Por Lucianne Carneiro e Marta Watanabe — Do Rio e de São Paulo
11/05/2022 05h01 Atualizado há 6 horas
Reabertura da economia, base de comparação baixa e desemprego estável combinado com uso de estoque de poupança e aumento da renda média contribuíram para um desempenho do comércio melhor que o esperado no primeiro trimestre. Embora medidas como a liberação do saque do FGTS possam ajudar no curto prazo, os economistas avaliam que no decorrer do ano fatores como inflação, juros altos e endividamento das famílias devem jogar contra.
Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada ontem pelo IBGE, o volume de vendas do varejo restrito no país subiu 1% em março, frente a fevereiro, no terceiro aumento seguido na série com ajuste sazonal – após 2,3% em janeiro e 1,3% em fevereiro. No varejo ampliado, que inclui vendas de veículos e motos, partes e peças, e material de construção, o volume de vendas subiu 0,7% na passagem entre fevereiro e março. Considerando o primeiro trimestre, o volume de vendas de varejo restrito avançou 1,9% ante o anterior, na primeira alta trimestral desde o segundo trimestre de 2021 (2,2%).
O desempenho de março, assim como nos dos dois meses anteriores, surpreendeu positivamente. Para março, a mediana das estimativas coletadas pelo Valor Data junto a 30 consultorias e instituições financeiras indicava alta de 0,4% no volume de vendas do varejo restrito ante fevereiro, com ajuste sazonal. O intervalo das projeções foi de -0,2% a +1,3%.
Cristiano Santos, gerente da PMC, observa que, a despeito da trajetória positiva do varejo neste início de 2022, o desempenho é heterogêneo e apenas quatro de dez atividades recuperaram o volume de vendas observado antes da pandemia.
“Tem uma série de fatores que influenciam o primeiro trimestre. O principal deles é uma base muito baixa de comparação de dezembro de 2021, que acaba por impulsionar alguns setores. A desocupação ficou estável frente ao quarto trimestre do ano passado, teve um componente da formalidade e uma diminuição da informalidade nesse resultado. E o outro ponto é que o rendimento médio cresceu 1,5% de um trimestre para o outro. Então tem uma aderência desse aumento de 1,9% do varejo com o crescimento médio real do rendimento”, afirmou Cristiano Santos, gerente da pesquisa.
Já a inflação, diz, jogou contra. Santos aponta a diferença entre o desempenho da receita do varejo frente ao volume. A receita nominal do varejo restrito subiu 2,9% em março, em relação a fevereiro, mas a alta do volume foi inferior, de 1%. Em três atividades, aponta, o efeito da inflação é mais intenso: combustíveis e lubrificantes, hipermercados e supermercados e tecidos, vestuário e calçados.
Para Lucas Rocca, economista da LCA, a trajetória acima do esperado do varejo no primeiro trimestre se deve ao uso de estoque de poupança acumulada principalmente desde o segundo semestre de 2020. Nos três primeiros meses, aponta, o varejo ampliado teve alta de 1,1% em relação ao trimestre anterior, com ajuste sazonal. Isso leva a um carregamento estatístico para os três meses seguintes de 1,2% para o varejo ampliado, também na margem, ajustado sazonalmente.
Isso, mais os efeitos de programas como a liberação do saque emergencial do FGTS e a antecipação do 13º salário dos aposentados, diz, devem trazer quadro ainda positivo para o varejo no segundo trimestre. No segundo semestre, porém, avalia, o nível de poupança deve cair e também haverá maior efeito de todo o cenário conjuntural. Deve haver desaceleração no volume de vendas do varejo em razão de renda real pressionada por fatores como inflação e taxa de juros alta, além de endividamento das famílias.
Claudio Considera, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), tem avaliação semelhante. Para ele, o desempenho de março foi influenciado pelo afrouxamento das regras de isolamento social, com desobrigatoriedade de máscaras e uma “sensação de fim de pandemia”, com volta às compras, ao lado da retomada de atividades de lazer presenciais O desempenho de março, porém, não deve se manter, com inflação, desemprego ainda elevado e juros altos afetando itens que precisam mais de crédito para a venda, como móveis e eletrodomésticos.
Fonte: Valor Econômico
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