É grande a apreensão nos mercados antes da reunião do Federal Reserve (Fed) que deve retomar o processo de flexibilização das taxas de juros nos Estados Unidos. Embora a discussão tenha sido antecipada nos preços dos ativos desde que o presidente do Fed, Jerome Powell, abriu a porta para um corte nos juros americanos no simpósio de Jackson Hole, no fim de agosto, o desfecho da reunião é particularmente importante, diante da intensa pressão feita pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre o banco central para ter juros mais baixos. O dia ainda reserva a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Brasil, que deve manter a Selic parada em 15% e contribuir, portanto, para um aumento adicional no diferencial de juros entre as duas economias.
A reunião do Fed, em particular, é cercada de ansiedade e, desta vez, de curiosidade entre os participantes do mercado. Após os sucessivos ataques feitos por Trump ao presidente do Fed, Jerome Powell, e diante da tentativa da Casa Branca de demitir a diretora Lisa Cook, o mercado deve acompanhar com especial atenção a decisão de hoje do banco central americano. O protagonismo, inclusive, deve ficar com o comunicado e com as projeções econômicas dos dirigentes, e não com a coletiva de imprensa de Powell — algo que tem sido bem incomum.
Os futuros dos Fed funds, compilados pelo CME Group, apontam para 94% de chance de uma redução de 0,25 ponto nos juros americanos, que cairiam para o intervalo de 4% a 4,25%, enquanto há 6% de probabilidade de um corte mais agressivo, de 0,5 ponto. Embora o desfecho da reunião não deva surpreender tanto, o placar da votação pode ser particularmente importante, já que, antes da reunião, uma parte dos dirigentes que têm direito a voto defendeu maior cautela antes de flexibilizar a política monetária diante de dados de inflação ainda pressionados, enquanto alguns outros dirigentes apontaram para a chance de um corte mais agressivo devido a preocupações com o emprego.
Alguns posicionamentos serão chave. Há uma expectativa no mercado de que os diretores Christopher Waller, Michelle Bowman e o recém-chegado Stephen Miran sejam favoráveis a uma redução de 0,5 ponto nos juros. Os três foram indicados por Trump e, na reunião de julho, quando o Fed manteve os juros parados, Waller e Bowman foram dissidentes e se mostraram favoráveis a um corte já naquela ocasião.
Além do placar da votação, o gráfico de pontos e as projeções dos dirigentes do Fed também devem ser acompanhadas com atenção pelos investidores, já que podem indicar as sinalizações do banco central americano em relação aos passos futuros, embora a incerteza política deva seguir bastante elevada. A coletiva de Powell, com possíveis questionamentos tanto sobre a reunião quanto sobre as discussões políticas que envolvem o Fed, deve ser monitorada pelos investidores.
O mercado não espera grandes surpresas da reunião do Copom. É amplamente esperada a manutenção da Selic em 15%, ao mesmo tempo em que os investidores não aguardam grandes alterações no comunicado. Um ponto de consenso entre economistas ouvidos pelo Valor é de que é possível que o Copom agora considere que entrou em um período de manutenção dos juros no nível atual, o que deve provocar a mudança no apontamento de “continuação na interrupção no ciclo de alta”.
Entre os pontos de atenção, estão a projeção do Copom para a inflação no horizonte relevante (primeiro trimestre de 2027), que estava em 3,4%. É esperada uma queda de 0,1 ponto, para 3,3%. Além disso, a caracterização a ser feita pelo Copom do movimento de alívio nas expectativas de inflação e do cenário externo também devem ser itens no foco dos agentes.
Fonte: Valor Econômico