O governo de São Paulo admitiu nesta quinta-feira (23) que 2025 deve ser um ano “difícil” no enfrentamento da epidemia de dengue no Estado, depois que o número de casos e mortes pela doença bateu recorde no ano passado. Atualmente, 33 municípios estão com decretos de emergência vigentes, principalmente nas regiões de São José do Rio Preto e São José dos Campos.
Dados da Secretaria Estadual da Saúde mostram que o sorotipo 3 da dengue, que não tinha circulação significativa há 17 anos, passou a responder por cerca de metade das amostras coletadas, em um avanço contínuo desde o começo de 2024.
“É isso que nos angustia. Um sorotipo que não corre há mais de uma década no Estado de São Paulo e para o qual as pessoas estão extremamente suscetíveis”, declarou o secretário de Saúde, Eleuses Paiva, durante encontro com os secretários municipais de Saúde no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) assinou nesta quinta-feira um decreto criando o Centro de Operações de Emergências (COE) de combate ao Aedes aegypti, responsável pela transmissão da dengue, chikungunya e zika e anunciou repasse de R$ 228 milhões para apoiar os municípios paulistas no enfrentamento das arboviroses.
O recurso serve, por exemplo, para aquisição de inseticidas, equipamentos de nebulização portátil, medicamentos e outros insumos na rede pública.
O vírus da dengue, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, se alastrou pelo país em 2024. O Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde mostra que foram registrados 6,6 milhões de casos prováveis da doença no ano passado. As mortes confirmadas já somam 6.103, além de 761 ainda em investigação. São Paulo é o Estado com a maior quantidade de casos: 2,2 milhões de pessoas afetadas, com 2.101 mortes confirmadas e 249 óbitos sob análise. Para ter uma comparação, em 2023 foram registrados 337 mil casos e 293 mortes pela doença em 2023 no Estado.
“O que nos resta agora é combater o vetor e estruturar a rede de saúde para atender os casos que vão chegar”, afirmou o governador, que disse ter convocado os secretários municipais, alguns deles novatos, para dimensionar o problema logo no começo do ano.
A expectativa, segundo o secretário Eleuses Paiva, é o crescimento de casos de dengue grave. Todas as faixas etárias estão suscetíveis ao quadro que pode levar a óbito, mas o risco é maior em idosos, gestantes ou pessoas com comorbidades como diabetes e hipertensão arterial. Além disso, as chances de se desenvolver o quadro grave da doença são maiores quando a pessoa tem dengue pela segunda vez.
“Talvez este ano tenhamos mais casos de dengue grave, por isso que o manejo clínico é importante”, afirmou o secretário estadual aos representantes municipais. A expectativa é que o cenário melhore apenas em 2026, com a aprovação da vacina do Instituto Butantan e a distribuição em massa do imunizante. “O que vai solucionar é a vacina, eu não tenho dúvida”, disse Paiva.
O Butantan, vinculado ao governo de São Paulo, submeteu o pedido de registro da vacina da dengue à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 16 de dezembro.
Os resultados mostraram que a vacina reduziu em 79,6% o risco de um caso de dengue. Essa proteção foi ainda mais alta entre aqueles que tinham histórico prévio da doença, de 89,2%.
Caso a vacina receba o sinal verde e seja incorporada ao Programa Nacional de Imunizações, o instituto planeja disponibilizar cerca de 100 milhões de doses ao governo federal nos próximos três anos. A produção já está em curso, segundo o diretor da entidade, Esper Kallás.
Fonte: Valor Econômico