Por Alex Ribeiro — São Paulo
06/05/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
O possível adiamento dos reajustes de energia das distribuidoras deste ano para o próximo poderá dificultar ainda mais o trabalho do Banco Central de trazer a inflação para a meta em 2023.
Cálculos da XP Investimentos que circulam no mercado financeiro indicam um impacto de 0,64 ponto percentual desses reajustes na inflação deste ano, dentro do cenário básico.
Dependendo de como decidir a Câmara dos Deputados, que avalia um decreto legislativo para adiar os reajustes autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), esse impacto poderá ser totalmente ou parcialmente adiado para 2023.
A inflação deste ano ficaria menor na mesma proporção, mas o ano-calendário de 2022 saiu do foco da política monetária, segundo comunicado divulgado ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.
O adiamento dos reajustes poderia dar novo impulso nas projeções de inflação para o ano que vem, a menos que haja uma surpresa positiva no setor até lá. Hoje, o Copom já estima inflação em 3,4% em 2023, portanto acima da meta, de 3,25%, considerando que os juros subam a 13,25% ao ano. O mercado estima inflação de 4,1%.
Os analistas econômicos já começam a discutir qual seria a reação do Banco Central. Se de fato o reajuste for adiado e o impacto for tão forte, em tese o BC deveria subir ainda mais os juros.
Alguns acham que, nesse caso, uma solução possível seria manter os juros mais altos ao longo de 2023. Ou seja, aceitar uma inflação acima da meta no próximo ano, mas manter uma política monetária mais apertada no ano seguinte, para trazer a inflação para a meta.
Nessa última hipótese, porém, poderia haver alguma desancoragem das expectativas de inflação de longo prazo, já que setores do mercado entenderiam que o Copom está adiando o trabalho que deveria ser feito no horizonte de política monetária.
Mas o impacto pode ser ainda maior do que 0,64 ponto percentual. A XP havia, a princípio, trabalhado com a possibilidade de que o reajuste ficasse em 10% neste ano, que teria impacto de 0,49 ponto percentual.
Os reajustes efetivamente autorizados para os Estados estão mais para 20%, aproximando-se mais da variação do IGP-M, que serve de referência para o setor. Com esse percentual mais elevado, o impacto dos aumentos da energia elétrica neste ano poderá chegar a 0,99 ponto percentual. O represamento, nesse caso, seria mais forte.
Fonte: Valor Econômico

