Mesmo com intervenção do Banco Central (BC) no mercado de câmbio e com o dólar perdendo força globalmente na sessão de ontem, a moeda americana encerrou as negociações perto da estabilidade. Participantes do mercado esperavam que o real apresentasse performance melhor diante do leilão de swap cambial de US$ 1 bilhão, mas o desempenho da divisa brasileira foi apático, bem inferior aos pares da América Latina.
Terminadas as negociações, o dólar à vista fechou em queda de 0,02%, a R$ 5,0582. Nos mercados vizinhos, no fim da tarde de ontem, o dólar recuava 0,39% frente ao peso mexicano; 0,94% contra o rand sul-africano; 0,95% ante o peso chileno; e 0,79% em relação ao peso colombiano.
No exterior, a sessão foi marcada pela cautela e alguma apreensão em relação ao Federal Reserve (Fed, banco central americano) com mais dados de emprego reafirmando a resiliência do mercado de trabalho americano. Diante disso, o rendimento da T-note de 10 anos teve alta de 4,320% para 4,361%. O movimento das taxas lá fora teve reflexo nos juros futuros locais, que fecharam também em alta, com o contrato do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 saindo de 10,22% para 10,27%.
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Já o índice Dow Jones registrou queda de 1%, aos 39.170,24 pontos, enquanto o S&P 500 desvalorizou 0,72%, aos 5.205,81 pontos, e o Nasdaq recuou 0,95%, aos 16.240,45 ponto. O Ibovespa, no entanto, descolou e avançou 0,44%, aos 127.549 pontos, impulsionado pelas altas firmes das ações da Petrobras e da Vale.
Apesar de uma preocupação com o Fed, houve uma distensão nos mercados globais de câmbio ontem, com alguma correção após o salto do dólar nos últimos dias. Isso, no entanto, não se refletiu no mercado doméstico. O desempenho mais fraco do real ante os pares se deu mesmo com a intervenção extraordinária do BC no mercado de câmbio. A autoridade vendeu integralmente os 20 mil contratos de swap cambial, equivalente a US$ 1 bilhão.
Operadores ouvidos pelo Valor disseram ter expectativas em torno de uma reação melhor do real com o anúncio do leilão extraordinário. A frustração com o desempenho da moeda, porém, pode indicar que a pressão dos vencimentos de NTN-As não foi totalmente acomodada e pode exigir mais intervenção à frente.
Na visão do sócio e diretor de investimentos da Armor Capital, Alfredo Menezes, há duas possíveis leituras sobre a intervenção do Banco Central no câmbio. “A primeira seria o BC enviar uma mensagem ao mercado”, diz. “Ele percebeu que parte dos investidores estava se precavendo e se posicionado por conta do vencimento dos títulos atrelados ao dólar, e então interveio como se quisesse dizer ‘não se apavorem; se algo acontecer, vou intervir’.”
Essa primeira leitura é a que faz mais sentido para Menezes e, caso se mostre correta, o BC não deve fazer mais intervenções no câmbio. “Até porque o mercado não está e nem estava disfuncional, que é o requisito do BC do Roberto Campos Neto para tais medidas”, afirma. Na noite de segunda, após o fechamento do mercado a autoridade não anunciou novos leilões extraordinários.
A segunda hipótese de Menezes é a de que a autarquia tem a percepção de que os US$ 3,6 bilhões das NTN-As irão causar distorções no mercado, mas opta por operar com cautela. Por ora, o sócio da Armor diz esperar oscilações maiores do câmbio. “Eleva a volatilidade porque fica a dúvida se o BC irá intervir mais.”
Operadores disseram, ainda, que há um crescente ceticismo em relação ao bom desempenho do real. Comentários de gestores e chefes de tesourarias ontem também advogaram contra a moeda brasileira. Em evento do Bradesco BBI, por exemplo, Felipe Guerra, sócio-fundador e executivo de investimentos da Legacy Capital, e André Raduan, sócio e gestor da Genoa Capital, apresentaram dúvidas sobre o benefício do alto diferencial de juros e sobre a força do fluxo cambial. Além disso, casas como a Adam Capital adotam posições compradas em dólar contra o real.
Fonte: Valor Econômico

