O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu “reagir” à taxação do aço brasileiro promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e, eventualmente, taxar os produtos americanos. Ele fez as afirmações em entrevista à Rádio Clube do Pará, durante visita a Belém.
“Eu ouvi dizer que vai taxar o aço brasileiro. Se taxar o aço brasileiro, nós vamos reagir comercialmente, ou vamos denunciar na Organização do Comércio [OMC] ou vamos taxar os produtos que a gente importa deles”, disse Lula.
A afirmação ocorre em meio a um tarifaço promovido pelo presidente americano a produtos importados por seu país. O Brasil já foi atingido por duas dessas medidas: uma tarifa de 25% sobre as compras externas de aço, que deve entrar em vigor em março; e a promessa de aplicar tarifas de reciprocidade sobre o etanol, produto americano que sofre uma tarifa de 18% para entrar no Brasil, enquanto o combustível brasileiro é taxado em 2,5% nos EUA.
Na entrevista, Lula defendeu que o Brasil tem uma relação comercial “muito igualitária” com os EUA. No ano passado, as exportações brasileiras para o mercado americano somaram US$ 40,3 bilhões, enquanto as importações chegaram a US$ 40,6 bilhões.
“É o único país que tem superávit com o Brasil. Nós queremos paz, não queremos guerra. Nós não queremos atrito com ninguém”, disse Lula. “Ora, se o Trump tiver esse comportamento como Brasil, eu terei esse comportamento com os EUA. Agora, se tiver alguma atitude com o Brasil, haverá reciprocidade.”
Lula afirmou ainda espera que Trump “aprenda isso e que ele saiba que o mundo precisa de tranquilidade”.
“Somente com tranquilidade a economia vai crescer, as pessoas vão ficar bem de vida. E a gente vai viver num regime democrático, civilizado, respeitando as instituições brasileiras e ele respeitando as instituições dos EUA”, afirmou. “Ele [Trump] fala o que quiser, ele é presidente dos EUA. Agora, ele não pode fazer o que quiser. Porque, se ele fizer coisas que impliquem o resultado de outros países, sempre haverá reação.”
Sem relacionamento com Trump
Questionado, Lula disse que “não tem relacionamento pessoal” com Trump, realçando que “a relação é entre Estados”.
“Não tem relacionamento [com Donald Trump]. Eu não conversei com ele, ele não conversou comigo. A relação é entre Estados”, disse. “Se o Donald Trump cuidar dos EUA e os EUA cuidarem do Brasil tudo estará maravilhosamente bem.”
Mas afirmou estar preocupado com a democracia no mundo, algo que, na visão do petista, “não está valendo muito” no discurso atual do presidente dos EUA.
“O que eu estou preocupado é que os EUA, depois da Segunda Guerra, viraram uma espécie de patrono da democracia no mundo. Agora esse discurso não é mais esse. Me parece que a democracia não está valendo tanto”, afirmou. “Eles que foram o patrono do consenso de Washington e do mercado livre, agora estão defendendo o protecionismo. É um discurso que não tem nada a ver com aquilo que os EUA fizeram depois da Segunda Guerra Mundial. E eu me preocupo porque o que está em risco é a democracia.”
Cuecas ‘Made in China’
Lula disse ainda que “os EUA precisam pensar que durante mais de 60 anos incentivaram o mundo a determinado comportamento”.
“O livre comércio foi algo que eles venderam de forma alucinada. As empresas dos EUA foram para a China para aproveitar a mão-de-obra escrava de um país que tinha um regime muito duro”, disse. “Você não comprava nem uma cueca, nenhum sapato, nenhum tênis que não tivesse escrito ‘Made in China’. O que os chineses fizeram? Copiaram. O capitalismo tentou explorar uma mão de obra quase escrava. E os chineses deram uma lição, aprenderam mais do que eles.”
Fonte: Valor Econômico
