Por Lucianne Carneiro e Marcelo Osakabe — Do Rio e de São Paulo
28/10/2022 05h01 Atualizado há 2 horas
O mercado de trabalho brasileiro termina o terceiro trimestre em ritmo ainda forte. Além da queda da desocupação, o período viu também primeira alta da renda média do trabalhador, desde o início de 2021. Ainda assim, a perspectiva para os próximos meses segue sendo de moderação dessa dinâmica, avaliam analistas.
A taxa de desemprego no país ficou em 8,7% no trimestre encerrado em setembro, um recuo de 0,2 ponto porcentual em relação ao registrado no trimestre encerrado em agosto, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
O resultado ficou em linha com a mediana das expectativas colhidas pelo Valor, que variava entre 8,6% e 8,8%. No mesmo período de 2021, a taxa de desemprego estava em 12,6%.
Isso significa que o país tem 9,5 milhões de desempregados – pessoas de 14 anos ou mais que buscaram emprego no período, mas não conseguiram encontrar. Este é o menor contingente desde o quarto trimestre de 2015. Já a população ocupada chegou a 99,3 milhões de pessoas, recorde da série iniciada em 2012.
Segundo a coordenadora de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Adriana Beringuy, a recuperação do emprego ocorrida desde o ano passado tem sido puxada por comércio, serviços e administração pública. Apenas este último grupo contribuiu com um terço das vagas criadas no último trimestre – 291 mil postos abertos. Frente ao mesmo período de 2021, o avanço foi de 8,9%.
O movimento foi mais forte entre quem trabalha no setor público sem carteira assinada. Nesta categoria, o número atingiu 3,055 milhões de pessoas, também recorde para a série histórica.
“Esse crescimento do setor público pode estar ligado a esse processo de recomposição da estrutura necessária para fornecer esses bens públicos, saúde e educação. E além disso há o crescimento dentro da própria administração pública”, disse Beringuy, que minimizou a chance de o movimento ter influência da eleição.
“Creio que são principalmente duas forças combinadas. De um lado, há a própria recomposição de postos do setor público, De outro lado, foram criados muitos postos temporários nesses últimos meses, com destaque para os temporários contratados pelo IBGE para a realização do Censo”, avalia César Garritano, economista da Renascença.
Apesar da melhora, o país ainda tinha 23,4 milhões de trabalhadores subutilizados no terceiro trimestre. Já o contingente de trabalhadores informais bateu 39,1 milhões no fim de setembro. Apesar disso, dado que o número de vagas com carteira assinada foi maior, a taxa de informalidade da economia caiu a 39,4% no período.
Pela primeira vez desde o primeiro trimestre de 2021, houve crescimento da renda média do trabalhador na comparação anual, de 2,5%, informou também o IBGE. O movimento, no entanto, é amplamente explicado pelo arrefecimento da inflação no período, disse Beringuy.
“A gente já vinha observando ganhos no rendimento nominal, mas não em termos reais. E isso passa a ocorrer agora”, diz ela.
Apesar disso, a própria dinâmica aquecida do mercado de trabalho pode seguir dando suporte à melhora da renda do trabalhador, diz Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos. “Acreditamos que a renda real seguirá em trajetória de recuperação nos próximos meses”, escreve em comentário a clientes, lembrando que o indicador segue cerca de 4% abaixo dos níveis observados no fim de 2019.
Apesar dos bons números, a tendência de desaceleração está caracterizada, diz o economista da LCA Consultores Bruno Imaizumi. Ele nota que, entre julho e setembro, a economia criou aproximadamente 1 milhão de vagas, bem abaixo dos cerca de 3 milhões vistos no trimestre anterior.
“Essa desaceleração também começa a ficar evidente quando a olha para o Caged. O trabalho formal não vai conseguir absorver todas as pessoas que entraram para a informalidade na pandemia”, diz, ressaltando que essa era uma tendência que já se afigurava antes da crise, mas foi intensificada por ela.
Dito isso, Imaizumi nota que o mercado de trabalho tende a continuar apresentando resultados positivos nos próximos meses. Apenas os setores de alojamento, alimentação e serviços domésticos têm ainda um déficit de 500 mil vagas em relação ao cenário pré-covid, nota.
Fonte: Valor Econômico

