Clínicas privadas oferecem imunizantes contra a doença com preços que variam entre R$ 300 e R$ 800
Por Rafael Vazquez, Valor — São Paulo
29/09/2022 08h05 Atualizado há 2 horas
Apesar do surto de meningite meningocócica do tipo C na Vila Formosa, bairro da Zona Leste de São Paulo, ser o terceiro identificado na cidade este ano, a Secretaria Municipal de Saúde esclareceu que o Sistema Universal de Saúde (SUS) aplicará vacinas, em crianças e adultos, somente em quatro postos da região afetada.
Para quem mora nas outras regiões de São Paulo e já tomou as vacinas contra a meningite quando criança ou adolescente no cronograma do Programa Nacional de Imunizações (PNI), existe a opção de buscar a vacina na rede privada. Os preços podem variar de R$ 300 a R$ 800, de acordo com o tipo de vacina.
Segundo o médico infectologista Marcelo Daher, pode-se tomar reforços a cada cinco anos, em qualquer idade, para reforçar a proteção contra os vários tipos de meningite, que é considerada uma doença grave.
Quais são os tipos de meningite?
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), atualmente, existem 12 sorogrupos identificados, entre eles os tipos A, B, C, W, X e Y.
A médica infectologista da rede de saúde integrada Dasa Maria Isabel de Moraes Pinto explica que o mais frequente no país é o meningococo C, ou meningite meningocócica do tipo C, justamente a que foi identificada no surto do bairro paulistano.
A vacina para esse sorogrupo da doença é disponibilizada pelo Sistema Universal de Saúde (SUS), dentro do Programa Nacional de Imunizações, para as crianças aos 3 meses, depois outra dose aos 5 meses e mais um reforço aos 12 meses de idade. Além disso, ela é oferecida gratuitamente para adolescentes entre 11 e 14 anos em uma vacina quadrivalente ACWY.
Para adultos que desejam tomar um reforço contra a meningite meningocócica do tipo C, é possível encontrá-la na rede privada na versão quadrivalente ACWY. Nos laboratórios Lavoisier, que pertencem à Dasa, essa vacina custa R$ 315.
“Diante da cobertura vacinal baixa em São Paulo, hoje abaixo de 50%, para quem pode, é recomendável tomar uma dose”, recomenda a infectologista da Dasa.
Já a vacina contra a meningite B não é aplicada no SUS, mas é oferecida na rede privada. No Lavoisier, custa R$ 535. “Essa é menos frequente na população como um todo, porém é mais comum entre crianças abaixo de 2 anos. Então, embora exista uma vacinação [pública] adequada no sorogrupo C, o sorogrupo B ainda não é contemplado no SUS, mas a vacina existe na rede privada”, diz Maria Isabel.1 de 1 Vacina contra meningite — Foto: Geovana Albuquerque/Agência de Saúde do DF
Vacina contra meningite — Foto: Geovana Albuquerque/Agência de Saúde do DF
Por que pode valer a pena tomar um reforço?
A comunidade médica e científica tem apontado preocupações com a queda abrupta da cobertura vacinal no Brasil e também no mundo, o que pode estar contribuindo para o ressurgimento de algumas doenças.
A meningite é classificada pelo Ministério da Saúde como uma doença endêmica no país, ou seja, ela se mantém presente e normalmente identificada em pequenos surtos que acabam sendo controlados por bloqueios locais e vacinação generalizada nas regiões onde aparecem, como está sendo feito pela Secretaria Municipal de Saúde na Vila Formosa neste momento.
No caso da meningite do tipo C, segundo dados do DataSUS, a cobertura vacinal atualmente está em 52% em âmbito nacional e em 42,5% na capital paulista. Em 2015, ambas estavam no nível de 98%.
“Precisaríamos ter uma cobertura vacinal acima de 95%. É importante que as pessoas atualizem a sua vacinação”, indica Maria Isabel.
O surto em São Paulo pode virar uma epidemia?
Os especialistas consultados pelo Valor acreditam que a chance é pequena. “O risco de se espalhar como já aconteceu no Brasil na década de 1970 não é grande por causa da vacinação, bloqueios, medicamentos que passaram a fazer parte dos cuidados que adotamos e que, naquele tempo, não tinham”, afirma o infectologista Marcelo Daher.
Por outro lado, ele também reforça a preocupação com a queda da cobertura vacinal. “Com a cobertura baixa, a bactéria circula mais livremente e as crianças, sobretudo, estão vulneráveis. Talvez esses casos que estão começando a aparecer sejam um reflexo disso”, diz o infectologista.
Fonte: Valor Econômico