A União Europeia (UE) está preparada para usar todas as ferramentas disponíveis para defender suas economias se a China não oferecer um livre acesso ao seu mercado. A afirmação foi feita nesta segunda-feira pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, após discussões com o presidente da China, Xi Jinping, em Paris.
Ela acrescentou que produtos chineses fortemente subsidiados como veículos elétricos e aço estão inundando a Europa e disse que o mundo não consegue absorver o excedente de produção da China.
Leyen fez suas declarações depois de uma reunião com o presidente francês Emmanuel Macron e Xi, que está em visita de Estado à França antes de seguir para a Sérvia e a Hungria em sua primeira viagem ao bloco em cinco anos.
“Para o comércio ser justo, o acesso ao mercado de cada um também precisa ser recíproco”, disse ela. “Discutimos como fazer progressos reais no acesso ao mercado. Continuo confiante de que se pode progredir mais. Ao mesmo tempo, estamos prontos para fazer uso pleno de nossos instrumentos de defesa comercial se isso for necessário.”
A UE está endurecendo suas relações comerciais com a China, reverberando as preocupações dos EUA com o excesso de capacidade alimentado pelo Estado na indústria verde. A mudança retórica já havia sido colocada em prática quando a UE lançou uma investigação sobre subsídios a veículos elétricos chineses no quarto trimestre de 2023, que poderá resultar na introdução de novas tarifas até julho. Ela também está investigando outros setores como os de energia eólica, solar e ferroviário.
Leyen disse que a UE poderá usar ferramentas como o Instrumento Internacional de Aquisições, que foi criado em 2022 e usado pela primeira vez no mês passado, para lançar uma investigação sobre as compras de dispositivos médicos pela China. Bruxelas poderá restringir o acesso da China a licitações públicas se chegar à conclusão de que há uma falta de reciprocidade.
“A Europa não pode aceitar práticas que distorcem o mercado e que poderão levar à desindustrialização”, disse Leyen.
A China nega estar gerando um excesso de capacidade produtiva e acusa a UE de protecionismo. Segundo a agência oficial de notícias chinesa “Xinhua”, Xi reiterou essa posição nas discussões com Macron e Leyen, afirmando que não há problema de capacidade sob a perspectiva da vantagem comparativa ou demanda do mercado global.
A França tem sido um dos principais defensores da postura mais firme da UE. Em um discurso no mês passado em que expôs sua visão para o futuro da Europa, Macron apelou à UE para que se esforce mais para repetir os subsídios que estão sendo oferecidos pelo governo nos EUA e introduza preferências à indústria local em setores estratégicos como os de Inteligência Artificial (IA) e tecnologias verdes.
O ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, disse que as mudanças representam o fim da era da “globalização feliz” e que a UE precisa agora mostrar seus dentes. Discursando em uma conferência de líderes empresariais franceses e chineses que coincidiu com a visita de Xi, ele disse que chegar a um equilíbrio é algo ainda distante, uma vez que a França tem, sozinha, um déficit comercial de 46 bilhões de euros (US$ 49,6 bilhões) com a China.
Em resposta ao ministro francês, Yu Yuantang, chefe do departamento do Ministério do Comércio da China dedicado à Europa, disse que seu país nunca buscou desequilíbrios. “Acreditamos apenas que quando as duas nações comercializam, aproveitamos as nossas próprias vantagens competitivas e então nossas empresas podem negociar com um ambiente aberto, justo, estável e não discriminatório”, disse ele.
A China não ficou de braços cruzados enquanto a Europa se tornava mais assertiva. Em janeiro, Pequim lançou uma investigação anti-dumping sobre bebidas alcoólicas, uma medida que poderá prejudicar desproporcionalmente os fabricantes franceses de conhaque. Durante a visita de Xi, eles apelaram para um acordo que resolva a questão, alertando que a bebida gera 70.000 empregos diretos e indiretos no país.
“As ações da Comissão Europeia transmitem sinais negativos e errados que causaram preocupações na China e na UE e afetaram negativamente os laços comerciais”, disse Yu.
Leyen disse que encorajou o governo chinês a resolver a questão das “capacidades estruturais excessivas”, uma vez que a China “continua apoiando muito seu setor industrial”, enquanto a demanda interna não cresce. “Uma China que joga de forma justa é boa para todos nós”, disse ela. “Ao mesmo tempo, a Europa não hesitará em tomar as decisões difíceis necessárias para proteger sua economia e sua segurança.”
Momentos antes de o presidente chinês chegar ao Palácio do Eliseu nesta segunda, o ministro Le Maire assinou um acordo com o setor automobilístico francês que visa proteger e aumentar a produção de veículos elétricos em solo francês. Ele inclui compromissos em continuar limitando o apoio financeiro aos consumidores de carros com as menores pegadas ambientais – uma decisão que na prática exclui muitos veículos elétricos chineses.
No entanto, com a visita de Xi, Macron também tenta equilibrar os atritos na amizade entre os dois países, com a França tentando atrair os investimentos chineses de que precisa para estimular sua indústria automobilística. Falando ao lado de representantes do setor automobilístico francês, Le Maire disse que o governo é a favor da abertura de fábricas da chinesa BYD na França, como faz a Toyota do Japão no passado. “A BYD é bem-vinda à França e a indústria automobilística chinesa é bem-vinda à França”, afirmou ele.
Leyen acrescentou que ela e Macron conclamaram Xi a usar sua influência sobre o presidente russo Vladimir Putin para acabar com a guerra na Ucrânia, acrescentando que a posição da China no conflito está afetando as relações entre Pequim e a UE. Ela também disse que a China pode ajudar a limitar a proliferação de mísseis e drones no Irã.
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Reunião entre os presidentes da China, Xi Jinping, da França, Emmanuel Macron, e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen — Foto: Gonzalo Fuentes/AP
fonte: valor econômico

