Por Beth Koike — De São Paulo
04/08/2022 05h03 Atualizado há uma hora
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Três meses após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovar, sem restrições, a compra da UniCesumar por R$ 3,2 bilhões, a Vitru – dona da Uniasselvi – vai abrir nos próximos dias um processo competitivo para vender o negócio de cursos de medicina. A expectativa é que a instituição, que contratou o Itaú BBA e UBS BB como assessores financeiros, peça algo na casa de R$ 1,3 bilhão, o equivalente a dez vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) do braço de cursos de medicina da UniCesumar, segundo o Valor apurou.
A UniCesumar tem 342 vagas de medicina em operação, com 1,6 mil alunos matriculados. Há ainda outras 50 vagas em processo de aprovação pelo MEC. O valor médio das últimas transações no mercado ficou em R$ 1,5 milhão por vaga, mas esse preço depende de outros fatores como classificação de qualidade do curso no MEC e tempo de maturação do curso. Caso essas 50 vagas que estão sendo pleiteadas sejam aprovadas, durante os primeiros cinco anos só há entrada de alunos, uma vez que eles se formam somente após esse período, que é o tempo de duração da graduação de medicina.
Ainda de acordo com fontes, a decisão de se desfazer dos cursos de medicina tem o objetivo de reduzir o endividamento da companhia. Hoje, sua alavancagem (dívida líquida/Ebitda) está em 4,5 vezes. A Vitru adquiriu a UniCesumar numa transação de R$ 3,2 bilhões que pode chegar a R$ 3,5 bilhões, a depender de metas atingidas. A companhia captou um empréstimo de cerca de R$ 2 bilhões com um pool de bancos.
Apesar dos cursos de medicina serem os mais cobiçados no setor, faz mais sentido para a Vitru vender o ativo, uma vez que seu principal negócio é de ensino a distância. O grupo tem cerca de 800 mil alunos, sendo que 97% estão matriculados em cursos on-line. A companhia teria que estar extremamente capitalizada para investir, simultaneamente, em ensino a distância e medicina. Além disso, outros grupos educacionais já estão investindo fortemente nesse mercado há mais tempo e, portanto, com tamanho muito maior. Para efeitos de comparação, a Vitru tem 1,6 mil alunos, enquanto a Afya conta com 15 mil alunos, a Ânima tem 10 mil e Yduqs, 7,5 mil.
Segundo fontes, o grupo educacional vai fazer um “spin off”, ou seja, vai dividir os cursos de medicina e as demais graduações, uma vez que o MEC não permite a venda de parte da operação de uma instituição de ensino. A Ânima e a Cogna já fizeram essa separação na área de medicina para realizar transações específicas. No caso da Ânima, a gestora DNA adquiriu 25% do seu braço de cursos de medicina, por R$ 1 bilhão, em 2021.
Procurados, a Vitru e os bancos Itaú BBA e UBS BB informaram que não comentam rumores.
Os cursos de medicina são os mais valorizados no ensino superior devido à uma combinação de mensalidade média de R$ 8,5 mil, baixas taxas de evasão e inadimplência. Além disso, há uma limitação para abertura de novas vagas. Há em vigor moratória de cinco anos proibindo a criação de cursos de medicina até abril de 2023. Em paralelo, há desde 2013 a Lei dos Mais Médicos que só permite a instalação dessa graduação em 67 cidades do país pré-determinadas pelo governo. As faculdades escolhidas pelo programa do governo precisam fazer investimentos nas cidades em que vão abrir seus cursos de medicina.
Com a valorização desse mercado, várias faculdades que não conseguem ser aprovados nos processos de seleção do programa Mais Médicos e discordam da moratória estão entrando com pedido de liminar. Há cerca de 180 dessas ações em análise na Justiça, que somadas representam 20 mil vagas. Em 2020, o setor privado possuía 30,2 mil vagas de medicina e as universidades públicas, 11,5 mil. Há uma briga no setor porque essas liminares permitem a abertura de cursos de medicina em qualquer praça, sem contrapartidas. O caso está em análise no Supremo Tribunal Federal (STF).
Fonte: Valor Econômico