O mercado está “cada vez mais convencido” de que o Banco Central começará a reduzir a Selic no primeiro trimestre de 2026 e fortificou essa percepção após um “aceno sutil” dado pelo Copom na semana passada nessa direção.
Com base na dinâmica de quedas firmes das taxas de mercado quando o início dos cortes se aproxima, o SantanderCotação de Santander vê com bons olhos posições aplicadas em juros intermediários — aquelas que ganham com a queda das taxas de médio prazo. A aposta do banco mira especificamente a NTN-F com vencimento em janeiro de 2031 e o DI de igual maturação.
Nesse vencimento, o estrategista Daniel Cunha vê espaço para uma queda de 75 pontos-base (0,75 ponto percentual) em relação aos níveis atuais, “com base em projeções conservadoras derivadas de ciclos anteriores”.
A aposta do Santander na queda relevante dos juros de mercado está em um relatório da parte de estratégia do banco ao qual o Valor teve acesso.
Cunha nota que, nos últimos cinco ciclos de flexibilização monetária desde “Meirelles 2005”, há um padrão claro: “as posições aplicadas tendem a ter desempenho superior à medida que o primeiro corte se aproxima, especialmente no ‘miolo’ da curva local”.
E, dado que o mercado tem visto um processo de desinflação um pouco melhor que o esperado, um pouso suave na atividade e sinais iniciais de arrefecimento do mercado de trabalho, além de uma postura “hawkish” (dura) do Banco Central que tem contribuído para aliviar as expectativas de longo prazo, “os ‘astros macroeconômicos’ parecem se alinhar para que a história volte a rimar: o primeiro corte em janeiro de 2026, cerca de seis meses após a última alta”.
Essa, inclusive, é a projeção oficial do Santander, que espera um corte de 0,5 ponto na largada do ciclo, em janeiro. Em seus exercícios, porém, Cunha também trabalhou com a possibilidade de um início dos cortes em março.
“Os mercados permanecem operando dentro de uma faixa estreita, precificando algo entre 2 e 3 pontos percentuais em cortes para o próximo ciclo de afrouxamento, previsto para começar entre janeiro e março. Mas a história mostra que, quando o mercado ganha convicção de que o primeiro corte está próximo, as expectativas tendem a se ‘empolgar’, e o volume de cortes implícitos costuma ultrapassar o limite superior das faixas anteriores, levando toda a curva de DIs naturalmente para baixo.”
E é essa aposta que Cunha passa a adotar no momento.
O estrategista reconhece que o próximo ciclo de cortes deve ser mais “complexo” do que os anteriores. Ele cita um retorno dos impulsos fiscais; a “grande incógnita” dos efeitos da isenção do IR; e um ano eleitoral à frente, em um momento em que o hiato do produto [medida de ociosidade da economia] ainda está muito pressionado.
“Mas lutar contra a gravidade é difícil e, historicamente, caro.”
Para Cunha, manter a Selic em níveis elevados acabaria, cedo ou tarde, exacerbando as preocupações com a dinâmica da dívida pública.
É nesse sentido que a aposta do estrategista do Santander se concentra na NTN-F e nos juros futuros de cinco anos (janeiro de 2031). E, para além dos 75 pontos-base de queda esperados, há um viés de recuo adicional das taxas, “considerando os padrões dos ciclos anteriores”.
Fonte: Valor Econômico

