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O mercado de cursos de medicina está encerrando o ano com cinco aquisições que, somadas, movimentaram em torno de R$ 2 bilhões, segundo dados divulgados pelos grupo de educação envolvidos nas transações e estimativas do mercado. Entre os compradores estão a YduqsCotação de Yduqs, Cruzeiro do Sul, Afya, Mubadala Capital e a rede europeia Galileo – representando, juntas, 1,2 mil vagas de medicina.
A maioria dos ativos adquiridos vem de faculdades que abriram seus cursos de medicina por meio de liminar. Essas instituições conseguiram aprovação do Ministério da Educação (MEC) para operar fora do Programa Mais Médicos, que é o caminho oficial para ofertar essa graduação no país desde 2013.
Com a judicialização, houve um aumento relevante na quantidade de cursos de medicina e hoje cada vaga é vendida por cerca de R$ 1,2 milhão – metade do valor de dois anos atrás.
Nesta segunda-feira (9), a YduqsCotação de Yduqs anunciou a compra da Edufor, instituição de ensino com campi em São Luiz e Salvador e que possui 118 vagas de medicina. O valor da operação foi de R$ 145 milhões, o equivalente a R$ 1,2 milhão por vaga. Considerando que metade do negócio vai ser pago em cinco anos, o valor presente de cada cadeira de medicina cai para R$ 1 milhão. “Essa é uma operação que já gera caixa porque um dos cursos está no terceiro período. Não atrapalha nossa geração de caixa e afeta marginalmente nossa alavancagem”, disse Eduardo Parente, presidente da YduqsCotação de Yduqs, dona da Estácio.
Das vagas de medicina, 58 foram autorizadas pelo MEC em junho de 2023 e as outras 60 receberam aval da pasta em agosto deste ano. Atualmente, há 179 alunos matriculados nessa graduação. Além disso, a Edufor tem mais 2,8 mil alunos de cursos presenciais, sendo 90% nas áreas de saúde e direito.
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Em junho, a Cruzeiro do Sul adquiriu a Fapi, de Curitiba, por R$ 184 milhões, pagando também R$ 1,2 milhão por vaga – até então, esse havia sido o menor valor já fechado no setor, mas passados poucos meses essa cifra já vem caindo. A Cruzeiro foi o primeiro grande grupo a comprar uma faculdade que entrou no mercado de cursos de medicina via liminar. Outros grupos vêm seguindo o mesmo caminho.
Em outubro, dois grupos estrangeiros investiram nesse mercado. A rede europeia Galileo adquiriu o controle da Faculdade Multivix, do Espírito Santo, que possui 508 vagas de medicina. Segundo fontes, a transação foi avaliada entre R$ 750 milhões e R$ 1 bilhão, com cada vaga negociada na casa de R$ 1,5 milhão. Nesse valor, está precificada a operação de ensino a distância, um negócio que a Galileo atua e quer expandir.
Questionada, a Faculdade Multivix informou que “a transação com o Grupo Galileo é privada. Nesse sentido, dados sobre valores não estão disponíveis”.
Ainda em outubro, o Mubadala Capital, gestora de private equity (que compra participações em empresas) do fundo soberano de Abu Dhabi, comprou 100% da faculdade Inapós, de Pouso Alegre (MG), que tem 150 vagas de medicina, além de um tradicional curso de odontologia. Segundo fontes, a transação girou na casa de R$ 130 milhões. O Mubadala Capital nega o valor.
As cifras negociadas também variam conforme o risco jurídico da operação. Em maio, a Afya – a única desse grupo que não opera com cursos abertos via liminar – pagou R$ 660 milhões pela Unidompedro, com 300 vagas na Bahia, o que representa R$ 2,2 milhões, por cadeira.
A Unidompedro judicializou, mas não para driblar o Programa Mais Médicos. Ela havia pedido abertura do curso antes da aprovação da Lei dos Mais Médicos, em 2013, mas as vagas só foram autorizadas em 2020 e 2023.
Em apenas seis meses, o MEC já aprovou mais de 3 mil vagas de medicina, cuja abertura foi pleiteada via liminar. Cerca de 1 mil vagas judicializadas já foram vendidas neste ano numa demonstração de que muitos entraram com pedidos de liminar com objetivo de vender os ativos e não necessariamente para operar uma faculdade de medicina.
Os valores das vagas variam muito. Nos casos em que a pasta já deu o credenciamento de funcionamento, cada cadeira é negociada entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão. Mas há ainda outras centenas de vagas que aguardam autorização e já estão sendo ofertadas por R$ 600 mil, cada, em transações intermediadas por advogados, consultores e até corretor de imóveis. Essa diferença nos valores ocorre porque há o risco do curso ser negado pelo MEC.
Diante da grande oferta de cursos de medicina, o valor das mensalidades vem caindo e mesmo aquelas faculdades que ainda não baixaram preço estão tendo dificuldades para preencher turmas e precisando recorrer a várias listas de chamada – algo impensável há poucos anos. Entre 2014 e 2022, a relação candidato vaga nos cursos privados de medicina caiu de 31,9 para 8,9, segundo a Associação Médica Brasileira (AMB). O valor médio da mensalidade de um curso de medicina é de R$ 10 mil, mas já é possível encontrar por menos de R$ 7 mil.
Além disso, há promoções. A Faculdade de Medicina de Olinda (FMO), em Pernambuco, por exemplo, congelou o preço da mensalidades até dezembro de 2029. Até há pouco tempo, essa graduação conseguia reajustar a mensalidade acima da inflação.
Fonte: Valor Econômico