Ainda que a preocupação com a situação fiscal de algumas economias desenvolvidas se traduza em apostas na inclinação das curvas de juros – caso de França, Japão e Estados Unidos -, a Pimco manteve um viés otimista para a renda fixa do Brasil em 2025 e colheu bons frutos.
Segundo o vice-presidente para América Latina e Caribe da Pimco, Luis Oliveira, a visão positiva da gestora se mantém e contempla tanto os mercados de juros quanto a moeda local.
“A gente gosta de Brasil e temos alguns investimentos em renda fixa brasileira. Em geral, estamos falando do mercado de soberano, já que, para comportar o nosso fluxo, precisamos de ativos mais líquidos, mas também há alguns papéis “quase soberanos” de empresas com emissões muito grandes. Gostamos de Brasil tanto na parte de juros quanto na moeda”, afirma Oliveira.
Segundo ele, em 2025, a posição em Brasil foi bastante proveitosa para a Pimco. “Carrego interessante, um pouco de fechamento de curva e 15% de apreciação da moeda. Foi uma posição vencedora”, afirma, ao citar também a Austrália e o Reino Unido como mercados em que há uma visão otimista por parte da gestora.
A gigante global de gestão de renda fixa, no entanto, tem mantido uma postura mais cautelosa com a situação fiscal de alguns países desenvolvidos, como França, Japão e Estados Unidos, e expressado essa visão negativa por meio de posições que apostam na inclinação das curvas de juros destas economias.
“Gostamos de países desenvolvidos seletivamente, mas existem países em que temos grandes preocupações. A França é um país que temos uma preocupação fiscal e mantemos apostas na inclinação da curva de juros. Japão é outro país que temos preocupação fiscal bastante grande e também temos apostas na inclinação da curva de juros. E nos EUA, embora a gente goste de ‘duration’ nos vértices mais intermediários da curva, na ponta muito longa, também temos aposta na inclinação da curva”, afirma Oliveira.
As declarações foram dadas em painel na Global Conference 2025, organizada pela XP Investimentos. Isabella Nunes, diretora comercial do J.P. Morgan Asset Management Brasil, afirma que a gestora mantém uma visão construtiva para o mercado de “high yield” nos Estados Unidos, apesar de o momento demandar uma seleção mais cautelosa dos ativos de crédito.
“Não é um momento de busca indiscriminada por beta [exposição ao risco de mercado]. O alfa é seletivo, onde e é preciso buscar o carrego de forma atrativa olhando os riscos. Não adianta tentar dourar a pílula: hoje, o time de renda fixa e high yield está mais defensivo e há algumas nuvens no ar. Os gestores estão buscando maior qualidade de crédito”, afirma.
No entanto, ao observar que a economia deve se manter resiliente, o J.P. Morgan Asset mantém o viés construtivo para o mercado de high yield dos EUA. No cenário de distribuições da casa, há 65% de chance de um crescimento da economia abaixo do potencial; 20% de crescimento acima do potencial; 10% de recessão; e 5% de um cenário de crise.
“O norte que imaginamos é um pouco mais de cortes de juros. No mercado de high yield, se é uma economia resiliente, que o consumidor continua gastando, que as empresas seguem investindo, é difícil a gente ver um cenário muito negativo para o mercado de high yield”, afirma.
“Obviamente os spreads estão mais apertados, mas existem fundamentos que justifiquem isso. Ainda pagando um carry super atrativo: 6% ou 7% em dólar, muito diferente de alguns anos atrás”, nota a diretora do J.P. Morgan Asset.
A Pimco, segundo Oliveira, tem uma visão oposta e diz, neste momento, não gostar de ativos de crédito corporativo nos EUA, seja no universo ‘investment grade’ (IG) ou ‘high yield’ (HY).
“Dentro de crédito, temos uma visão bem cautelosa no crédito corporativo em IG e HY. Não quer dizer que uma alocação em high yield não vá ser um bom investimento no longo prazo. Mas, no curto prazo, os spreads estão muito apertados. A boa notícia é que existem alternativas interessantes que ainda possibilitam um carrego de 6% a 6,5%”, afirma.
A Pimco também espera uma continuidade da desvalorização do dólar frente uma cesta de moedas. Oliveira revela que a Pimco realizou uma pesquisa em maio, após o Liberation Day, com sua base de clientes, que é majoritariamente composta por institucionais: fundos soberanos, de pensão e bancos centrais. O estudo mostrou que não há uma mudança significativa na alocação estratégia dos portfólios nos EUA.
“O investidor global que tinha 70% do patrimônio nos EUA não tomou a decisão de tirar o dinheiro de lá. Mas notamos que o dólar marginal estava sendo investido em outros países. Entrou mais um dólar para aquele gestor, em vez de alocar 70% nos EUA, ele aloca 30%”, afirma.
Oliveira também afirma que a Pimco espera um mundo com maior volatilidade à frente. “Olhamos para os próximos 3 a 5 anos e esperamos um mundo com mais volatilidade. Após o Liberation Day, haverá um realinhamento de países e o mundo vai ser mais fragmentado. Na Europa, até pouco tempo a energia era quase de graça e a proteção militar da Otan também. Não há mais nada disso. Além disso, de 2008 a 2022, qualquer estresse os bancos centrais entravam para tranquilizar os mercados. Agora, eles terão menos propensão a entrar nos mercados para ajudar. Juntando tudo isso, acreditamos que a volatilidade nos próximos anos será mais alta”, afirma.
Fonte: Valor Econômico

