O movimento do grupo RD Saúde, dono das redes de farmácias Raia e Drogasil, de começar a vender medicamentos sem prescrição de marca própria é visto com preocupação pelo setor farmacêutico. A novidade foi anunciada a investidores da companhia no início deste mês. Segundo a empresa, as vendas começarão já no próximo ano.
Representantes da indústria disseram ao Painel S.A. sob condição de anonimato que a investida é perigosa para a concorrência e que eles estudam medidas junto à Anvisa ou ao Cade, órgão responsável por fiscalizar atos de concentração de mercado.
Consultado, o grupo RD Saúde disse que não vai comentar.

Líder de mercado, com 3.453 lojas por todo país, marcas fortes vinculadas ao grupo e um faturamento de R$ 12 bilhões apenas no terceiro trimestre, o RD passou a ser visto não mais como parceiro pelas indústrias farmacêuticas que atuam com remédios sem prescrição, mas como um concorrente em posição desigual em importantes locais de vendas.
As farmacêuticas dizem que poderá haver um tratamento diferente nas farmácias do grupo em relação à exposição e recomendação pelos balconistas dos medicamentos da marca do grupo RD Saúde em detrimento dos remédios similares dos concorrentes.
Hoje, indústrias farmacêuticas estabelecem parcerias com farmácias, compartilhando dados sensíveis e estratégias de marketing. Uma companhia do setor disse que agora deve repensar essa relação com o RD, que com a fabricação de medicamentos próprios virou concorrente.
Um representante do setor afirmou à coluna que a medida pode mudar toda a estrutura de vendas de medicamentos do país.
Afinal, se o Grupo RD pode ter medicamento próprio, então as indústrias farmacêuticas se sentiriam no direito de vender remédios diretamente para os pacientes, sem contar com as farmácias como intermediárias, como já ocorre hoje nos Estados Unidos.
Fonte: Folha de S.Paulo