12 Dec 2022 FERNANDA GUIMARÃES
A disputa por poder na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) teve um novo movimento. Em edital publicado ontem, sindicatos que fazem oposição a Josué Gomes marcaram para o próximo dia 21 uma assembleia para discutir a gestão do empresário à frente da entidade. No limite, a reunião poderá terminar com a destituição de Josué da presidência – ocupada por ele desde janeiro.
O edital, que teve o endosso de pelo menos 86 dos 112 sindicatos da entidade, diz que a reunião vai debater a “atuação do sr. diretor presidente da Fiesp acerca de atos que denotam desvirtuamento dos fins estabelecidos nos estatutos da Fiesp”. Lembram ainda que em outubro o chamado Conselho de Representantes decidiu pela convocação de uma assembleia e que um documento com o pedido foi entregue a Josué. Mas o presidente da Fiesp ignorou esse pedido, com a alegação de que ele não respeitaria os requisitos previstos no estatuto da entidade.
A “rebelião” é atribuída a Paulo Skaf, que ficou à frente da Fiesp por quase 20 anos. Os presidentes dos sindicatos que aprovaram a assembleia reclamam que não têm sido recebidos por Josué. Essa oposição reúne entidades de segmentos como panificação, pesca e cafeicultura.
Uma pessoa que acompanha a disputa na Fiesp afirmou que o que estaria gerando insatisfação é a mudança em curso na estrutura de poder na entidade, capitaneada pela gestão de Josué. Existe a tentativa de atrair de volta para a Fiesp representantes de grandes indústrias, que tinham se afastado ao longo da gestão de Skaf.
VIÉS POLÍTICO. Existiria ainda um viés político por trás da disputa. Skaf foi apoiador de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto Josué é filho de José Alencar, que ocupou o cargo de vice-presidente nos dois primeiros mandatos do petista Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. Antes da eleição, a ala mais à direita da Fiesp criticou a decisão da entidade de divulgar um manifesto em favor da democracia, o que foi visto como um aceno a Lula.
Procurados, nem Josué nem a Fiesp se manifestaram sobre a publicação do edital. O nome do empresário aparece como um dos cotados para assumir o novo Ministério da Indústria e Comércio no novo mandato de Lula.
Segundo o estatuto da Fiesp, a eventual perda de mandato pode ocorrer por “conduta incompatível com a ética”, “abandono do cargo”e “dilapidação do patrimônio social”, entre outros itens. Ainda pelo texto, a maioria dos sindicatos pode convocar uma assembleia em caso de negativa do presidente, mas decorrido um prazo de 30 dias. No edital, a justificativa para a definição do próximo dia 21 é de que a notificação pedindo a convocação da assembleia ocorreu em novembro.
Fonte: O Estado de S. Paulo
