Por Guy Chazan, Henry Foy e Marton Dunai — Financial Times, de Berlim, Bruxelas e Budapeste
02/05/2022 05h03 Atualizado 02/05/2022
A Alemanha pediu um embargo gradual às importações de petróleo da Rússia para a União Europeia (UE), aumentando a pressão para que Bruxelas firme um acordo entre os membros divididos do bloco, antes de uma semana que será difícil para a política da UE sobre a energia russa.
Jörg Kukies, um dos assessores mais próximos do premiê Olaf Scholz, disse ontem que Berlim é a favor de um embargo ao petróleo russo, mas precisa de “alguns meses” para se preparar para o fim dos embarques. Separadamente, o Ministério da Economia alemão disse ontem que pode acabar com sua dependência do petróleo russo até o fim do terceiro trimestre. “Um embargo de petróleo com um período de transição suficiente seria, portanto, gerenciável.”
Com a UE discutindo nesta semana sanções mais duras contra Moscou, a disposição de Berlim de acelerar seu cronograma aumenta a possibilidade de um embargo total ao petróleo russo pela UE.
A Alemanha, a maior economia do bloco e seu membro mais poderoso, inicialmente relutou em impor sanções ao petróleo russo depois da invasão da Ucrânia por Vladimir Putin. Mas com o avanço da guerra, ela acabou mudando de posição, num sinal da determinação da UE de parar de comprar energia de Moscou apesar do potencial impacto econômico dessa decisão sobre o bloco.
“Estamos pedindo um período considerável de transição”, disse Kukies ao “Financial Times”. “Queremos parar de comprar o petróleo russo, mas precisamos de um pouco de tempo para ter certeza de que conseguiremos outras fontes de petróleo para o nosso país.” A maioria das refinarias alemãs já mudou para outros fornecedores.
As tensões entre a Rússia e o Ocidente por causa da energia aumentaram nos últimos dias, com Moscou cortando o fornecimento de gás para a Polônia e a Bulgária. A Comissão Europeia está elaborando um sexto pacote de sanções contra a Rússia por causa da invasão da Ucrânia, agora em seu terceiro mês. As medidas deverão mirar o petróleo russo, bancos da Rússia e Belarus e mais indivíduos e empresas.
Autoridades da Comissão Europeia reuniram-se com embaixadores dos Estados-membros neste fim de semana, num esforço para chegar a um consenso sobre os termos de detalhes de eventuais medidas para conter a entrada de petróleo russo, que responde por mais de um quarto das importações totais de petróleo do bloco. Elas esperam elaborar uma proposta formal até amanhã.
Os embaixadores irão discutir essa proposta na quarta-feira, segundo disseram duas autoridades envolvidas nas discussões, alertando que um acordo final poderá não surgir nessa reunião.
Enquanto Berlim quer um embargo ao petróleo, alguns países, como a Itália, pressionam por outras medidas como um teto aos preços ou a imposição de uma tarifa ao petróleo russo. A Polônia e os países bálticos estão pedindo uma proibição total. As infraestruturas de petróleo da Hungria e da Eslováquia adaptadas à Rússia, e a condição de os dois países não terem litoral, significam que eles têm poucas opções de fornecimento de petróleo e que eles também teriam que reformular suas redes físicas de processamento de petróleo.
“Isso não é só uma questão de tomar uma decisão política, mas também uma questão de engenharia”, disse uma autoridade da UE, que acrescentou que os países afetados pressionam por um pacote de financiamento que os ajudem a pagar pelos gastos de infraestrutura necessários em troca de seu apoio a um embargo.
O premiê da Hungria, Viktor Orbán, alertou que seu governo “não cederá a nenhuma pressão para estender as sanções contra a Rússia por gás ou petróleo, e que isso mataria a economia húngara”. O ministro do Exterior, Peter Szijjarto, disse à CNN na semana passada que 85% do fornecimento de gás da Hungria e 65% de seu petróleo vêm da Rússia e “não há rotas de entrega alternativas que tornariam possível para nós nos livrar do petróleo e gás russos nos próximos dois anos… Fizemos tudo o que podíamos para diversificar.”
A Alemanha também terá que se adaptar rapidamente se um embargo ao petróleo for decidido. O maior desafio é apresentado por duas refinarias no leste da Alemanha, Schwedt e Leuna, que são altamente dependentes do petróleo russo. As duas estão conectadas a um oleoduto que bombeia petróleo diretamente da Rússia.
Kukies disse que as autoridades estão discutindo com “várias companhias de petróleo, a Comissão Europeia e o governo polonês” quanto ao fornecimento de alternativas para Schwedt, um processo que reconheceu ser “desafiador”. Mas ele insistiu que a Alemanha “resolverá todos os problemas até o fim do ano, no mais tardar.”
A discussão sobre as sanções ao petróleo deve ocorrer hoje num encontro de emergência dos ministros da Energia da UE para discutir as implicações da decisão da companhia estatal russa de gás Gazprom de suspender o fornecimento para a Polônia e a Bulgária na semana passada. A Rússia fechou a torneira do gás depois que os dois países se recusaram a cumprir um decreto do presidente Putin que exige que os países europeus façam os pagamentos pelo gás russo apenas em rublos. Bruxelas alertou os Estados-membros que fazer isso seria uma violação das sanções impostas pela UE.
Fonte: Valor Econômico