09/05/2022 – Jornalista: JENNE ANDRADE
Xangai é a maior cidade da China, com pelo menos 25 milhões de habitantes. Além da importância para o gigante asiático, a megalópole é um importante centro financeiro global e de seus portos saem produtos para todo o mundo.
Entretanto, desde o começo de abril, o núcleo comercial se tornou quase uma cidade fantasma.
No dia 13, o país registrou recorde na taxa de contaminação por covid-19, com 27 mil novos casos em um único dia, segundo a agência de notícias oficial da China, a Xinhua.
Enquanto parte do mundo encerra as restrições mais duras, o governo chinês, seguindo a implacável política de ?covid zero?, voltou a impor lockdowns rigorosos aos moradores.
A medida ajudou a diminuir a taxa de transmissão da covid-19 no país, mas deixou como efeito colateral o risco de desaceleração da economia. Isso respinga no Brasil e coloca o Ibovespa em uma conjuntura desafiadora, pela baixa das commodities e possível menor crescimento do mundo.
Marcelo Oliveira, fundador da Quantzed, empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, explica que as restrições na China podem acarretar uma desaceleração econômica global e esse risco não deve ser descartado. ?Enquanto o mercado não tiver previsibilidade de um final, o ambiente vai continuar volátil?, diz ele.
INSTABILIDADE.
Esse cenário deixa em aberto as projeções para a bolsa brasileira. Ilan Arbetman, da corretora Ativa, afirma que ainda é cedo para apontar a direção do Ibovespa nos próximos meses. Até porque existem dúvidas quanto à confiabilidade dos dados chineses sobre a pandemia.
?São números muito baixos quando comparado a outros países. Isso suscita, por parte de especialistas, a opinião de que possivelmente os dados não são os mais transparentes.
E, quando falamos de expectativas, precisamos muito do dado, o que por si já traz incerteza?, diz Arbetman.
Outros fatores também devem trazer volatilidade ao mercado brasileiro ao longo do ano. A inflação nos Estados Unidos, que já chega aos 8,5% em 2022 ? a maior em 41 anos ?, deve provocar um aumento de juros mais agressivo e prejudicar os ativos de risco, principalmente em mercados emergentes.
Na quarta-feira, as taxas já foram elevadas em 0,5 ponto.
No cenário doméstico, o Brasil também atravessa uma conjuntura desfavorável, de juros e inflação alta, com uma eleição presidencial que se aproxima.
Nesse ambiente incerto, Arbetman ressalta que é fundamental para o investidor ir atrás de ?boas histórias?.
COMMODITIES.
O analista chama a atenção para os resultados de NeoEnergia e Equatorial, companhias do setor elétrico, que foram positivos no primeiro trimestre. ?O setor sofre mais com a alta dos juros, com a inadimplência e perda de poder de compra. Ainda assim, os resultados foram muito bons?, afirma Arbetman.
No setor de mineração, o analista afirma que ainda é cedo para avaliar, visto a influência que a China tem na área.
Mas, ainda assim, é otimista quanto aos resultados da Vale.
?Mesmo a gente vendo a produção sendo afetada pelas chuvas no Sudeste nesse primeiro trimestre, os preços de realização de minério estão acima do que prevíamos. Em termos de dividendos, a Vale vai bem.? Na Genial Investimentos, a recomendação é de compra para a VALE3, com preço-alvo em R$ 115 por ação. ?Alto preço do minério favorece os resultados, bem como remuneração ao investidor?, diz Gabriel Tinem, analista de mineração e siderurgia da corretora.
Na siderurgia, a recomendação também é de compra para os papéis da Usiminas, com preço-alvo de R$ 19; e neutra para os ativos da CSN, com preçoalvo de R$ 26. ?Ambas são bastante dependentes de aço plano, mas CSN tem o apoio de aço longo com o setor de construção civil aquecido e de cimentos, enquanto Usiminas enfrenta desafios em relação ao setor automotivo? explica o analista da Genial.
No setor de petróleo, os papéis da PetroRio (PRIO3) são recomendações de compra, enquanto as ações da Petrobras (PETR3) são mais indicadas para quem está focado em dividendos.
?A demanda de petróleo tem na China um vetor fundamental, mas as petrolíferas têm mais clientes para se desvencilhar dessa questão?, diz Arbetman.
Mas o cenário é complicado: inflação global, gatilhos de oferta que pressionam as commodities, risco de desaceleração na China e, ainda, uma eleição presidencial no radar. Para Arbetman, os problemas que atingirão a Bolsa estão muito claros.
Agora, o investidor precisará achar caminhos para passar por essa fase.
Fonte: O Estado de S.Paulo

