A presença de executivas nos conselhos de empresas no Brasil continua limitada, mas começa a apresentar leves sinais de mudança. De acordo com mapeamentos conduzidos pelo Evermonte Institute, braço de pesquisas da Evermonte Executive Search, de recrutamento executivo, o número de cadeiras ocupadas por mulheres nos colegiados de companhias de capital aberto passou de 12%, em fevereiro, para 12,9% em abril. Quase 70% delas conquistaram os assentos nos boards a partir de 2020 e a maioria ganha, em média, de R$ 15 mil a R$ 30 mil.
O novo levantamento, obtido pelo Valor, ouviu 133 conselheiros, sendo 30 mulheres e 102 homens (além de um depoimento que preferiu não informar gênero), de companhias com faturamento de até R$ 50 milhões (15,8% do total), entre R$ 50 milhões e R$ 500 milhões (26,3%), entre R$ 500 milhões e R$ 2 bilhões (28,6%), acima de R$ 2 bilhões (17,3%) e em empresas listadas na bolsa (12%). A maioria dos profissionais atua no Sudeste (65,4%) e Sul (53,4%), antes do Nordeste (13,5%), Centro-Oeste (10,5%) e Norte (3,8%).
“A maioria ou 69,8% das 30 mulheres que responderam à pesquisa ingressaram em conselhos após 2020, o que sinaliza um movimento recente de abertura”, avalia Felipe Ribeiro, sócio-fundador da Evermonte Executive Search. “Apesar disso, o desafio permanece significativo: 27% dos colegiados analisados [133] não contam com nenhuma executiva.”
De modo geral, diz Ribeiro, a presença feminina surge de forma mais visível nas corporações com faixas menores de faturamento. “A exceção pontual aparece no universo das companhias listadas, em que a parcela de conselheiras, embora limitada, é relativamente mais representativa dentro do conjunto da amostra”, analisa. “Esse dado pode refletir o impacto de pressões institucionais por diversidade e uma maior visibilidade do assunto.”
A maioria das mulheres entrevistadas tem entre 51 e 60 anos (55,2%) e construíram suas carreiras em áreas como finanças e economia (41,4%), negócios (17,2%) e recursos humanos (13,8%). Mais da metade (58,6%) se dedica a conselhos de administração e 34,5% estão em boards consultivos. A maior parte (79,3%) recebe remuneração média entre R$ 15 mil e R$ 30 mil e 51,7% estão nas posições atuais há cerca de um ou até três anos.
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Para mudar o quadro de diversidade reduzida no setor, Ribeiro diz que o primeiro passo das organizações é reconhecer que a igualdade de gênero nos conselhos está longe de ser uma realidade.
“Dar visibilidade ao tema pode fazer toda a diferença”, sugere. “O número de homens nesses espaços é mais de três vezes maior do que o de mulheres. As companhias precisam revisar critérios de nomeação, uma vez que muitos processos se baseiam em redes de relacionamento pouco diversas; e ampliar o pipeline feminino, investindo no desenvolvimento de lideranças ao longo da carreira executiva.”
Embora quase 70% das conselheiras tenham ingressado nos colegiados nos últimos cinco anos, há muito espaço para crescer, continua. “As corporações devem incluir a diversidade de gênero como diretriz de governança, com metas tangíveis, e acompanhar os indicadores de equidade com regularidade e intenção real de melhoria”.
Fonte: Valor Econômico