“Espera-se que o estado atual do setor de saúde continue a exercer pressão sobre os hospitais independentes e com elevada alavancagem financeira. Portanto, prevemos que a atividade de fusões e aquisições será retomada em 2024”, conforme analistas da instituição
PorBeth Koike
, Valor — São Paulo
Num cenário de crise no setor de saúde, com pressão por alargamento de prazos de recebimento, cancelamentos de contratos e dificuldades para credenciar novas unidades, os hospitais podem entrar numa nova fase de consolidação. Esse processo seria liderado por Rede D’Or e Bradesco Saúde (via Atlântica, empresa da seguradora que atua nessa área) e os alvos tendem a ser Dasa e Américas (rede de hospitais da Amil), além de grupos menores, segundo o Itaú BBA.
“Espera-se que o estado atual do setor de saúde continue a exercer pressão sobre os hospitais independentes e com elevada alavancagem financeira. Portanto, prevemos que a atividade de fusões e aquisições será retomada em 2024”, informam os analistas Vinicius Figueiredo, Felipe Amancio e Lucca Generali Marquezini, do Itaú BBA, em relatório. Os analistas ponderam que essas potenciais transações passarão por um escrutínio do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Os analistas fizeram uma estimativa das concentrações de mercado supondo combinações de negócios entre as quatro as companhias, considerando sempre hospitais localizados num raio de 5 km.
Em caso de uma junção da Rede D’Or com Dasa, há grande sobreposição em três cidades. No Rio, a D’Or tem cinco unidades próximas (distância de até 5 km) ao Hospital São Lucas, que pertence à Dasa. Na capital paulista, a líder do setor tem três estabelecimentos nas mesmas regiões onde estão seus concorrentes Nove de Julho, Santa Paula e Leforte Morumbi. No DF, há três hospitais da D’Or situados perto da Maternidade Brasília.
Na região onde está o Nove de Julho, no centro de São Paulo, a participação de mercado da companhia combinada é de 11%. Já nas proximidades do Santa Paula, na zona sul de São Paulo, a concentração é de 16%.
“Em nossa opinião, adquirir o negócio de diagnóstico da Dasa também faria sentido para a Rede D’Or, pois aumentaria sua integração vertical ao estar presente em todos os pontos de contato da jornada do paciente”, destacam os analistas do Itaú BBA.
Numa possível combinação entre Rede D’Or e Américas, braço de hospitais da Amil, o banco destaca que há concentração em São Paulo e Rio. Nos bairros onde estão o Samaritano Botafogo e Pró-Cardíaco, há cerca de cinco hospitais da D’Or. Há ainda outros estabelecimentos de saúde do Américas com pelo menos três hospitais da concorrente por perto, no Rio.
“Assim como a Dasa, a maioria dos hospitais do Américas está localizada em grandes cidades com alta concentração de leitos, o que também seria um ponto a ser considerado pelo Cade”, diz trecho de relatório do Itaú BBA.
O banco também estimou os ganhos de sinergia e alavancagem numa possível transação entre os players. Nesses cálculos, cada leito foi estimado em R$ 3 milhoes e uma margem Ebitda de 21% após captura de sinergias.
Supondo que a D’Or adquira 100% dos hospitais da Dasa, que tem 2,89 mil leitos operacionais, o múltiplo EV/Ebitda pós-sinergia [valor da empresa com base no Ebitda] seria de 5,3 vezes em 2024. “Se esse Ebitda incremental fosse reavaliado para a avaliação atualmente negociada da Rede D’Or (em 9,1 vezes EV/Ebitda 2024), o aumento seria de 13% em relação aos níveis atuais”, dizem os analistas. Já a alavancagem aumentaria dos atuais 2,4 vezes para 3,3.
Os analistas fazem ainda cálculos na hipótese de uma fusão, assumindo apenas uma troca de ações e prêmio de 20% sobre a cotação atual da Dasa. O EV/Ebita pós-sinergia também seria de 5,3 vezes e o endividamento subiria na mesma proporção no caso de uma aquisição.
Na hipótese da líder do setor hospitalar adquirir o Américas, o múltiplo que mensura o valor da empresa com base no Ebitda, após as sinergias, seria de 6,9 vezes em 2024. A alavancagem subiria para 3,2 vezes.
No mesmo relatório, o banco também cortou o preço-alvo de Fleury de R$ 23 para R$ 22, reiterando recomendação de compra. Também diminuiu o preço-alvo de Rede D’Or de R$ 34 para 30 e o de Dasa de R$ 15 para R$ 8, reiterando recomendação neutra para as duas.
Fonte: Valor Econômico