Por Agências internacionais — Londres
05/09/2022 09h17 Atualizado há 13 horas
Liz Truss, de 47 anos, será a nova premiê do Reino Unido. Ela vai suceder Boris Johnson, que renunciou em julho, em meio a uma série de escândalos. Truss será a terceira mulher a governar o país. Ela assumirá num momento extremamente difícil, tanto política como economicamente. O país atravessa uma série de crises, que exigirão medidas rápidas. Ela dificilmente conseguirá cumprir sua promessa de campanha de cortar impostos.
Truss venceu a disputa interna pela liderança do Partido Conservador, derrotando o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak. Como o partido tem maioria no Parlamento britânico, ela se tornará premiê. Truss será a terceira mulher a ocupar o cargo, depois de Margareth Thatcher (que governou de 1979 a 1990) e Theresa May (2016-19), ambas também conservadoras.
Ela será também o quarto premiê do Reino Unido em seis anos, o que denota um período de instabilidade política e de governos enfraquecidos após o Brexit, a saída do país da União Europeia (UE).
O novo governo assumirá em meio a ampla desconfiança. Uma pesquisa do instituto YouGov divulgada ontem indicou que apenas um em cada sete britânicos acredita que Truss vai se sair melhor do que seu antecessor.
Truss, que foi ministra das Relações Exteriores de Johnson, terá de lidar imediatamente com uma economia à beira da recessão, com a disparada dos preços da energia e inflação no maior nível em 40 anos, com a guerra na Ucrânia, com uma grave disputa com a UE e com uma série de greves. Sua lua-de-mel no governo será curta.
A economia britânica sofre com problemas herdados da saída da UE. O Brexit prejudicou o comércio com o maior parceiro comercial do país e reduziu o acesso de empresas britânicas a mão de obra barata vinda da UE.
A esse choque se somou a recente crise energética causada pela guerra na Ucrânia. O Reino Unido não compra mais gás nem petróleo da Rússia, mas opera no mercado energético europeu, que foi abalado pela decisão de Moscou de reduzir praticamente a zero as exportações de gás para a UE. O preço do gás disparou no mercado europeu, o que fez subir os custos para as geradoras britânicas.
Truss terá de rapidamente adotar medidas para mitigar o aumento de preços para as famílias e as empresas britânicas. A UE estuda intervir nos mercados, além de subsidiar parte do aumento das contas de energia. Sem um pacote de ajuda, estima-se que a renda média disponível dos britânicos cairá US$ 3.500 no ano, o que geraria a maior redução no nível de vida em um século, segundo a Resolution Foundation.
A mídia britânica diz que Truss avalia um pacote de dois anos de ajuda para reduzir a conta de energia, que custaria 100 bilhões de libras (cerca de US$ 115 bilhões).
Esse elevado gasto extra deverá catapultar a dívida pública e vai dificultar, ou até inviabilizar, a promessa de Truss de cortar impostos.
Segundo projeções da OCDE, o Reino Unido deverá ser o país do G7 (grupo das sete maiores economias desenvolvidas) com menor crescimento (0%) e maior inflação (7,4%) em 2023. Isso indica um cenário de estagflação prolongada.
A nova premiê prometeu manter o apoio britânico, militar, político e financeiro, à Ucrânia no atual conflito com a Rússia.
Truss terá de lidar ainda com uma crise iminente com a UE. Pelo acordo do Brexit, a Irlanda do Norte (que faz parte do Reino Unido) continuou dentro do mercado comum europeu. O objetivo disso foi evitar criar uma fronteira entre a Irlanda do Norte e a vizinha Irlanda (que é da UE), o que poderia ameaçar o acordo de paz na ilha.
Esse arranjo, porém, implica numa alfândega interna entre a Irlanda do Norte e o restante do Reino Unido. Recentemente o governo britânico informou as siderúrgicas do país que elas terão de pagar imposto à UE para enviar aço para a Irlanda do Norte, pois a cota anual de importação da UE livre de impostos fora atingida. Criou-se assim a situação que uma empresa britânica tem de pagar imposto à UE para enviar aço para uma região que integra o Reino Unido.
Truss ameaçou invocar a cláusula do acordo do Brexit que permite suspender as regras comerciais em caso excepcionais. A UE, por sua vez, ameaçou suspender todo o acordo do Brexit, o que pode gerar uma guerra comercial.
Fonte: Valor Econômico
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