Por Joe Rennison, Valor — Financial Times, de Nova York
23/06/2022 11h19 Atualizado há 23 horas
Os bancos de Wall Street vêm sofrendo fortes perdas nas operações de emissão de títulos de empresas assinadas antes da recente queda dos mercados financeiros, uma vez que os investidores agora querem descontos maiores e rendimentos mais altos para emprestar às empresas.
Quando os bancos acertam as operações de emissão de bônus em nome das empresas, normalmente definem uma taxa máxima de juros que os investidores podem esperar em troca da compra dos papéis – e incluem certa flexibilidade para o caso de variações no mercado.
Neste ano, porém, os mercados vêm caindo muito mais do que se imaginava, uma vez que os bancos centrais elevaram o custo de captação e anunciaram o fim de seus gigantescos programas de compras de títulos em resposta ao aumento da inflação, à guerra na Europa e aos problemas nas cadeias de abastecimento. Um índice composto por bônus de alto rendimento operado pela Ice Data Services acumula queda de quase 13% em 2022.
Os bancos de investimento, por sua vez, têm reduzido os preços dos títulos das empresas para tentar atrair compradores – o que corrói as comissões que ganham pela subscrição dos papéis. “Quase todo negócio que foi subscrito precisará ter um desconto e os [bancos] subscritores estão tendo que pagar por isso”, disse um executivo de um grande banco americano.
Na semana passada, a empresa de embalagens Intertape Polymer, que tem baixa classificação de crédito, captou US$ 400 milhões de investidores a juros de 10%. Essa taxa é o teto que havia sido acertado anteriormente e representava o máximo que empresa estava disposta a pagar aos compradores de seus bônus quando um grupo de bancos encabeçado pelo Deutsche Bank aceitou subscrever a transação em março, segundo fontes a par do financiamento.
Depois da recente onda de vendas nos mercados de títulos, contudo, nem uma taxa de 10% foi suficiente para atrair investidores, o que obrigou o Deutsche Bank a reduzir o preço do papel para 82% do valor de face. Com a queda no preço, o rendimento total do papel – que varia na direção oposta ao preço – subiu para mais de 14%.
Os bancos precisam pagar a diferença quando optam por um desconto no preço de um lançamento de bônus com o qual já se comprometeram. Vários executivos da área de banco de investimento disseram que nos negócios assinados na época do acordo com a Intertape Polymer havia um desconto tolerado em torno a US$ 0,02 por dólar para permitir “flexibilidade” aos subscritores na venda da operação, acompanhado de outros US$ 0,03 por dólar relativos à comissão deles.
Em última análise, quando um negócio cai abaixo de cerca de US$ 0,95 por dólar, os bancos começam a acumular perdas.
As estimativas de perdas na operação da Intertape Polymer são de cerca de US$ 50 milhões para o Deutsche Bank, Bank of Montreal, Credit Suisse, Golub Capital e Jefferies, segundo fontes a par da emissão. O Deutsche Bank não quis comentar as informações.
Descontos pesados como esse são raros no mercado de títulos de dívida de empresas. Apenas cinco outras operações desde a crise financeira de 2008 foram emitidas na faixa de 82% ou menos do valor de face atingida pela Intertape Polymer, de acordo com a firma de dados financeiros LCD.
Uma segunda emissão feita na semana passada, a da fabricante americana de materiais para chips Entegris, subscrita no fim de 2021 por um grupo bancário liderado pelo Morgan Stanley, também teve desconto e saiu por pouco menos de US$ 0,91 por dólar.
O título de US$ 895 milhões foi emitido com o cupom (taxa de juros) acordado mais alto possível, de 5,95%, de acordo com fontes a par da operação. O desconto de preço elevou o rendimento total do bônus para 7,5%. As perdas para o grupo de bancos – que inclui Barclays, Bank of America, PNC, Truist e Wells Fargo, além do Morgan Stanley – giraram em torno a US$ 35 milhões, segundo as fontes.
Os subscritores se recusaram a comentar.
Executivos de banco de investimento disseram já ter mudado sua abordagem ao subscrever novas emissões, criando uma margem maior para vender títulos com desconto no futuro, de forma a ainda poder receber suas comissões. No entanto, eles acrescentaram que levará mais alguns meses até que todos os acordos antigos sejam levados ao mercado. Acreditam que as perdas serão dolorosas, mas administráveis.
Os executivos também destacaram que as empresas expostas a reversões no ciclo econômico têm sido particularmente punidas no mercado de bônus, com a emissão da Intertape Polymer sendo apontada como um exemplo disso.
Nas próximas semanas, uma das operações que será observada de perto tanto por investidores em títulos quanto por executivos de banco de investimento é a aquisição da Citrix, uma firma de computação na nuvem. Em janeiro, a Elliott e a Vista Equity Partners assinaram acordo para fechar o capital da empresa por US$ 16,5 bilhões e depois fundi-la com a Tibco, já pertencente à Vista. A aquisição deverá precisar de bilhões de dólares em financiamento nos mercados de bônus, e as emissões dos bônus serão lideradas pelo Bank of America.
Os executivos de banco de investimento já insinuam que será necessária certa criatividade para levar a aquisição da Citrix adiante, uma vez que ela seja aprovada pelas autoridades reguladoras. “Neste ambiente, vai ser um desafio”, disse um executivo a par da operação.
Fonte: FT / Valor Econômico
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