Rebeldes houthi do Iêmen dispararam um míssil hipersônico de fabricação iraniana que atingiu o centro de Israel ontem. Esta é a primeira vez que um ataque dos houthi, aliados do Irã e que controlam o norte do Iêmen, atinge tão profundamente o território israelense, marcando uma escalada nos ataques do grupo.
Os houthis são parte de um eixo de aliados financiados pelo Irã, ao lado do Hamas e do Hezbollah do Líbano — que também vem atacando Israel desde o início da guerra em Gaza em outubro.
O porta-voz militar dos houthis, Yahya Sare’e, disse ontem que o grupo disparou contra Israel um novo míssil balístico hipersônico que viajou 2.040 km em apenas 11 minutos e meio. “O inimigo israelense deve esperar mais ataques e operações avançadas no futuro”, afirmou ele.
Em reação ao ataque, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou ontem que Israel cobrará um “preço alto” dos houthis.
Um militar israelense disse que, após várias tentativas com sistemas de defesa aérea, o míssil foi atingido por um interceptador e se fragmentou no ar, em vez de ser completamente destruído. O míssil não atingiu seu alvo, e nenhuma vítima foi relatada. Estilhaços de interceptadores disparados para derrubá-lo caíram em uma estação ferroviária central de Israel, causando danos menores, disse.
Sirenes de ataque aéreo soaram em Tel Aviv e no centro de Israel momentos antes do impacto, por volta das 6h35, horário local, fazendo os moradores correrem para se abrigar. Estrondos altos foram ouvidos.
Pedaços do míssil caíram em áreas abertas e perto de uma estação ferroviária. Nove pessoas ficaram levemente feridas enquanto buscavam abrigo.
Os houthis têm lançado mísseis e drones contra Israel e atacado navios do Mar Vermelho por meses, em apoio a grupo islâmico palestino Hamas, envolvido em uma guerra de quase um ano na Faixa de Gaza contra forças israelenses.
“Os houthis já deveriam estar cientes de que cobramos um preço alto por qualquer tentativa de nos atacar”, disse Netanyahu em um comunicado. “Qualquer um que precise de um lembrete é bem-vindo para visitar Hodeida.”
Em julho, caças israelenses bombardearam a cidade portuária de Hodeida, controlada pelos houthis, destruindo tanques de combustível e danificando uma usina de energia. Israel atacou Hodeida em retaliação à morte de um civil israelense por um ataque de drone houthi que atingiu Tel Aviv.
Israel diz que o porto de Hodeida é uma rota essencial para o envio de armas iranianas aos houthis. Teerã nega ter armado os houthis em violação a um embargo de armas de quase 10 anos das Nações Unidas contra o grupo rebelde do Iêmen, apesar de amplas evidências em contrário.
Ao longo de 11 meses, os houthis dispararam centenas de projéteis contra Israel, segundo militares israelenses. Os ataques dos houthis a navios que atravessam o Mar Vermelho bloquearam a maior parte do acesso ao porto israelense de Eilat e se tornaram um sério desafio para a marinha mercante global, ao interromper uma rota importante, danificando navios e causando uma série de fatalidades. Uma coalizão multinacional liderada pelos EUA assumiu a liderança no combate à ameaça houthi no Mar Vermelho.
“Se aprendemos alguma coisa com a intervenção militar saudita no Iêmen, é que os houthis não são dissuasíveis por ataques aéreos”, disse Nadwa Al-Dawsari, especialista no Iêmen e pesquisadora não residente do Middle East Institute.
Novas armas. Mísseis hipersônicos podem voar pelo menos cinco vezes mais rápido que a velocidade do som e em uma trajetória complexa, tornando-os difíceis de interceptar. Em junho de 2023, o regime iraniano tornou público o que descreveu como seu primeiro míssil hipersônico de fabricação nacional.
“Temos uma resposta ainda melhor a qualquer desenvolvimento desse tipo”, disse o ministro da Defesa israelense Yoav Gallant na época, e a estatal Rafael Advanced Defense Systems, fabricante do domo de ferro, principal sistema de defesa antiaérea de Israel, anunciou que estava desenvolvendo um novo sistema para combater mísseis hipersônicos, chamado SkySonic.
Quando surgiram relatos em março de que os houthis haviam adquirido mísseis hipersônicos, o Instituto de Estudos de Segurança Nacional da Universidade de Tel Aviv foi cauteloso, observando que para que tais armas sejam usadas com sucesso é necessário “uma quantidade significativa de infraestrutura tecnológica”. O Iêmen está entre os países mais pobres do mundo.
Um estudo da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA publicado em fevereiro, diz que desde 2015 o Irã fornece aos houthis uma variedade de mísseis. O estudo nomeou um que colocaria Israel dentro do alcance: o Toofan, semelhante ao Shahab-3 do Irã, com uma ogiva de 800 quilos.
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Fonte: Valor Econômico

