Por Daniela Chiaretti — De São Paulo
01/02/2024 05h00 Atualizado há 4 horas
Mais da metade da população mundial irá eleger governantes este ano, em alguma esfera política. Isso acontecerá nos Estados Unidos, Indonésia, México, Reino Unido, Índia, Brasil, Canadá, União Europeia, Austrália, África do Sul e em dezenas de outros lugares. São mais de quatro bilhões de pessoas escolhendo líderes em mais de 40 países, algo sem precedentes. “2024 é o mais importante ano eleitoral do século, até agora, e isso está acontecendo no meio de uma crise climática”, diz Ani Dasgupta, CEO e presidente do World Resources Institute, o think tank WRI. “Sabemos que eleições fazem diferença para o destino do planeta”, continua. “E por isso 2024 é um ano crítico para o clima”.
A boa notícia, registra, é que todos os países “veem agora a mudança do clima como uma ameaça séria que têm que enfrentar e agir”, disse em webinar da organização. Lembrou que em dezembro, na COP 28, a conferência sobre mudança climática da ONU que aconteceu em Dubai, os países se comprometeram em se afastar dos combustíveis fósseis e triplicar a capacidade das energias renováveis até 2030. “Foi um passo adiante e parece um grande progresso. Mas acordos globais nem sempre resultam em mudança real. Sucesso, na verdade, depende de políticas nacionais e decisões que transformem esses acordos em ação”.
Natural de Déli, Dasgupta tem experiência em cidades sustentáveis, desenho urbano e redução da pobreza. Desde junho de 2021 preside o WRI, organização com quase 2.000 profissionais pelo mundo. Há poucos dias o evento “Stories to Watch 2024”. O fio condutor foi destacar a importância dos governos em equilibrar ações climáticas ambiciosas com o envolvimento da população na transição.
O Brasil foi citado como exemplo de que as políticas de combate ao desmatamento do governo Lula têm demonstrado resultado.
A Índia, por seu turno, está no caminho de conseguir atingir a meta de ter 500 GW de capacidade em energias renováveis em 2030 e registrou, em 2023, o mais rápido crescimento entre os emergentes. “Mas a Índia ainda luta para criar novos empregos para sua jovem e crescente força de trabalho e não consegue responder às necessidades da população pobre urbana e rural”, diz Dasgupta. “Logo 900 milhões de indianos irão às urnas. Como os políticos irão responder ao desafio urgente de reduzir a dependência energética da Índia ao carvão, e, ao mesmo tempo, produzir energia para suprir crescimento econômico e trabalho”.
Ele segue: “Essas dimensões políticas são desafios em cada país – ação climática e trazer junto os cidadãos. Essa é a arte e a ciência da nova política climática”.
Outro exemplo é o da Holanda. Em novembro o Partido pela Liberdade, de extrema direita, venceu as eleições gerais. Stienje van Veldhoven, vice-presidente do WRI Europa, diz que o país vem enfrentando esse tipo de desafio político. “É um país com vulnerabilidades climáticas e séculos buscando gerenciar a relação com a natureza”, diz ela. Trata-se de um dos países mais ricos do mundo, com 17,6 milhões de habitantes. Seu compromisso climático é cortar em 55% as emissões, em 2030, em relação a 1990.
Grandes diques e moderna infraestrutura buscam deixar seca a área rural. “Fazendas muito eficientes fazem deste pequeno país o segundo maior exportador agrícola do mundo”, continua ela. “Os holandeses sabem o quanto a Holanda é vulnerável e que mudança do clima importa. Estamos à frente em adaptação climática. Entendemos como a economia de baixo carbono traz oportunidades”, segue. Ela explica que o recuo recente contra o clima e ações de proteção, nas urnas, têm a ver, por exemplo, porque “os cidadãos estão lutando contra a inflação e custos altos de combustíveis, e preocupados em não conseguir arcar com custos da ação climática”.
Ela disse que fazendeiros têm vindo à capital protestar em passeatas com seus tratores, algo que vem ocorrendo na França, Alemanha e Polônia. “Os governos estão fazendo escolhas de como cumprir suas metas net-zero e fazer mudanças sistêmicas para colocar as economias rodando com energias limpas. Mas os fatos são claros: evitar o pior na crise climática é melhor em todos os sentidos.”
Fonte: Valor Econômico