Por Fernanda Guimarães — De São Paulo
22/12/2023 05h02 Atualizado há 3 horas
O segundo ano consecutivo sem estreias na bolsa brasileira, um importante pilar na atividade de banco de investimento, deixou uma marca nas receitas das instituições financeiras que atuam no Brasil. Dados da consultoria Dealogic, que coleta dados desse mercado, mostra que as receitas (o chamado “fee pool”, no jargão do mercado) caíram 27% no ano em relação a 2022, para US$ 666 milhões, considerando os dados até o fim da primeira semana de dezembro.
A queda se dá sobre uma base já mais baixa, visto que no ano passado as receitas já tinham se retraído 42% ante 2021. Os dados abarcam as principais receitas típicas de banco de investimento: ofertas de ações, emissão de dívida local e externa e transações de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês). O valor deverá ser o mais baixo em cinco anos, ainda de acordo com a Dealogic.
Banqueiros de investimento citam que esse ambiente mais desafiador não é um fenômeno exclusivo do Brasil, diante de um cenário de juros mais altos nos Estados Unidos, o que impôs um maior grau de complexidade ao mercado. Agora, com um consenso de que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, dará partida ao ciclo de corte de juros em 2024, abre-se um cenário mais otimista para os principais ramos do negócio. “Eu vejo um ano de recuperação relevante nas receitas em 2024 em todas as linhas de banco de investimento, no mundo inteiro, e o Brasil também vai se beneficiar”, afirma o corresponsável pelo banco de investimento do Bank of America (BofA) no Brasil, Bruno Saraiva.
Segundo o executivo do BofA, o cenário construtivo para 2024 inclui a leitura de que o Brasil está bem posicionado para receber o fluxo de capital estrangeiro, o que irá irrigar as transações locais. “Na agenda local sabemos onde estão os desafios, mas estamos indo muito bem”, diz.
A entrada de capital de fora será um motor relevante para a retomada. O sócio do BTG Pactual responsável pela área de renda variável, Fabio Nazari, afirma que o cenário está dado para uma atividade mais robusta em banco de investimento, diante de uma equação entre aumento de fluxo de investidores estrangeiros para o Brasil, cenário controlado de juros nos Estados Unidos e novos cortes da Selic por aqui. O desempenho das ações listadas desde novembro, melhorando o nível de preços, começa a abrir espaço para uma retomada mais pujante do mercado acionário, o que vai ajudar a irrigar as demais áreas.
“A segurança de se ter o mercado de equities aberto traz uma série de efeitos”, comenta Nazari. Bruno Amaral, que comanda a área de M&A do BTG, diz que a relação entre os produtos é simbiótica e que a melhora do mercado vai alavancar, em paralelo, a indústria de fusões e aquisições. “Se a companhia está com a ação valorizada, ela fica mais confiante para aumentar a alavancagem e pensar em expansão inorgânica. Sabe também que poderá contar com uma oferta de ações para desalavancar. Isso afeta todas as linhas do banco de investimento, é um efeito muito benéfico”, diz.
Para o responsável pelo banco de investimento do UBS BB, Daniel Bassan, com os juros caindo a um dígito no Brasil conjuntamente com a expectativa de início de corte de taxas nos Estados Unidos, a equação aponta para uma projeção de uma atividade de banco de investimento mais saudável para 2024. “O ano de 2023 foi bom, conseguimos manter a estabilidade e ganhamos um pouco de ‘market share’ em cada produto”, afirma Bassan. Segundo o executivo do UBS, a dinâmica para 2024 já se desenha positiva, com uma posição de destaque no Brasil para receber fluxo estrangeiro, o que deve alimentar a atividade por aqui.
O responsável global pelo banco de investimento do Itaú BBA, Roderick Greenlees, afirma que existe uma fila grande de operações mirando 2024, o que enseja um olhar mais otimista. “Estamos animados para o próximo ano, que vai acabar sendo muito melhor”, afirma o executivo. Segundo ele, o segundo semestre de 2023 tinha uma expectativa maior de retomada das operações, principalmente em mercado de capitais, o que acabou sendo frustrado.
“Estamos animados para o próximo ano, que vai acabar sendo muito melhor” — Roderick Greenlees
Fábio Medeiros, que comanda o banco de investimento do Morgan Stanley no Brasil, aponta que sua estimativa é de melhora em todas as linhas de negócios para o próximo ano. “Também vamos voltar a ter IPOs e isso faz a diferença”, diz. Do lado do banco de investimento estrangeiro, Medeiros aponta que as operações com compradores de fora, as chamadas transações “cross-border”, trouxeram negócios relevantes para a casa, algo que deve se repetir no próximo ano.
Já o responsável pelo banco de investimento do Bradesco BBI, Felipe Thut, afirma que os bancos locais contaram com a atividade da renda fixa local, que ajudou a sustentar os números em 2023, crescimento que veio mesmo após um início de ano apático. “Tivemos na segunda metade do ano dois semestres em um. É um mercado resiliente e que continua crescente”, diz Thut. E para 2024, segundo o executivo, o olhar é mais otimista. “Em todas as linhas, nosso orçamento é de crescimento”, afirma.
Eduardo Miras, responsável pelo banco de investimento do Citi no Brasil, afirma que, em um ano em que o mercado de ações foi anêmico, ter uma plataforma completa ajudou a proteger os níveis de receita. “Não podemos só depender de IPO”, afirma. Para o próximo ano, Miras aponta que está “otimista, com cautela”.
Leonardo Cabral, chefe do banco de investimento do Santander Brasil, aponta que as receitas sofreram no ano, ficando a cerca de um terço do total do que foi visto em 2019, ou seja, antes da pandemia, mas que isso não foi um fenômeno exclusivo do Brasil. Segundo o executivo, as premissas são positivas para 2024, com a retomada dos IPOs e diante de uma expectativa mais pujante para M&As. “No ano, conseguimos ficar no zero a zero, tínhamos um bom ‘pipeline’ de operações e elas foram concluídas”, comenta.
O corresponsável pelo Goldman Sachs no Brasil, Ricardo Bellissi, afirma que o mercado de capitais mais ativo será um indutor para os negócios. “O mercado de capitais bem mais ativo será um vento de cauda para nós. Vemos o ano de forma bastante positiva”, frisa.
Fonte: Valor Econômico

