Diante da forte divisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na decisão de ontem, os ativos brasileiros devem ficar mais voláteis até o próximo encontro do colegiado, quando os investidores terão mais clareza sobre o que irá ocorrer em relação à condução da Selic, a taxa básica de juros no país. Essa é a avaliação do diretor de investimentos (CIO) da SulAmérica Investimentos, Luis Garcia.
“Se o Banco Central já tinha se colocado no modo ‘data dependent’ [dependente dos dados] antes, imagina agora que você vai precisar só de um membro do colegiado para alterar a maioria”, diz.
“Amanhã temos o IPCA. Se vier um número mais baixo, você irá dar força para a turma que defende um corte maior. Se vier um número em linha e, na semana que vem, a expectativa [de inflação] do relatório Focus começar a subir, você dá força à turma mais conservadora”, explica. “Você passa a ter uma volatilidade esperada à frente até o próximo Copom muito maior do que vimos em outros períodos.”
Na avaliação de Garcia, um cenário praticamente inimaginável anteriormente começa a se desenhar, com chance de o Copom ficar ainda mais dividido, com integrantes podendo optar já na próxima reunião por cortar 0,50 ponto, 0,25 ponto ou manter a Selic parada.
“Se a turma que votou por um corte de 0,25 ponto entender que a taxa de juro nominal, neste momento de incerteza e de expectativas desancoradas, deva ser maior, pode ser que alguém opte por não fazer nenhum corte na próxima reunião”, diz. “Enquanto se o câmbio der uma melhorada e o IPCA não surpreender para cima, os integrantes do outro lado podem continuar entendendo que a expectativa vale pouco e que a inflação corrente está sob controle”, afirma.
Assim, o diretor da SulAmérica reforça que basta um membro da maioria votar em algo diferente dos outros integrantes para a decisão tomar um rumo inesperado.
“Na teoria dos jogos, tem uma composição bastante complicada. Por isso, a meu ver, a próxima reunião deve ser ainda mais importante.”
E é por conta dessa fragmentação e incerteza que os ativos brasileiros são penalizados na sessão desta quinta-feira, ainda segundo Garcia.
“Sem dúvida, o que estamos vendo é uma precificação para um cenário mais incerto, com a credibilidade da instituição Banco Central diminuindo na margem”, diz o executivo. “Essa é a grande mensagem que a movimentação nos preços dos ativos está passando para nós nesta quinta-feira — o que fica ainda mais evidente porque hoje os ativos no exterior estão mais calmos.”
No caso específico do real, o executivo diz ver espaço para uma recuperação da moeda brasileira até o fim da sessão. “Acho que esse câmbio está razoavelmente deslocado. Até o final do dia, a curva longa de juros deve continuar colocando prêmio para uma maior incerteza nas decisões do BC e da própria credibilidade da instituição, mas a taxa de câmbio, para mim, não deveria, por esse motivo isoladamente, ser penalizada com dólar acima de 1%.”
Para Garcia, o setor menos penalizado pela decisão é justamente o de juros futuros com vencimento em 2025. “A expectativa em como será a condução da política monetária quando o colegiado for de maioria indicada pelo governo é de juros mais baixos. Diria que, da curva prefixada, o primeiro semestre de 2025 é o ponto mais beneficiado nesta decisão”, diz o gestor. A SulAmérica detém posições aplicadas no DI para julho de 2025 no momento.
“Ainda tem muita coisa para acontecer, mas, pela decisão de ontem, eu diria que o ativo mais beneficiado é a NTN-B no prazo de 2028, porque tudo leva a crer que teremos uma execução de política monetária com um juro real bem mais baixo do que era esperado anteriormente”, afirma.
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fonte: valor econômico

