Por Kana Inagaki, Leo Lewis, Ryan McMorrow e Tom Mitchell, Financial Times — Tóquio, Pequim e Cingapura
29/11/2022 15h44 Atualizado
Jack Ma, o fundador da Alibaba que já foi o líder empresarial mais rico da China, está morando no centro de Tóquio há quase seis meses, em meio à contínua repressão do governo chinês ao setor tecnológico do país e seus empresários mais poderosos.
A estadia de meses de Ma no Japão com sua família incluiu temporadas em fontes termais e resorts de esqui no interior e viagens regulares aos Estados Unidos e Israel, segundo fontes com conhecimento direto de seu paradeiro.
Ma praticamente desapareceu a vista do público desde que criticou as autoridades reguladoras chinesas dois anos atrás, acusando os bancos estatais de ter uma “mentalidade de casa de penhores” e pedindo novos jogadores ousados que pudessem conceder crédito aos que não podem oferecer muitas garantias.
Desde então, as duas companhias que ele fundou, a Ant e o grupo de comércio eletrônico Alibaba, enfrentam uma série obstáculos reguladores. As autoridades chinesas cancelaram uma enorme oferta pública inicial de ações (IPO) de US$ 37 bilhões da Ant e multaram o Alibaba em um valor recorde de US$ 2,8 bilhões por abusos das leis antitruste no ano passado.
Sua ausência da China coincidiu com a escalada da política de tolerância zero com a covid-19 do presidente Xi Jinping este ano. Isso levou a “lockdowns” severos em Xangai e no delta do rio Amarelo em abril e maio e provocou protestos em todo o país nos últimos dias. Ma tem uma casa em Hangzhou, uma cidade próxima de Xangai, onde o Alibaba tem sua sede.
Desde sua desavença com as autoridades chinesas, Ma foi visto em vários países, incluindo a Espanha e a Holanda. Passar menos tempo em sua casa na China significa que o bilionário evitou as duras quarentenas impostas contra a covid a todos aqueles que entram no país, além de questões políticas espinhosas decorrentes de seu esforço anterior para ganhar influência nos corredores do poder da China.
Ma vem se mantendo discreto em sua estadia em Tóquio. Ele levou seu chef pessoal e segurança e mantém suas atividades públicas ao mínimo, segundo fontes.
Suas atividades sociais giram em torno de um pequeno grupo de clubes privados, com um deles localizado no coração do distrito de Ginza, em Tóquio, e outro no distrito financeiro de Marunouchi, de frente para o Palácio Imperial.
O clube exclusivo no distrito de Ginza tornou-se um centro social movimentado mas discreto para chineses ricos que se estabeleceram em Tóquio ou se encontram na cidade em visitas prolongadas, segundo membros.
Pessoas envolvidas no cenário da arte moderna de Tóquio afirmam que Ma se tornou um colecionador entusiasmado. Amigos próximos do bilionário na China disseram que começou a pintar aquarelas para passar o tempo, após ser forçado a se retirar da movimentada na alta sociedade, entre as reuniões com autoridades da China e de várias partes do mundo.
Outros afirmam que Ma vem usando seu tempo no Japão para ampliar seus interesses comerciais para além das tecnologias de e-commerce do Alibaba e no campo da sustentabilidade. Em grande parte, ele já transferiu o comando para uma nova geração de líderes em suas duas companhias.
O paradeiro de Ma tem sido objeto de muita especulação. Ele foi visto na ilha espanhola de Maiorca no ano passado, segundo relatos da imprensa local. Em julho, visitou uma universidade na Holanda para se informar sobre a produção sustentável de alimentos.
As atividades no programa de treinamento executivo da Universidade Hupan, que ele fundou há sete anos, também estão meio parados depois que algumas autoridades o viram como um meio de Ma ampliar sua rede de influência.
Sua instituição de caridade, a Jack Ma Foundation, à qual ele prometeu se dedicar nos anos pós Alibaba, reduziu sua publicidade, após anos de doações pelo mundo, como a distribuição de milhões de máscaras no começo da pandemia de covid-19. Ela ajudou Ma a construir sua marca global.
O último tuíte da instituição foi em novembro de 2020, quando a pressão reguladora sobre as empresas e empresários do setor de tecnologia estava em andamento.
Os seis meses de Ma no Japão coincidem com uma liquidação histórica da participação de longa data da SoftBank na Alibaba, depois que o grupo de tecnologia japonês sofreu um golpe duro da derrocada global do setor de tecnologia este ano.
A Jack Ma Foundation e a Ant não responderam a pedidos para comentários sobre sua visita a Tóquio. (Tradução de Mario Zamarian)
Fonte: Valor Econômico

