4 Aug 2023 CARLOS EDUARDO VALIM
Na semana passada, a gestora Pátria Investimentos esteve no centro das atenções do mercado financeiro por conta de um fundo de R$ 50 milhões que resultou em prejuízo para os cotistas. A enorme repercussão aconteceu menos pelos valores envolvidos, ou pelo impacto financeiro nas contas da empresa (uma estrela da Faria Lima), e mais devido à curiosidade sobre os valores das cotas do fundo. O chamado Pátria Special Opportunities 2, voltado a investimentos em shopping centers do interior do País, teve suas cotas rebaixadas de pouco mais de R$10 para R$ 301 negativos. Isso exigirá um aporte médio de R$ 240 mil por cotista, além da perda de todo o investimento feito.
“Foi um erro pequeno, de 0,03% em relação ao que temos em gestão, e mesmo frente aos R$ 8 bilhões que investimos por ano, mas a gente levou muito a sério”, disse ao Estadão o sócio da gestora José Augusto Teixeira.
Segundo Teixeira, o encerramento do fundo, que ainda precisa passar por aprovação dos investidores em relação ao chamado para capitalização, vai colocar um ponto final nos investimentos da gestora em negócios de shopping centers do interior do País. Iniciada em 2012, a estratégia fracassou, admite o gestor. Mas ele defende que isso não deveria comprometer a reputação conquistada pelo Pátria ao longo das duas últimas décadas.
Entre os investimentos já finalizados pela gestora, os seus fundos devolveram R$ 30 bilhões, ante os cerca de R$ 11 bilhões aportados nos últimos 20 anos. isso significou quase triplicar o capital, com um ganho anual de 24,5%. nos últimos 12 meses, a rentabilidade foi maior, com R$ 3 bilhões a partir de R$ 10 bilhões investidos, um retorno de mais de 30%.
CENÁRIO INVERSO. “Somos gestores de investimentos alternativos, que buscam oportunidades que não estão disponíveis na Bolsa, e procuramos setores novos e empresas novas. Esse tipo de investimento carrega riscos e retornos particulares”, afirma. “A taxa média de erros em fundos de private equity (compra de participação em empresas), dependendo do ano, varia entre 8% e 15%, segundo bases de dados globais. A nossa taxa é de 5%, mesmo incluindo a tese de shopping centers.”
A gestora apostou que o consumo, em especial no interior, passaria por forte aceleração, o que não se confirmou por causa da crise econômica a partir de 2015 e agravada pela pandemia, em 2020. Mesmo a tentativa de recuperar parte dos investimentos fracassou com a segunda onda da covid19, na virada para 2021.
O Special Opportunities 2 foi criado em 2020, no início da pandemia, numa tentativa de buscar novos investimentos para salvar parte do dinheiro aportado na tese de shoppings, que resultou na formação do fundo Special Opportunities 1, de 2012. “Os shoppings estavam fechados na época, e havia a expectativa de a pandemia terminar em agosto. Sabíamos do contexto do investimento e dos riscos. Estávamos aportando dinheiro numa empresa em situação de estresse. Ninguém foi surpreendido pelas perdas”, diz.
“Nossos erros são erros de teses de investimento, e não de conduta”, diz Teixeira, que critica a repercussão e os comentários que surgiram na semana passada, de que os investidores teriam sido pegos de surpresa pela cota negativa do fundo, e que a comunicação da gestora foi falha quanto às dificuldades financeiras.
Deixando uma lição para a gestora, a tese malsucedida mudou muito a forma de o fundo atuar, defende o sócio. “O Pátria de 2023 não é o Pátria de 2012. Usamos esta frustração para aprender e melhorar”, diz. “O Pátria investe hoje em setores resilientes. Gosta do setor de saúde, com a expectativa de envelhecimento populacional, quer resolver gargalos logísticos do Brasil. Gosta de infraestrutura, agronegócios, alimentos e transição energética para fontes renováveis. Saneamento básico é um bom exemplo de setor que interessa, por existir um gargalo estrutural enorme.”
Até por isso, o fundo tem sido citado como um dos interessados nos planos de privatização da Sabesp, que deve passar por follow on, segundo anúncio feito nesta semana pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, na última semana.
Fora da Bolsa Pátria busca oportunidades fora da Bolsa, estratégia que embute ‘riscos e retornos particulares’
Fonte: O Estado de S. Paulo

