Por Marta Watanabe — De São Paulo
02/12/2022 05h00 Atualizado há 5 horas
Com exportações brasileiras em crescimento menor do que o das importações, o setor externo teve contribuição negativa para o PIB do terceiro trimestre. Mas, apesar de perspectivas de desaceleração da economia global à frente, especialistas apontam que o setor externo fechará 2022 com ajuda positiva para o PIB.
Segundo divulgação ontem do IBGE, as exportações subiram 3,6% no terceiro trimestre ante os três meses anteriores, na série com ajuste sazonal. As importações subiram mais, com alta de 5,8%. Na comparação com o terceiro trimestre de 2021, as exportações avançaram 8,1%, e as importações tiveram alta de 10,6%.
O economista Livio Ribeiro, sócio da BRCG, calcula que o setor externo no terceiro trimestre, na comparação com iguais meses do ano passado, tirou 0,5 ponto percentual da variação do PIB. Nesse critério o PIB do terceiro trimestre avançou 3,6%. Na margem, contra o segundo trimestre, com ajuste sazonal, o PIB avançou 0,4%.
Mesmo com esse resultado negativo de julho a setembro, diz Ribeiro, a contribuição positiva do primeiro trimestre acabará ajudando a fazer com que o setor externo ajude a engordar o PIB de 2022. Pelas suas estimativas, o setor externo deve adicionar 0,5 ponto percentual à variação PIB deste ano. Ele projeta expansão de 3,2% para o PIB de 2022.
Nas contas de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o setor externo também deve ajudar no crescimento do PIB deste ano. A consultoria projeta crescimento expansão da atividade doméstica de 3% em 2022. Dessa variação, 0,7 ponto percentual são resultado de exportação líquida e 2,3 pontos percentuais de demanda doméstica. A dinâmica deve ser diferente da do ano passado, quando a demanda doméstica avançou 6,6% e a exportação líquida recuou 1,6%, resultando num crescimento de PIB de 5%.
Na variação estimada para este ano, lembra, a demanda doméstica volta a patamares comparáveis aos anos de 2017 a 2019, diz. “Naquele período, porém, as exportações líquidas estavam negativas e jogavam o PIB para baixo”, diz.
Ao comentar ontem sobre o desempenho do setor externo, Rebeca Palis, chefe do Departamento de Contas Nacionais do IBGE, disse que houve uma série de fatores fora do Brasil que levaram à contribuição negativa do setor externo no terceiro trimestre. Além dos “lockdowns” na China, ela citou também a guerra entre Rússia e Ucrânia. Ao mesmo tempo, notou, mesmo com câmbio desvalorizado, as importações mantiveram ritmo intenso no período.
Leonardo Costa, economista da ASA Investiments, diz que a contribuição negativa do setor externo indicada no PIB vem em consonância com dados de balança comercial, que indicavam importação mais forte de itens como combustíveis, fertilizantes e produtos químicos no período.
Para 2023, tanto Vale quanto Ribeiro ainda esperam contribuição positiva do setor externo, mas menor. Além da desaceleração da economia chinesa resultante de lockdowns e de outros fatores, como a crise do mercado imobiliário do país asiático, há ainda em perspectiva a piora na economia dos Estados Unidos e dos países europeus.
Com esse cenário no radar, a projeção de contribuição positiva do setor externo em 2023 é de 0,1 ponto percentual para uma estimativa de alta de PIB de 0,5%. Nas contas de Sergio Vale, a combinação entre contribuição positiva das exportações líquidas e negativa da demanda doméstica deve levar o PIB a fechar ano que vem com crescimento de 0,5% também. Para Vale, uma perspectiva melhor para o setor externo pode ser sustentada porque ele espera que os preços das commodities se mantenham em níveis altos, embora com queda na margem. Além disso há a esperada safra com bons resultados e a fraca demanda interna deve afetar importações.
Fonte: Valor Econômico

