Mesmo que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) realize cortes agressivos nos juros dos EUA, os rendimentos dos Treasuries podem não acompanhar o mesmo ritmo de queda, principalmente os de longo prazo, segundo analistas. Inflação resiliente, falta de clareza das políticas dos bancos centrais, tensões geopolíticas, crescimento da dívida pública são alguns dos motivos citados para a manutenção dos retornos em níveis elevados.
Benjamin Schroeder, estrategista do ING, avalia que o rendimento de T-Note de 10 anos parece estar um pouco elevado girando em torno de 4% em relação ao nível de 3,6% do início da semana passada em reação ao forte aumento do desemprego, considerando as perspectivas de cortes mais agressivos nos juros pelo Fed. “Porém, não está. Há razões para validar rendimentos mais elevados no futuro. No curto prazo, as taxas podem cair devido a oscilações de risco. Mas não há muito espaço no sentido estrutural para taxas muito baixas em um horizonte maior de tempo”, disse.
Nos últimos doze meses, o retorno de 10 anos saiu de 4,01% para 3,997% no fechamento de ontem. Já o de 2 anos caiu de 4,80% para 4,01% e o de 30 anos subiu de 4,17% para 4,22%, o Wells Fargo. Schroeder diz que, à primeira vista, os mercados parecem estar se acalmando, mas as medidas de volatilidade seguem altas e podem impactar os retornos. “Com o crescimento aparentemente desacelerando, os juros vão cair, mas o ritmo potencial da flexibilização dos bancos centrais segue incerto.”
Para o economista, reduzir a volatilidade exigiria uma orientação mais clara sobre a economia dos EUA, o que demanda mais dados em um momento em que qualquer indicador provoca um impacto expressivo nos mercados. “A economia está desacelerando, não entrando em colapso e o sistema financeiro está bem, então esse pânico não é necessário mesmo se as bolsas decidirem cair novamente.”
Schroder aponta que, em termos de valor justo, é necessário considerar que o piso para os Fed funds está um pouco acima de 3%. “Temos que adicionar pelo menos 1 ponto percentual a esta curva, o que soma cerca de 4% de valor justo para o yield de 10 anos.” Segundo ele, o retorno pode até cair a 3,5% quando o Fed começar a cortar os juros, mas depois disso vai voltar para os 4% e pode facilmente subir para 4,5%, avalia.
Para Jonas Goltermann, da Capital Economics, com o início dos cortes o retorno de curto prazo irá cair de forma mais expressiva, enquanto o de 10 anos ficará estável em torno do atual nível de 4%, o que irá provocar a “desinversão” da curva de juros. Ele não acredita que essa desinversão seja um sinal de recessão. “A trajetória precificada agora pelo mercado prevê cortes um pouco mais rápidos do que nossa estimativa. Mas pensamos que a permanência dos rendimentos de longo prazo em torno do seu nível atual é consistente com essa previsão, dado que a taxa de fim de ciclo precificada é semelhante à esperada em 2025.
“O cenário para os yields de 10 anos está sendo definido pelos cortes do Fed, o que derruba os rendimentos, mas a redução dos riscos de recessão irá reverter parcialmente essas quedas”, afirmou David Kohl, economista-chefe do Julius Baer. Segundo ele, os retornos dos Treasuries de 10 anos irão voltar a crescer, mas mais moderadamente do que o esperado anteriormente.
Fonte: Valor Econômico

