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A regulamentação da telemedicina em 2022 e a melhora na conectividade impulsionaram os atendimentos virtuais em todo o país na rede pública e privada, facilitando o treinamento de profissionais e o acompanhamento de diagnósticos em regiões remotas e nas periferias das grandes cidades.
Pesquisa da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) mostra que foram realizados mais de 30 milhões de consultas remotas no país em 2023, um aumento de 172% em comparação aos 11 milhões entre 2020 e 2022.
A tecnologia é fundamental na capacitação de profissionais em regiões carentes de recursos de saúde. O Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e o núcleo de inovação Inova HC desenvolveram um programa, em conjunto com a Deloitte, para a interligação de equipamentos de ultrassom portáteis de regiões sem acesso à saúde com profissionais não médicos, sob a supervisão de especialistas, em locais como o Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso. “Por meio da telemedicina, os médicos recebem treinamentos do Instituto de Radiologia do HC para fazer diagnósticos por imagem”, explica Giovanni Cerri, presidente dos conselhos do Instituto de Radiologia (InRad) e de Inovação (InovaHC), do Hospital das Clínicas da FMUSP.
Outra iniciativa une o InovaHC e a Beneficência Portuguesa (BP), conectando médicos com instituições de saúde do Maranhão, Piauí e Alagoas, para melhorar a qualidade de laudos de exames voltados à saúde da mulher. “Conseguimos uma análise mais rápida do diagnóstico de câncer para tratamento precoce, reduzindo o tempo de espera dos laudos, que eram de 90 dias e passaram para apenas um dia”, destaca Cerri.
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A troca de conhecimento entre a rede pública e a privada está na origem do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), do Ministério da Saúde, em parceria com os hospitais filantrópicos Israelita Albert Einstein, Sírio-Libanês, Hcor, BP, Alemão Oswaldo Cruz e Moinhos de Vento. Guilherme Schettino, diretor de responsabilidade social do Einstein e um dos representantes institucionais do Proadi-SUS, ressalta que o sistema facilita a capacitação profissional de trabalhadores do SUS e de cuidados do paciente em especialidades mais complexas, como transplantes de órgãos, cirurgias e doenças congênitas.
O programa inclui as TeleAmes (ambulatório de especialidades por telemedicina) com o apoio do Einstein, que conecta médicos em 12 especialidades para as regiões Norte e Centro-Oeste, e o TeleNordeste para 20 especialidades na região Nordeste. As consultas são agendadas conforme a especialidade, os dados do paciente e exames são enviados para o médico remoto e o atendimento é feito junto ao profissional de origem.
No total, são realizadas cerca de 16,7 mil consultas via telemedicina por mês, com mais de 90% dos casos solucionados nos dois projetos. “Essa troca de informações e capacitação de profissionais leva em conta medicamentos disponíveis no SUS”, destaca Schettino.
O hospital filantrópico Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR), com 369 leitos e especializado em pediatria, investiu R$ 15 milhões em telemedicina e realiza seis mil teleconsultas (contato direto médico-paciente por videoconferência) por ano, o que representa entre 5% e 7% dos atendimentos. Para pacientes em áreas remotas ou com dificuldade de locomoção, oferece a teleinterconsulta, atendimento intermediado por outro profissional de saúde que coleta os dados do exame físico e auxilia o médico remotamente em 47 especialidades pediátricas. “Temos nove Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) interligadas com 51% de resolutividade dos casos analisados na própria UPA, sem a necessidade de encaminhar o paciente para internamentos subsequentes”, afirma José Álvaro Carneiro, diretor-corporativo do Complexo Pequeno Príncipe.
Os planos de saúde têm expandido a opção de telemedicina para os segurados, unindo comodidade e redução de custos. A Hapvida NotreDame Intermédica, com uma carteira de nove milhões de planos de saúde, faz 210 mil teleconsultas eletivas de urgência (consultas por videoconferência com ou sem hora agendada) por mês, o que representa 11% do mix de atendimentos. “Na teleinterconsulta hospitalar (atendimento virtual intermediado por outro profissional especialista), foram emitidos sete mil pareceres em junho deste ano, representando 67% do número total”, diz Adria Cândido, diretora-executiva de telessaúde, centros clínicos e medicina preventiva da Hapvida NotreDame Intermédica. Um dos desafios para ampliar esse número, segundo Cândido, é a mudança cultural. “A maior dificuldade para acelerar a adoção da telessaúde são os grupos de pacientes conservadores, que representam 68% da população.”
A telemedicina facilita a discussão de casos entre médicos especialistas. “As equipes, mesmo a distância, por meio de aulas, treinamentos e discussões de casos, trocam conhecimento e experiência, mantendo a qualidade técnica do atendimento”, reforça Jane Teixeira, médica e gerente de saúde digital do Grupo Fleury. Com quatro milhões de beneficiários, o grupo realiza mais de 80 mil teleconsultas por mês. “Temos planos de triplicar esse volume para alcançar mais pessoas nas diversas regiões do país”, afirma Teixeira. No Pronto Atendimento Digital — serviço dedicado ao atendimento de urgências por telemedicina —, são realizados mais de dois milhões de consultas com a tecnologia.
Outra facilidade é o monitoramento de exames a distância. Para acompanhar gestantes de risco, o Grupo Santa Joana usa a teleultrassonografia guiada pela paciente e pelo médico em consultas pré-natais on-line. Por meio do ultrassom domiciliar — um dispositivo portátil que se conecta ao smartphone da paciente com um aplicativo, ela tem acesso à orientação médica remota. “As imagens em alta resolução das varreduras são transmitidas para avaliação dos médicos das pacientes ou do hospital, evitando o estresse e deslocamentos desnecessários das gestantes e identificando problemas precocemente”, explica Eduardo Cordioli, diretor técnico de obstetrícia do Grupo Santa Joana.
Fonte: Valor Econômico