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A demanda por exames clínicos e de imagens continua avançando no país. Além do alerta deixado pela pandemia sobre a importância dos cuidados com a saúde e da retomada de exames que foram adiados nos anos mais críticos, outro fator impulsiona o mercado: a longevidade dos brasileiros, que vem aumentando a procura por serviços de saúde, sejam eles preventivos ou ligados a tratamentos.
Houve uma mudança de comportamento no pós-pandemia, diz Lidia Abdalla, presidente do grupo Sabin. “As pessoas passaram a monitorar a saúde e a ter um olhar mais preventivo”, diz. “Com o processo de envelhecimento dos brasileiros, observamos um aumento de doenças cognitivas e oncológicas, entre outras, que exigem esforços de gestão no setor”, afirma Patrícia Maeda, presidente da unidade de negócios B2C do Grupo FleuryCotação de Grupo Fleury.
Esse cenário levou o setor de medicina diagnóstica a registrar em 2023 um total de 2,26 bilhões de exames clínicos e de imagens realizados nas redes pública e privada do país, uma alta de 7,9% em relação ao ano anterior. As empresas participantes da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), que respondem por cerca de 80% dos exames da saúde suplementar, realizaram 972,58 milhões de exames, um crescimento de 14% sobre o ano anterior. Já os demais laboratórios privados foram responsáveis por 243,14 milhões. No Sistema Único de Saúde (SUS), os dados apurados pelo Datasus, mostram que a rede pública realizou no ano passado um total de 1,05 bilhão de exames.
Apesar de ser um setor resiliente e que se atualiza rapidamente, a medicina diagnóstica tem desafios. “É preciso melhorar a interoperabilidade dos sistemas para otimizar a troca de informações e proporcionar uma visão abrangente dos dados de cada paciente”, afirma Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed. A alta sinistralidade das operadoras de saúde é outro ponto de atenção. Segundo executivos do setor, os prestadores de serviços precisam ficar atentos às oportunidades de otimização de recursos e de incorporação de tecnologias com foco na sustentabilidade da cadeia.
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O cenário é de constante transformação para o setor. “A inteligência artificial está revolucionando os diagnósticos ao proporcionar resultados mais rápidos, melhorando processos operacionais e a experiência dos pacientes”, diz Pagano. A personalização é outra tendência que ganha cada vez mais relevância. “Trata-se de uma gama de testes genéticos, entre outros exames, que permitem diagnósticos precisos e precoces de doenças, a identificação de predisposições genéticas e a personalização de tratamentos com base na predição de resposta do organismo”, afirma Alvaro Pulchinelli Junior, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML).
São muitos os negócios e inovações nos quais as principais redes de medicina diagnóstica estão investindo. Hoje, a Dasa conta com mais de 40 marcas, centenas de unidades no Brasil, além de atuar na Argentina e no Uruguai, e processa em torno de 400 milhões de exames por ano. No primeiro trimestre de 2024, a companhia teve aumento de 2% na receita líquida de diagnósticos no país, em relação a igual período de 2023. Mas o resultado, incluindo também hospitais e oncologia, foi de prejuízo líquido de R$ 176 milhões no primeiro trimestre de 2024, depois de ter fechado no vermelho o balanço de 2023. Para reduzir a alavancagem, os controladores da Dasa anunciaram em maio uma injeção de capital de R$ 1,5 bilhão e, em junho, a criação de uma joint venture com a Amil, exclusiva na área de hospitais e oncologia, com controle dividido em partes iguais.
Na medicina diagnóstica, a Dasa já vinha de uma extensa agenda de M&A, com uma rede bastante consolidada e alta capilaridade no Brasil, e o foco é integrar marcas adquiridas, ressalta Rafael Lucchesi, diretor-geral de diagnósticos e ambulatorial da companhia. O portfólio total chegou a mais de 1,6 mil exames de radiologia e diagnóstico por imagem, cerca de 3,5 mil tipos de análises clínicas e mil diferentes exames da vertente genômica.
Entre as inovações, a equipe de P&D da Dasa desenvolveu um algoritmo de deep learning para reduzir os ruídos em ressonâncias magnéticas, diminuindo em 40% o tempo de realização dos exames. “Com isso, foi possível dar conta de uma demanda reprimida, abrindo mais agendamentos, sem a necessidade de aquisição de mais aparelhos”, conta Lucchesi. Na área de genômica, a Dasa está oferecendo um exame indicado para paciente com uma ou mais características sobrepostas de doenças consideradas raras e que não puderam ser confirmadas por outros testes, como o sequenciamento do exoma. “Esse novo exame auxilia no diagnóstico de 90 doenças raras por meio do estudo da metilação do DNA e análise por um algoritmo de inteligência artificial exclusivo”, explica o executivo.
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No Grupo Fleury, o movimento de M&A continua. Em abril do ano passado, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a combinação de negócios do Grupo Fleury com a rede Hermes Pardini. Considerando os dados pró-forma, com volumes da empresa adquirida, no primeiro trimestre de 2024 o grupo teve um crescimento de 2,8% no total de pessoas atendidas e de 1,4% no número de exames realizados, em relação ao mesmo período do ano passado. A companhia teve lucro líquido de R$ 167,9 milhões no primeiro trimestre deste ano e alta anual de 79%, incluindo o ajuste dos ativos adquiridos. Em sua atuação no B2C, a companhia conta atualmente com 25 marcas e mais de 520 pontos de atendimento.
Segundo Edgar Rizzatti, presidente da unidade de negócios médico, técnico, de hospitais e novos elos do Grupo Fleury, no ano passado foram quase R$ 22 milhões de investimentos diretos em P&D e houve implementação de 581 novos produtos, serviços ou alterações em metodologias, que trouxeram redução de custos, prazos e/ou melhoria na qualidade.
O Fleury lançou com exclusividade um teste para o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer, desenvolvido em parceria com o laboratório americano C2N Diagnostics. “Esse teste utiliza uma amostra de sangue periférico e tem acurácia muito parecida com exames em que a coleta de material é mais difícil”, diz Rizzatti. O grupo também incorporou um holter sem fio, que se beneficia de inteligência artificial (IA) e internet das coisas, para monitoramento da frequência cardíaca por 24 horas e identificação de problemas e arritmias. A IA também gera otimização dos aparelhos de tomografia e ressonância do grupo.
Em 2023, a receita do grupo Sabin em análises clínicas e exames de imagens avançou 12,24%, excluindo os exames de covid-19. Já no primeiro semestre deste ano, o crescimento da receita foi de 10% sobre igual período do ano passado. Desde o início de seu plano de expansão geográfica em 2012, o Sabin, com sede em Brasília (DF), adquiriu 30 empresas. Possui hoje 353 unidades em 14 Estados e oferece 7,4 mil exames diferentes. “Nos últimos anos, implementamos muitos exames novos em genômica e biologia molecular”, afirma a presidente do grupo. Um deles é o teste genético da bochechinha, complementar aos exames básicos de triagem neonatal, que detecta condições como citomegalovírus congênito e a síndrome de Turner, uma anomalia dos cromossomos de meninas. E neste ano, segundo ela, foi lançado o sequenciamento completo do exoma, que permite analisar diferentes patologias de origem genética. Somado a isso, o grupo Sabin também fez investimentos em equipamentos de imagens com IA.
Já a Alliança Saúde, em fase final de um turnaround iniciado há dois anos, vem promovendo ajustes nas operações para aumentar a rentabilidade. A rede é composta por 15 marcas e 116 unidades de atendimento em 13 Estados. Em 2023, o número de exames de análises clínicas manteve-se praticamente estável. No entanto, houve crescimento em diversos exames de maior complexidade: o número de tomografias aumentou 5% e o de ressonâncias magnéticas, 3%, em linha com a estratégia de negócios. A empresa não realizou aquisições nos últimos anos. “Temos priorizado o modelo asset light, focando em parcerias por meio das quais ampliamos a nossa capilaridade”, diz Ricardo Sartim, diretor médico e de operações da Alliança Saúde.
Para ampliar a marca Delfin na Bahia, a empresa formou uma joint venture com a Unimed Nacional em setembro de 2023. A Alliança também fechou no ano passado um contrato de prestação de serviços com a Unimed Fama para expandir a atuação na região Norte do país. Já no Rio de Janeiro, assumiu a gestão operacional das marcas Cepem e ProEcho. A empresa disponibiliza mais de cinco mil exames laboratoriais e de imagens. Sartim destaca que, desde 2022, a Alliança intensificou as inovações. “Incluímos testes de marcadores tumorais e avaliação genética para personalização de terapias oncológicas”, afirma. Em termos de imagens, houve incorporação do mapa T2 para avaliação cardíaca por ressonância magnética, melhorando a detecção de amiloidose. Somado a isso, a Delfin passou oferecer quantificação de ferro e gordura hepática por ressonância magnética e ultrassonografia dermatológica para diagnóstico e avaliação da extensão de câncer de pele.
Fundada há 38 anos por professores da Escola Paulista de Medicina, atual Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a FIDI é prestadora de serviços de diagnóstico por imagens ao Serviço Único de Saúde (SUS). Crescendo, a empresa conta com 84 unidades fixas e móveis. No ano passado, foram quase cinco milhões de exames de imagens realizados. Simone Vicente, CEO da FIDI, projeta que deverá fechar 2024 em patamar semelhante, já que no primeiro semestre foram mais 2,4 milhões de exames.
Ela destaca que a IA tem sido uma aliada. “Grande parte dos exames de raio-x no pronto-socorro são do tórax. Então, para apoiar os médicos solicitantes, a IA lê e marca as imagens, informando o que os pacientes têm”, diz a CEO. Nas tomografias de crânio, quando o AVC é detectado, o exame passa à frente, na caixa de entrada do médico, que faz o laudo, agilizando o processo. “Nos casos de AVC, o atendimento rápido é determinante para salvar vidas e para a qualidade de vida dos pacientes”, explica.
Em outra frente, o fortalecimento das farmácias em cuidados primários contribuirá para desestressar o sistema de saúde. Um conjunto de resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desde 2009, ampliou o escopo desse setor, incluindo algumas aferições e parâmetros fisiológicos e bioquímicos, administração de medicamentos, vacinas e testes rápidos de covid-19. Em agosto do ano passado, entrou em vigor a RDC 786, que regulamenta a realização de exames via gota de sangue em farmácias, que costumam ficar prontos em 15 a 30 minutos, facilitando o acesso, diagnósticos precoces e controle de tratamentos.
“Os exames no ramo de farmácia têm como objetivo o rastreio, dar um alerta ao identificar patologias”, afirma Roberto Coimbra, diretor-executivo da rede de farmácias Panvel. Segundo ele, é uma jornada iniciada na farmácia, pois cabe aos farmacêuticos orientar os clientes sobre o que eles têm e indicar os próximos passos — se há necessidade de ir ao pronto-socorro, consultar um médico especialista ou realizar exames complementares.
Ainda incipiente, esse serviço representa cerca de 2% do faturamento total da Panvel, mas o plano é expandi-lo. Das 600 lojas em São Paulo e nos Estados do Sul, cerca de 260 já oferecem exames, sendo que em 57 unidades são realizados todos os 15 tipos do portfólio, incluindo testes de hepatite C, sífilis, HIV, anemia, dengue, zika, PSA (próstata) e colesterol e níveis de fertilidade.
Originada da fusão da Raia com a Drogasil, com mais de três mil lojas no país, a RD Saúde fez uma pesquisa em 2018 para descobrir o que os clientes esperavam da farmácia do futuro e o resultado foi que a maioria pediu o resgate do atendimento técnico e próximo do farmacêutico do passado. “E agora acontece uma revolução, a farmácia passa a participar do sistema de saúde. Pela legislação atual, os farmacêuticos podem oferecer os primeiros cuidados, atividades de baixa complexidade”, afirma Marcilio Pousada, CEO da RD Saúde. Cerca de 1,9 mil unidades da RD Saúde oferecem testes rápidos (kits de cassete que revelam resultados positivos ou negativos), sendo que 450 lojas incluem também os exames quantitativos como hemoglobina glicada, TSH e beta HCG (gravidez). No total, são 20 tipos de exames diferentes.
Fonte: Valor Econômico