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Com alta considerada surpreendente, o volume de serviços prestados no país atingiu nível histórico em junho. O recorde anterior era de dezembro de 2022. Puxada por transportes e serviços de informação e comunicação, a alta foi disseminada. A perspectiva é que o setor mantenha o bom desempenho no segundo semestre, mas política monetária, condições financeiras e perda de impulso das medidas do governo que ajudaram a sustentar o primeiro semestre podem mitigar o crescimento.
A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que o volume de serviços subiu 1,7% em junho, ante maio, com ajuste sazonal. A alta na série ficou acima da mediana das estimativas de 20 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, de aumento de 0,8%. Em maio houve recuo de 0,4% (após revisão de dado divulgado inicialmente como estabilidade).
Na comparação com junho de 2023, o indicador subiu 1,3%. No acumulado em 12 meses até junho, houve aumento de 1%. Já o acumulado no primeiro semestre é de alta de 1,6%.
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Stéfano Paccini, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), destaca o bom desempenho disseminado dos serviços. “A melhora se deu em todos os setores e a série na média móvel trimestral mostra tendência positiva no curto prazo.” Segundo o IBGE, a média móvel trimestral da PMS em junho indica alta de 0,5%. O desempenho, porém, diz Paccini, dependerá de evolução de emprego e renda e pressão da inflação.
Para julho, a LCA Consultores projeta atualmente alta de 0,4% na PMS ante junho, na série com ajuste sazonal, aponta o economista da consultoria, Daniel Arruda. A projeção para 2024 é de alta de 1,3%, com viés de alta. Considerando os dados de junho, destaca o economista, a herança estatística indica crescimento de 2% do volume de serviços neste ano. Apesar de ser relevante, Arruda olha com certa cautela para a projeção indicada pelo carregamento, dada a sua volatilidade e forte influência do dado mais recente.
Para o segundo semestre, diz Arruda, a perda de impulso de medidas como o aumento do salário mínimo e o pagamento de precatórios, fatores que ajudaram, principalmente nos primeiros meses do ano, deve ser um desafio. Além disso, o setor está sujeito aos efeitos da política monetária e das condições financeiras.
Em junho, as cinco principais atividades levantadas na PMS tiveram alta ante maio. Os destaques vieram nos setores de transporte, com alta de 1,8%, e de informação e comunicação, com avanço de 2% em junho ante maio.
Rodrigo Lobo, gerente da PMS, diz que o setor de transportes foi impulsionado pela queda dos preços das passagens áreas. Mas, segundo ele, também contribuíram o transporte dutoviário e a navegação de apoio marítimo, atividades relacionadas com as indústrias de gás e a de petróleo bruto, afirmou.
Já o setor de informação e comunicação também atinge o ápice da sua série histórica em junho de 2024. “O comportamento dos serviços de tecnologia desde o pós-pandemia tem se mostrado fundamental para o volume de serviços do país, principalmente pelo aumento nos serviços voltados às empresas, como os de tecnologia da informação”, afirmou Lobo.
O índice de atividades turísticas subiu 3,4% em junho frente a maio, após recuo de 0,9% em maio, na variação mensal. Com o desempenho, o segmento de turismo se encontrava 7,7% acima do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) e apenas 0,1% abaixo do ponto mais alto da série (fevereiro de 2014). O indicador é anunciado dentro da divulgação da PMS.
O conjunto de dados, diz Victor Miranda, economista da One Investimentos, confirma o momento de bom desempenho da economia brasileira. Ao mesmo tempo “há um início de uma preocupação” com a inflação de serviços, que pode afetar as discussões atuais para os rumos da política monetária.
Para André Valério, economista do Banco Inter, o avanço de junho se deve muito mais às atividades ligadas à oferta de serviços do que as ligadas à demanda. Serviços prestados às famílias tiveram menor contribuição na PMS de junho contra maio, com alta de 0,3%. O resultado de junho indica “mais uma normalização que uma reaceleração”, o que poderia ligar o sinal de alerta em relação à inflação.
Para Lobo, o contexto macroeconômico, com inflação controlada e massa salarial em alta, “mais ajuda que atrapalha”, mas não tem sido determinante para o setor. Ele destaca que não são serviços prestados às famílias que comandam o dinamismo do setor. Ele comentou que o patamar recorde tem muito a ver mais com a evolução positiva de serviços de tecnologia da informação e de comunicação.
Sob o impacto de enchentes e temporais em maio, Rio de Grande do Sul foi a principal influência negativa para a PMS de junho, com queda de 14,5% contra maio, na série com ajuste sazonal. Na evolução regional do indicador, 21 das 27 unidades da federação mostraram aumento no volume de serviços em junho ante maio.
Nos dados de junho, Lobo explica que os pedágios das rodovias tiveram alta expressiva (358,36%) no Rio Grande do Sul. Isso aconteceu porque em maio as concessionárias haviam interrompido a cobrança de tarifa, para facilitar deslocamento de veículos que transportavam donativos ou que estivessem envolvidos em operações de resgate de vítimas das enchentes no Estado. “Com isso, o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul, em termos de volume de serviços, acabou aparecendo somente neste mês”, explicou Lobo. Em maio, pelos dados do IBGE, o volume de serviços cresceu 0,1% ante abril, com ajuste sazonal.
Para tentar expurgar esse efeito, Arruda, da LCA, prefere comparar os dados em relação a igual mês do ano anterior e olhando para o comportamento da receita nominal de serviços. Por esse critério, houve queda de 15,7% em maio, no Rio Grande do Sul, e outra queda em junho, de 8,9%. Olhando os dados abertos de serviços nesse mesmo critério, destaca, há crescimento em junho de 6,1% em informação e comunicação e de 8,1% em outros serviços, o que alcança os serviços financeiros. “Mas os serviços de caráter mais presencial, como serviços às famílias, transportes e até um pouco dos serviços administrativos e complementares ainda mostram impacto muito negativo e aparentemente vai demorar um pouco mais para se recuperar”, aponta Arruda.
Fonte: Valor Econômico

