Desde que a Operação Carbono Oculto deflagrou busca e apreensão na sede da Reag Capital, no fim de agosto, o grupo financeiro de João Carlos Mansur anunciou tratativas para a venda de três dos seus negócios. Nesta quarta-feira, fechou um acordo de exclusividade com a B100, holding que controla a Planner Corretora, para se desfazer da Ciabrasf, a empresa de administração de fundos e custódia, que reúne cerca de R$ 340 bilhões. Também selou com a SRM proposta para alienar a gestora de crédito Empírica, que tinha comprado no meio do ano passado.
No fim de semana, o controlador já tinha anunciado um acordo com os sócios-executivos para vender a sua participação de 87,38% na Reag Investimentos, que reúne as atividades de gestão de recursos em fundos e de fortunas, no chamado “management buyout”. Na transação, a companhia foi avaliada em R$ 100 milhões, sujeitos a parcela contingente variável ligada à receita por cinco anos. Mansur saiu totalmente do negócio.
Reag Investimentos e Ciabrasf foram alguns dos alvos Operação Carbono Oculto, em 28 de agosto, que investiga elos do crime organizado com instituições do circuito da Faria Lima, coração financeiro de São Paulo. As apurações apontaram mais de uma dezena de fundos sob administração do grupo que teriam sido usados para fins ilícitos. A Ciabrasf tem explicado que já tinha renunciado a oito deles e que foram liquidados ou transferidos a outros prestadores de serviços.
Foi a B100, holding da Planner Corretora, que assinou um protocolo de intenções para a aquisição da Ciabrasf, com 60 dias de exclusividade para avaliar o negócio. Caso a transação seja concretizada, o atual controlador deixa a companhia. A equipe da Ciabrasf seguirá atendendo os clientes da empresa. A conclusão está sujeita a processo de diligência jurídica, de compliance e contábil-fiscal, além das aprovações regulatórias de praxe.
Em administração de fundos e serviços fiduciários, a Planner reúne R$ 12,7 bilhões, um negócio muitas vezes menor do que o da empresa potencialmente a ser adquirida.
Segundo fonte próxima ao negócio, a transação não envolve a DTVM de Mansur, mas a carteira de clientes. Haverá um trabalho comercial para a conversão dos clientes para a estrutura nova. A participação de Mansur corresponde a 96,9% do capital da Ciabrasf, por meio da Reag Capital Holding e do Reag Alpha Fundo de Investimento Financeiro em ações.
Da mesma forma que a Reag Investimentos, como companhia listada na bolsa, após cisão da GetNinjas, há a obrigação legal de realizar uma oferta pública de aquisição (OPA) pelas ações dos minoritários. Não há, entretanto, intenção da B100 de tirar a empresa da bolsa, mas sim de incorporar outros negócios à empresa listada se a operação for aprovada.
As conversas começaram no fim da semana passada e a intenção é fechar dentro do prazo proposto pela “qualidade dos ativos”, segundo fonte próxima do grupo. A percepção é que o que tinha de problemático na carteira já foi identificado.
Uma atratividade da administradora de fundos de Mansur, que figura entre as maiores independentes, é a recorrência de receitas. Como base para avaliação do negócio estão as transações realizadas pela Apex, que no Brasil adquiriu a atividade fiduciária do Modal e depois da BRL.
Os valores do acordo de B100 e Ciabrasf não foram divulgados num primeiro momento.
Para a Planner, a operação se somaria aos seus negócios de corretagem, de administração e infraestrutura de serviços financeiros ao mercado de capitais e à Planner Securities, o braço americano que atua em Nova York e Miami, nos Estados Unidos.
O grupo reúne ainda a gestora de recursos Redwood, a Vorare Real Estate, e a subadquirente Accredito, sociedade de crédito direto em parceria com a Associação Comercial de São Paulo, além da Bem Fácil, também de credenciamento de cartões.
Já a SRM, gestora de fundos com atuação nas áreas de direitos creditórios, empréstimos para empresas de médio e grande porte e fintechs, assinou um memorando para a aquisição da Empírica Holding por meio da Smart Hub Participações, também com prazo de 60 dias para a realização de diligência de forma exclusiva.
O preço acordado é de até R$ 25 milhões, em seis parcelas semestrais, assunção integral das parcelas contigentes de preços devidas pela Reag Asset Managament, em virtude da aquisição da sociedade, estimadas entre R$ 36 milhões e R$ 50 milhões. As seis parcelas semestrais corresponderão, respectivamente, a 10%, 10%, 15% , 15%, 25% e 25% do preço.
Com relação à assunção de dívida, a companhia esclareceu não poder precisar o valor neste momento por se tratar de um percentual de receitas líquidas a serem apuradas em períodos futuros, entre o fim de 2026 e 2028.
A Empírica foi comprada pela Reag Investimentos em meados de 2024, após a gestora enfrentar problemas com os fundos da família Lotus. As carteiras foram fechadas para aplicações e resgates em junho de 2023, após remarcação de um dos FIDC no qual investia, o Insole Energia Solar, com recebíveis de mutuários de placas fotovoltaicas de uma empresa pernambucana que ficou insolvente. O veículo foi estruturado pela própria asset.
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Fonte: Valor Econômico

