O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump tem uma base entusiasmada e está em vantagem nas pesquisas nos Estados ainda indefinidos. Mas em termos de recursos disponíveis, ele não chega nem perto de seu rival, o presidente Joe Biden.
Os problemas financeiros tornaram-se uma grande vulnerabilidade para o candidato republicano no momento em que ele entra no que se acredita que será a eleição presidencial mais cara da história. Trump acumulou milhões de dólares em honorários advocatícios que precisa pagar e, para piorar, na segunda-feira vence o prazo para que ele deposite uma caução de US$ 454 milhões em um processo judicial.
A diferença entre as contas bancárias dos dois candidatos é gritante. Biden e o Partido Democrata começaram março com US$ 155 milhões, segundo a campanha do presidente. Isso supera em mais de três vezes os US$ 50 milhões que Trump e o Republican National Committee (RNC) tinham à disposição, de acordo com os últimos informes à Comissão Eleitoral Federal. Se isso for somado ao que foi arrecadado pelo super comitê de financiamento de campanha (PAC, na sigla em inglês) que o apoia, o total de que Trump dispõe sobe para US$ 76 milhões, ainda bem abaixo do que Biden tem.
Outros super PACs que sustentaram Trump em eleições passadas e apoiam candidatos republicanos ao Congresso têm US$ 26 milhões disponíveis, pelos últimos informes à Comissão Eleitoral Federal. Em contrapartida, os super PACs aliados de Biden contam com US$ 64 milhões e alguns grupos já se comprometeram a gastar pelo menos US$ 900 milhões para ajudar a reelegê-lo.
A equipe do ex-presidente tem tentado diminuir essa diferença. Segundo fontes familiarizadas com esse esforço, a diretora financeira nacional de Trump, Meredith O’Rourke, ampliou o alcance da campanha para conseguir doações. O objetivo é garantir cheques neste momento, para mostrar que Trump tem um esquema viável de arrecadação para a campanha.
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Arte_Biden_fundos — Foto: Arte/Valor
Um porta-voz de Trump não respondeu a pedidos de comentários.
Trump tem telefonado pessoalmente para doadores ricos, de acordo com fontes a par desses pedidos. Possíveis doadores foram convidados para jantar no clube Mar-a-Lago do ex-presidente, na Flórida, ou para participar de eventos de arrecadação de recursos em casas particulares. Na Superterça, o principal super PAC de Trump promoveu uma atividade de levantamento de recursos em Mar-a-Lago para doadores de grande poder aquisitivo, como o proprietário do New York Jets, Woody Johnson.
“Eles estão com o pé no acelerador porque ainda têm de recuperar algum terreno”, disse Henry Barbour, membro do RNC, sobre os esforços de arrecadação.
Os aliados e consultores de Trump não têm expectativas de conseguir igualar a prolífica operação para angariar fundos de Biden, segundo fontes familiarizadas com o assunto. Mas os assessores de Trump mostraram-se confiantes de que ele levantaria dinheiro suficiente para competir em novembro. Essa é uma posição familiar para Trump, que ganhou a eleição em 2016 apesar de só ter arrecadado cerca de metade do total de Hillary Clinton e seus aliados.
A marca tóxica de Trump em enclaves costeiros abastados e os quatro processos criminais a que responde dificultam sua arrecadação para a campanha.
Um republicano que têm fortes ligações com Wall Street disse que outros republicanos que conhece procuram fazer suas doações para entidades que não divulgam a identidade de seus contribuintes. Eles não estão dispostos a enfrentar o escrutínio de seus funcionários e dos meios de comunicação a respeito dos últimos comentários incendiários de Trump sobre imigrantes, minorias e aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Doadores também se perguntam se seu dinheiro irá para o custeio de honorários advocatícios. Trump já gastou US$ 64 milhões com advogados e está no rumo de esgotar os recursos que tem usado para pagá-los nos próximos meses. Isso significa que ele terá de recorrer ao RNC – cuja liderança diz que não pagará – ou contar com doadores para ajudá-lo a cobrir os custos.
Em vez disso, muitos doadores de Wall Street têm preferido fazer doações para republicanos que tentam recuperar o controle do Senado, segundo contou uma fonte. Muito poucos gostam de Biden, mas eles continuam reticentes em voltar a dar apoio financeiro a Trump.
Os primeiros dados sobre doações de campanha também mostram que a outrora poderosa máquina arrecadadora de pequenos dólares de Trump pode estar mais fraca. Em 2023, o ex-presidente arrecadou US$ 50,4 milhões de pequenos doadores, cerca de US$ 82 milhões a menos do que em 2019, quando era presidente e não enfrentava oposição nas primárias.
A relativa falta de recursos de campanha de Trump resultou em uma programação de atividades mais enxuta.
Sua equipe acompanha com atenção os gastos e define com muito cuidado quando e onde realizar comícios, às vezes preferindo locais menores. A campanha reduziu os custos dos comícios ao trabalhar sempre com a mesma produtora. A equipe pessoal de Trump tem aproximadamente metade do tamanho que tinha nesta altura de 2020.
Os grandes doadores poderiam ajudar a reduzir a diferença com a campanha de Biden. O gestor de fundos de hedge John Paulson será o anfitrião de uma atividade de levantamento de recursos no dia 6 de abril, em Palm Beach – que uma fonte familiarizada com o evento classificou como um sinal de vida na operação de arrecadação de Trump.
Mais de 50 pessoas planejam comparecer, entre elas algumas que só recentemente voltaram à esfera de Trump. Isto indica que o ex-presidente começou a conquistar alguns membros da classe dos doadores que estavam hesitantes em apoiá-lo.
Entre as presenças esperadas estão os megadoadores republicanos Rebekah e Robert Mercer, que se afastaram da política, e o empresário do setor hoteleiro Robert Bigelow, que foi o maior doador de Ron DeSantis e se comprometeu a dar US$ 20 milhões para Trump. O investidor Omeed Malik, outro que apoiou DeSantis, também está na lista de convidados.
O empresário de Las Vegas Steve Wynn, Pepe Fanjul, da Florida Crystals, e o ex-secretário do Comércio Wilbur Ross são outros que planejam comparecer. Segundo o convite, o preço por pessoa para sentar-se na mesa de Trump e tirar uma foto é de US$ 814.600 – a doação máxima para a campanha, o RNC e os partidos estaduais. Por US$ 250 mil, os participantes podem conseguir “assentos VIP para o jantar, a recepção e a oportunidade para fotos”.
Organizar jantares íntimos com doadores ricos e o ex-presidente será uma marca distintiva da campanha de arrecadação, de acordo com fontes familiarizadas com os planos.
Outras organizações conservadoras poderiam ser uma opção para doadores preocupados com o risco de que sua reputação seja prejudicada por apoiarem a campanha do ex-presidente, ou com a possibilidade de que seu dinheiro seja desviado para pagar seus advogados.
Entidades do chamado “dark money”, como a Marble Freedom Trust do ativista Leonard Leo, que não precisam divulgar publicamente quem são seus doadores, mas podem contribuir para super PACs, podem viver um grande onda de contribuições. Também estão sendo criados novos super PACs aliados de Trump para chegar até os doadores relutantes. Um representante de Leo não respondeu a pedidos de comentários.
Financiar os advogados de Trump não é uma preocupação para todos os seus partidários.
“Se o cara quer ganhar, não me importa para onde vai o dinheiro”, disse o magnata dos supermercados de Nova York John Catsimatidis.
Fonte: Valor Econômico

