A Roche planeja acelerar o ritmo de desenvolvimento de seus medicamentos contra a obesidade para enfrentar as rivais Eli Lilly e Novo Nordisk nesse mercado em expansão, depois de anunciar dados promissores sobre um comprimido para perda de peso.
Seu executivo-chefe, Thomas Schinecker, disse ao Financial Times que os primeiros medicamentos para obesidade da Roche chegarão ao mercado “bem mais rápido do que as pessoas esperam”, possivelmente até 2028.
Os tratamentos, que a Roche conseguiu com a aquisição da empresa de biotecnologia Carmot no ano passado, por cerca de US$ 3,1 bilhões, incluem um conjunto de injeções para perda de peso que estão prontas para começar os testes de fase II e um comprimido que em quatro semanas proporcionou redução de peso de 6,1% para seus usuários, em comparação com um placebo.
Schinecker afirmou que a empresa poderia ter “cerca de sete” medicamentos provenientes da aquisição da Carmot, sendo que vários estão em estágios iniciais de desenvolvimento. Ele só divulgou detalhes de três dos ativos.
Na semana passada, a divulgação dos dados a respeito de seu comprimido levaram as ações da empresa suíça a subirem 6% no mesmo dia. Os resultados também afetaram as ações da Novo Nordisk e da Eli Lilly, por causa dos temores de que a Roche pudesse contestar seu predomínio nessa área.
A expectativa de analistas do Goldman Sachs é de que o mercado de tratamentos contra a obesidade supere os US$ 130 bilhões até 2030, com várias empresas lançando medicamentos próprios.
Mas a Roche ainda tem de alcançar os dois líderes dessa área, que estão desenvolvendo medicamentos mais fortes e eficazes do que o Wegovy (Novo Nordisk) e o Mounjaro (Eli Lilly), que levaram a perdas de peso de cerca de 15% e 20%, respectivamente, em testes que duraram mais de um ano.
Outras empresas farmacêuticas, como a Boehringer Ingelheim e a Pfizer, também esperam lançar medicamentos, enquanto o preço das ações da empresa de biotecnologia dos Estados Unidos Viking Therapeutics subiu 30% na quinta-feira, depois que a empresa anunciou que colocaria um comprimido contra a obesidade nos testes de fase final.
Segundo o executivo-chefe da Roche, o escalonamento do comprimido para perda de peso da empresa será mais fácil, pois ele é produzido sinteticamente, e não com moléculas naturais vivas, conhecidas como peptídeos, como é o caso do remédio para perda de peso que está em desenvolvimento pela Novo Nordisk.
Emily Field, analista do Barclays, disse que é muito cedo para dizer se a empresa será capaz de “acabar com a vantagem que a Novo e a Lilly têm”. “Se você olhar para o que foi divulgado, esse medicamento é melhor do que praticamente qualquer outro dentro do prazo de quatro semanas. Mas há muita coisa que ainda não sabemos”, afirmou ela, ao apontar para a falta de detalhes sobre efeitos colaterais, como náuseas e vômitos.
Schinecker assumiu o cargo de executivo-chefe em março de 2023 e no último ano a Roche cortou 25% dos medicamentos que tinham baixo desempenho em termos de desenvolvimento. O grupo planeja se concentrar em um conjunto menor, mas mais promissor de medicamentos, inclusive para obesidade e Alzheimer.
“Isso cria espaço para novos começos e coisas que podemos trazer de fora, para que projetos não sejam levados por muito tempo e assim se consiga encontrar recursos que possam ser usados de forma muito mais eficaz para desenvolver novos medicamentos”, contou Schinecker ao Financial Times.
Mas esses planos da Roche foram anunciados depois de uma série de fracassos em pesquisas nos últimos anos, entre eles um teste de estágio final do medicamento tiragolumab, contra câncer de pulmão, este mês. O tratamento não foi capaz de aumentar as taxas de sobrevivência em comparação com o medicamento Keytruda, da Merck.
Schinecker disse esperar que os medicamentos para a obesidade da Roche também possam ser usados em combinação com outros tratamentos da empresa para doenças ligadas à obesidade.
Ele destacou o tratamento oftalmológico de grande sucesso da empresa, o Vabysmo, desenvolvido com sua subsidiária Genentech, que faturou 1,8 bilhão de francos suíços (US$ 2,1 bilhões) em vendas no primeiro semestre deste ano e se mostrou promissor no tratamento do edema macular diabético.
Fonte: Valor Econômico