Quando um morador do Reino Unido precisa acessar o sistema de saúde para casos que não se caracterizam como emergenciais, ele é orientado a procurar por espaços que fazem um primeiro atendimento. Só então, se for o caso, seguem para hospitais. E é dessa forma, com foco no cuidado primário e normas claras para a jornada do paciente, que o National Health System (NHS) britânico se sustenta como um dos mais influentes sistemas nacionais de saúde do mundo. Foi o que explicou Thereza May, primeira-ministra do Reino Unido e líder do Partido Conservador entre 2016 e 2019, no palco do 28º Congresso Abramge.
“Os clínicos gerais dos centros médicos estão no centro do trabalho da NHS. Eles é que definem o melhor caminho a ser tomado para cada caso. Assim evitamos aumentar a pressão sobre os hospitais”, ela relatou, em conversa com a jornalista Natuza Nery.
May lembrou que, para manter o atendimento universalizado, é preciso atender a uma série de demandas que pressionam o serviço, incluindo acompanhar o envelhecimento da população e atender às consequências do aumento dos índices de obesidade. Outra demanda é fortalecer o cuidado com doenças de fundo psicológico. “Historicamente, a NHS é muito eficiente para atender a doenças físicas, mas não tanto para a saúde mental. Essa situação está mudando”, disse.
Com relação à implementação de novas tecnologias, que desafia o setor de saúde no mundo todo, a ex-primeira-ministra explicou: “O importante é definir como introduzir essas soluções. O sistema prevê que dispositivos e medicamentos sejam rigorosamente testados e validados, e sua incorporação leva em conta os custos para a NHS.”
MUDANÇAS NO BRASIL
O exemplo britânico aponta caminhos para o Brasil, que neste momento debate uma série de ajustes para seguir avançando diante de um cenário marcado pelas transformações. “Temos um sistema inclusivo, abrangente, legado da redemocratização. Ao desafio de atuar em parceria entre os sistemas público e privado se somam outros, como o envelhecimento da população e os avanços da tecnologia, que deram origem a medicamentos e tratamentos para doenças complexas, que estão na base da questão da judicialização”, relatou Nísia Trindade, ministra da Saúde.
Por sua vez, Adriano Massuda, secretário de Atenção Especializada à Saúde, apontou: “Estamos conduzindo uma importante mudança no formato da atenção especializada, para reorganizar a lógica do cuidado, saindo do pagamento por procedimento, como também se faz na saúde suplementar, para financiar cuidados integrados”.
Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, detalhou os avanços na direção de fortalecer o compartilhamento de dados, com segurança. “Estamos preparando o terreno da interoperabilidade em todo o território nacional. Não é só para o Sistema Único de Saúde (SUS), mas também para a saúde suplementar. O paciente é o mesmo”, declarou.
Além do ministério, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) também marcou presença em peso no 28º Congresso da Abramge. O presidente, Paulo Rebelo, anunciou: “Temos buscado formas de coibir a judicialização excessiva”. Jorge Antonio Aquino Lopes, à frente da Diretoria de Normas e Habilitação das Operadoras (Diope), informou: “Estamos debatendo uma nova classificação de companhias, com base na revisão dos critérios de habilitação”.
Por fim, Alexandre Fioranelli, titular da Diretoria de Normas e Habilitação dos Produtos (Dipro), apontou: “Estamos debatendo a possibilidade de criar uma agência única de tecnologia”. Aliás, a unificação das agências que avaliam novos medicamentos e tratamentos, nos sistemas público e privado, é um dos principais exemplos de integração na área da saúde.
Observatório do Consumidor da Saúde reforça laços da saúde suplementar com a sociedade
Para reduzir os conflitos na relação de consumo, que no setor de saúde se traduzem em judicialização exagerada, o diálogo é fundamental. Com esse conceito em vista, a Abramge lançou, em parceria com o Instituto de Pesquisas e Estudos da Sociedade e Consumo (IPSConsumo), uma iniciativa pioneira, o Observatório do Consumidor da Saúde.
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Trata-se de um grupo de estudos dedicado a entender a fundo as demandas dos cidadãos brasileiros em relação à saúde, assim como diagnosticar os principais motivos do surgimento de conflitos entre empresas e segurados. De acordo com a presidente do IPSConsumo, Juliana Pereira, que é advogada especializada em Direito do Consumidor e ex-chefe da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), essa é uma iniciativa pioneira e relevante.
“É a primeira vez que vejo uma entidade assumir um compromisso dessa envergadura”, disse ela. “Vamos olhar para além das estatísticas, analisar as motivações e as demandas dos usuários do sistema e gerar estudos detalhados que apoiem as empresas na tomada de decisões e em suas estratégias de comunicação.”
COMUNICAÇÃO
A comunicação dos planos de saúde precisa ser, de fato, melhorada, afirmou Antonio Saldanha Palheiro, ministro do Superior Tribunal de Justiça, durante a apresentação dos dados da pesquisa “Raio-x da saúde suplementar”, realizada pela FGV Justiça e pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (veja os principais dados do estudo abaixo).
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“O que o levantamento aponta é que o setor é bem avaliado, mas sujeito a mal-entendidos. Atualmente, 82% consideram os valores cobrados altos ou muito altos. Mas as pessoas não sabem, por exemplo, que a inflação médica é mais alta do que a inflação média.”
Como apontou o presidente da Abramge, Gustavo Ribeiro, os planos de saúde nacionais estão preparados para avançar, especialmente se passar a contar com segurança jurídica. “O setor já foi testado e aprovado. Contudo, há muitas lições de casa a serem feitas.”
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Fonte: Valor Econômico