A Alpargatas, dona da Havaianas, revelou um prejuízo histórico de R$ 1,6 bilhão no quarto trimestre por causa da baixa nos investimentos feitos na Rothy’s e na Ioasys. Os contadores chamam a operação de redução ao valor recuperável do ativo, ou “impairment”.
Entre os ativos intangíveis que podem ser registrados no balanço patrimonial, como marcas, softwares e patentes, está também o curioso ágio por expectativa de rentabilidade futura. Também conhecido como “goodwill”, ele representa, grosso modo, o que foi pago além do valor contábil numa aquisição. É a crença de que essa combinação de negócios criará benefícios futuros, como aumento de receitas, redução de custos ou expansão de participação de mercado.
Nem sempre a mágica acontece. Por isso, a norma contábil diz que é preciso testá-los periodicamente para saber se continuam valendo o que dizem valer. É obrigatório fazer uma reavaliação anual, ou em período menor, se necessário, para saber se as premissas usadas no cálculo – taxas de desconto, taxas de crescimento etc. – continuam de pé. É a hora da verdade para os gestores.
A Alpargatas vinha dando sinais de problemas desde o fim de 2022, com quatro trimestres consecutivos de prejuízos, uma situação que provocou a troca do comando, em novembro. No começo do mês, veio o anúncio do quinto período de perda e dos ajustes contábeis.
Essas aquisições, especialmente os 49,9% da fabricante californiana de calçados e bolsas feitos de plástico reciclado, mexeram nos até então bem comportados índices financeiros da Alpargatas. Os indicadores de liquidez, que medem a delicada relação entre os ativos e passivos de curto prazo, “foram impactados pelo reconhecimento no passivo circulante do contas a pagar de R$ 2,4 bilhões, referente à aquisição de participação societária na Rothy’s”, diz a empresa num documento regulatório atualizado neste mês.
A compra foi anunciada no fim de 2021 e concluída em maio de 2022 por R$ 2,7 bilhões.
A Alpargatas fez um oferta de ações no início de 2022 para financiar o negócio. A captação “compensou o impacto nos índices de liquidez da companhia verificados em 31 de dezembro de 2021”, diz o documento. O efeito, no entanto, foi efêmero. No fim daquele ano, havia um saldo de caixa de R$ 663 milhões para fazer frente a empréstimos e financiamentos de R$ 1,28 bilhão.
Quando anunciou o negócio, uma incursão internacional ambiciosa, a empresa disse que a aquisição de participação societária na Rothy’s representava “um passo importante na aceleração da expansão global da Alpargatas e na consolidação de sua estratégia em ser uma powerhouse de marcas desejadas e hiperconectadas, alinhada com seus quatro pilares estratégicos: global, inovadora, digital e sustentável”.
Fonte: Valor Econômico

