Por Augusto Decker, Gabriel Roca, Igor Sodré e Matheus Prado — De São Paulo
27/09/2022 05h02 Atualizado há 5 horas
A semana que antecede as eleições no Brasil começou de forma bastante tensa no mercado financeiro. O dólar chegou a ser negociado ontem acima dos R$ 5,40, no maior nível em mais de dois meses. Já o Ibovespa terminou com desvalorização de 2,33%, e os juros futuros subiram na B3.
O crescente nervosismo no cenário internacional – com o Reino Unido no epicentro ontem -, em meio a temores cada vez mais fortes de uma recessão, atingiu os já tensos mercados locais, que registraram performance pior que a de seus pares. O real teve o mais fraco desempenho entre as 33 principais moedas globais. No encerramento dos negócios, o dólar tinha alta de 2,52%, cotado a R$ 5,3804 – depois de chegar a R$ 5,4164. No fim do dia, o Banco Central anunciou que fará na manhã de hoje leilão cambial que pode movimentar US$ 1 bilhão. O BC realizará leilões de venda conjugados com operações de compra de dólares, na modalidade pós-fixado Selic.
“Agora, na véspera da eleição, há uma tendência dos investidores quererem ir ‘mais leves’ para o fim de semana, diminuindo suas exposições”, diz Fábio Guarda, sócio e gestor da Galapagos Capital. “Temos uma semana bastante cheia no país, com IPCA-15, ata do Copom, Relatório Trimestral de Inflação. Tudo isso precipita um pouco uma ‘zeragem de risco’, uma diminuição de exposição ao mercado local. Ele [o investidor estrangeiro] acaba saindo um pouco por conta de um maior risco, o que, não necessariamente, envolve uma piora de cenário”, completa.
Na bolsa de valores, o clima negativo afetou o mercado de uma forma geral. Apenas 3 das 92 ações do Ibovespa terminaram o pregão com algum ganho. Entre as maiores quedas, 3R Petroleum ON perdeu 6,83%, Petz ON recuou 6,63% e Magazine Luiza ON, 6,26%. Considerando as “blue chips”, o papel Itaú PN recuou 1,80%, seguido de Bradesco PN (-1,59%). Vale ON caiu 0,83% e Petrobras PN cedeu 1,6%. O Ibovespa, após queda de 2,33%, encerrou aos 109.114 pontos – menor patamar desde 9 de agosto.
Na renda fixa, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 subiu de 12,810% para 12,950%; e a do DI para janeiro de 2027 avançou de 11,38% para 11,695%.
Globalmente, o novo plano fiscal anunciado pelo governo do Reino Unido, que fez investidores precificarem uma alta expressiva nos juros pelo Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) em sua próxima reunião, foi o principal catalisador. “A grande mudança veio do comportamento dos mercados lá fora. A gente acabou entrando no pacote de estresse nesse movimento iniciado na curva de juros do Reino Unido”, diz Gustavo Menezes, gestor macro da AZ Quest.
Ainda segundo o executivo, as moedas emergentes que, de alguma maneira, estavam se segurando frente às divisas de países desenvolvidos, não tiveram como passar ilesas vendo uma magnitude de alta esperada tão grande nos juros do Reino Unido, que acabou pegando Europa e Estados Unidos. Ele sugere que o mercado começa a se questionar e se antecipar às possíveis posturas futuras de outros BCs.
O índice DXY, que mede a força do dólar ante uma cesta de seis divisas principais, operava, por volta das 18h, em alta de 0,82%, negociado aos 114,119 pontos, nas máximas históricas. Na comparação com divisas emergentes, o dólar avançava 0,92% ante o peso mexicano; 0,72% ante o rand sul-africano; 2,42% contra o peso chileno; e 0,18% ante a lira turca.
“Na semana passada, o Ibovespa subiu mais de 2% e as bolsas americanas fecharam em forte queda, então ficamos com alguma gordura. E na semana final antes da eleição, é normal que a bolsa fique mais nervosa”, afirma Pedro Galdi analista da Mirae Asset. Ele destaca ainda que a possibilidade de recessão na Europa e nos Estados Unidos, a desaceleração na China e a guerra da Ucrânia contribuem para o ambiente de volatilidade. “É o investidor que quer reduzir o risco realizando onde há mais liquidez”, afirma.
Apesar da volatilidade no curto prazo, o Goldman Sachs afirma, em relatório, que o Ibovespa tem espaço para alcançar os 121 mil pontos ainda em 2022. “O movimento seria consistente com níveis do primeiro trimestre, embora pouco acima da nossa meta para o fim do ano, de 116 mil pontos”, diz o texto assinado por Ceasar Maasry e Jolene Zhong.
Quanto ao posicionamento para a eleição, o banco sugere que investidores considerem empresas cíclicas domésticas. Conforme o boletim, a estabilidade nos juros deve ajudar a performance dessas empresas, “uma tendência provavelmente desconectada com o resultado eleitoral num prazo muito curto, e razoavelmente isolada da atual volatilidade significativa de mercados macroeconômicos globais”.
Fonte: Valor Econômico

