Com receio de um rompimento dos laços entre a Casa Branca e Israel por causa da guerra em Gaza, Benny Gantz, principal rival político do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, e ao mesmo tempo um dos ministros de seu Gabinete de guerra, planejou uma viagem para Washington.
Quando Gantz o informou sobre a viagem, Netanyahu ficou furioso. “Só existe um premiê”, disse Netanyahu a Gantz, que o contrariou e se reuniu com a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, na segunda-feira – em meio ao persistente impasse nas negociações, no Egito, de uma trégua entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
O incidente, narrado por autoridades israelenses, é um reflexo do aumento das tensões na liderança israelense, à medida que seus membros entram em disputas por influência política e as divergências sobre como conduzir a guerra e garantir um acordo para libertar os reféns crescem. E isso em meio à pressão internacional cada vez maior por um cessar-fogo por causa do desastre humanitário em Gaza e à frustração crescente com a liderança de Netanyahu por parte do aliado mais importante de Israel, os EUA.
A decisão de Gantz de manter a viagem foi tomada dias depois de o terceiro membro do Gabinete de Guerra, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, ter cobrado do governo a aprovação de uma lei que permita recrutar judeus ultraortodoxos para o exército – medida que muitos dizem que derrubaria a coligação de Netanyahu, que depende de dois partidos ultraortodoxos.
Rivais de longa data, Gantz, que lidera o partido de centro-direita Unidade Nacional, e Netanyahu, que comanda o partido de direita Likud, deixaram de lado suas diferenças depois do ataque do Hamas de 7 de outubro, que desencadeou a guerra em Gaza, para formar um governo de emergência. Junto com Gallant, eles compõem o Gabinete de Guerra de três membros que é responsável por todas as decisões políticas em tempo de guerra.
Os três formam uma equipe de rivais, cada um com uma história amarga de queixas e desfeitas contra os demais. Cada um também tem ambições políticas próprias, e a maioria das pesquisas aponta que Gantz provavelmente derrotaria Netanyahu se as eleições fossem realizadas hoje.
Com fim do gabinete de emergência seremos rivais políticos”
O líder do Unidade Nacional fala abertamente sobre seu desejo de derrubar Netanyahu, mesmo dentro do Gabinete. “Com o fim do governo de emergência ou depois dele seremos rivais políticos”, disse Gantz. “Ele nunca foi meu inimigo”, acrescentou.
Gantz reuniu-se com chefes de Estado e outros dignitários estrangeiros desde o início da guerra, agindo como um foco de poder separado no Gabinete, para além de Netanyahu. Segundo autoridades israelenses, a viagem para Washington marca a primeira vez que ele planeja reuniões de alto nível sem combinar com Netanyahu.
Na segunda-feira, Gantz reuniu-se com Harris e outros altos funcionários do governo do presidente Joe Biden. Ele continuou a maratona ontem, em encontros com o secretário de Estado, Antony Blinken, e o de Defesa, Lloyd Austin.
Gantz e Harris discutiram maneiras de melhorar a situação humanitária em Gaza e como isso poderia ampliar os esforços de normalização entre Israel e os países da região, de acordo com declarações da Casa Branca e do gabinete de Gantz. Discutiram também a necessidade de remover o Hamas do poder e de que Israel estabeleça um plano humanitário crível antes de iniciar uma grande operação militar na cidade de Rafah, onde mais de um milhão de habitantes de Gaza estão refugiados.
“Ao convidar Gantz para a Casa Branca, os EUA passam um sinal inequívoco de descontentamento com Netanyahu, e de dúvidas sobre se ele ainda é o parceiro confiável e previsível de que os EUA precisam”, disse Aaron David Miller, ex-negociador dos EUA para o Oriente Médio.
Fonte: Valor Econômico

