsa como um todo, e não um setor específico. A nossa alocação normalmente é de 75% via gestores e 25% via índice, porque dá um pouco mais de mobilidade de entrar e sair. Todos os setores que são mais ligados a juros sofreram mais, como os de consumo, de construção e de tecnologia. Já o setor de bancos sofre menos na alta de juros. Ações ligadas a commodities, também.
Por que vocês preferem fazer a recomendação via gestores? Porque os gestores têm tarefas que 99% das pessoas não têm. Eles são obrigados a ler o balanço das empresas com afinco. As pessoas físicas não fazem isso. Eles têm o trabalho de ver o momento econômico antecipado.
Provavelmente, os gestores já estão olhando agora quando poderemos ter um corte de juros no Brasil, e quais setores vão se favorecer por conta disso.
Como o investidor deve se posicionar ante a volatilidade, considerando eleições no Brasil, risco de recessão no exterior e guerra na Ucrânia? O investidor tem de ter uma posição que garanta o seu sono.
Seja de 10% em Bolsa, câmbio ou renda fixa. Vai da posição em que se sinta confortável para poder navegar em um período de maior volatilidade, mas consciente de que nestes momentos normalmente também se criam várias oportunidades. Se a Bolsa ficou barata, compra um pouco. Se subir, vende um pouquinho do que comprou a mais. É interessante fazer pequenas movimentações.
A ansiedade acaba atrapalhando.
Não achamos que a volatilidade brasileira, hoje, está muito diferente do tradicional.
Aliás, o mercado internacional está com mais volatilidade do que o tradicional.
É interessante manter aplicações no exterior? É sempre interessante ter exposição internacional ao longo do tempo. Se não tem nada e vai começar agora, o momento é um pouco mais delicado.
Mas ter exposição internacional é importante para todos.
Fonte: O Estado de S.Paulo

