Num momento em que a renda variável perde espaço na carteira do principal fundo da Verde Asset Management e o holofote está voltado para a estratégia de crédito, a gestora liderada por Luis Stuhlberger fez mudanças na equipe de ações.
Elmer Ferraz e dois analistas de ações deixaram a casa na segunda-feira. O gestor, vindo da família de fundos Itaú Dunamis e com uma trajetória anterior no Safra, ficou menos de dois anos na casa. Com ele, saem também Raul Cavendish e Luiz Paulo Nogueira. Por enquanto, Antônio Barreto, que também foi da equipe de Dunamis, assume como chefe de pesquisa. As decisões de investimentos em bolsa passam a ser centralizadas em Stuhlberger.
O diretor de uma gestora de fortunas, que seleciona os melhores fundos para os seus clientes, relaciona as mudanças à fraqueza de resultados do portfólio de bolsa local, com o Ibovespa patinando, e também à perda de relevância do “book” de ações brasileiras no principal fundo da asset. O crédito vem ocupando esse espaço como o próprio Stuhlberger disse em entrevista ao Valor, em janeiro.
No início de maio, em encontro com investidores, ele contou que a parcela em renda variável no Brasil tinha sido reduzida de 15% para 10% e a exposição em Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), historicamente relevante, tinha sido inteiramente vendida. Havia naquele momento uma profunda decepção com a evolução fiscal diante das mudanças nas metas de superávit previstas no orçamento.
O gestor disse que as estimativas de gastos e receitas versus o crescimento da economia fizeram do plano fiscal para 2025 uma “peça de ficção”. “A gente via o governo petista, com o Lula falando para a plateia. Mas o [ministro da Fazenda Fernando] Haddad vinha segurando as pontas. E o governo fez um arcabouço fiscal que o mercado acreditou”, afirmou. “Eu me penitencio por ter acreditado que o PT poderia minimamente ter alguma seriedade fiscal para valer.”
Da parceria com a Lumina Capital, de Daniel Goldberg, que adquiriu a fatia de 24,9% da Verde que pertencia ao Credit Suisse, no fim do ano passado, houve seis coinvestimentos em áreas distintas de crédito em situações especiais no exterior. A gestora também colocou de pé o seu primeiro veículo próprio, um fundo de investimentos em direitos creditórios (FIDC), o Ipê, em fase de captação, em que pretende levantar R$ 1 bilhão.
A Verde Asset como um todo chegou a reunir cerca de R$ 55 bilhões sob gestão em 2021, mas não passou ilesa à onda de saques nos fundos de maior risco, com a escalada da Selic dos 2% durante a pandemia até os 13,75% ao ano — passando a cair a partir de agosto de 2023. Ao fim de março, a asset tinha R$ 23,3 bilhões. Em estratégias de ações, a casa reunia R$ 1,9 bilhão. Neste ano, os resgates líquidos foram de R$ 1,9 bilhão até março, segundo a Anbima. Em 12 meses, o fluxo estava negativo em R$ 8,1 bilhões.
Segundo a Anbima, em 2022 e 2023, os multimercados perderam R$ 262,9 bilhões, com outros R$ 28,2 bilhões neste ano até março. As carteiras de ações registraram saques de quase R$ 27 bilhões em 2022, mas atraíram R$ 4,1 bilhões no ano passado, com a captação concentrada nos dois últimos meses, com R$ 30,2 bilhões. Em 2024, o fluxo é negativo em R$ 2,1 bilhões.
Ferraz chegou à Verde em dezembro de 2022, na posição que antes tinha sido ocupada por Pedro Sales, que estava ao lado de Stuhlberger desde os tempos da Hedging-Griffo, em 2005. Procurada, a Verde confirmou as movimentações na equipe.
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